A ictiofauna de uma praia protegida
Resumo
As praias arenosas constituem a maior parte das áreas costeiras do mundo, sendo destacadas como habitat e área de crescimento por diversos autores. Entretanto, este ecossistema tem sido relativamente pouco estudado tanto no que se refere à fauna quanto aos processos ecológicos. No presente trabalho, a ictiofauna praial do Balneário de Pontal do Sul foi estudada no período de junho de 2004 a maio de 2005, através de arrastos mensais realizados na baixa-mar diurna das marés de sizigia. Em cada momento amostral foram efetuados cinco arrastos de 30 metros de extensão, paralelos à costa e no sentido da corrente, utilizando-se de uma rede tipo picaré com dimensões de 15 m X 2,6 m e 0,5 cm de malha entre nós adjacentes e saco com 2 m de comprimento. Simultaneamente às amostragens, foram obtidos dados de temperatura e salinidade da água, altura e periodo de onda. Foram capturados 9368 peixes de 23 famílias e 53 espécies, com predominio de exemplares juvenis (98,37 %), de pequeno porte (0-100 mm). As familias mais amplamente representadas foram Carangidae e Engraulidae com 7 espécies cada, Scianidae com 6 espécies e Clupeidae com 5 espécies. As amostras foram dominadas numericamente por poucos taxa (Harengula clupeola, Trachinotus carolinus, Sardinella brasiliensis e Eucinostomus lefroyi), que em conjunto, representam 84,09% da captura total. A maioria das espécies permaneceu no ambiente praial por um curto período, sendo classificadas como acessórias ou acidentais. A sazonalidade encontrada para a ictiofauna não foi claramente correlacionada com as distintas características ambientais das estações do ano. Tal fato pode ser atribuído a variações em distintas escalas temporais dos parâmetros, abióticos mensurados, que não foram contempladas pela escala temporal utilizada ou a demais fatores (vento, oxigênio dissolvido, pH e outros), que não foram analisados. Porém, o padrão sazonal da comunidade de peixes, na zona de surfe da praia de Pontal do Sul, parece estar relacionado com os processos reprodutivos e as migrações para alimentação e recrutamento, evolutivamente sintonizado com condições ambientais favoráveis. O intervalo de maior ocorrência de individuos adultos (novembro, dezembro e janeiro), o pico de reprodução da maioria das espécies registradas (primavera e verão) e a maior ocorrência de larvas no verão, antecedem as maiores abundâncias e diversidades registradas no outono (março, abril e maio), que seriam reflexo do surgimento de novas classes anuais no processo reprodutivo e estariam aproveitando as condições favoráveis oferecidas por este ambiente para seu recrutamento.
Collections
- Oceanografia [354]