O papel da família na ocupação de terrenos urbanos em Curitiba (Jardim Icaray, 1990-2005)
Resumo
Resumo : A modernização agrícola dos anos 1970, reflexo da expansão capitalista, foi responsável pela expulsão de trabalhadores rurais e pequenos proprietários em direção às cidades, gerando um processo de urbanização crescente e desordenado. Esse morador do campo vivia com uma cultura própria, baseada na economia de subsistência e na valorização do grupo familiar, mas com o crescimento do latifúndio e da mecanização agrícola, esse modo de vida caboclo passou a ser inviável, levando à migração em direção aos centros urbanos, na busca de melhorias nas condições de vida. Esses migrantes, que em sua maioria passaram a viver nas periferias das cidades, originavam-se de diversos lugares, e passavam a criar uma identidade própria em torno de local de moradia. Adequando-se à nova realidade, muitos valores tradicionais permaneceram. Dentre eles, a valorização do grupo familiar, tanto no plano econômico quanto no plano social e moral. O processo de ocupação do Jardim Icaray, localizado na periferia da cidade de Curitiba, foi marcadamente influenciado por esta importância das relações familiares, conforme depoimentos de moradores do local. Embora a instalação na Vila Icaray tenha ocorrido como possibilidade de melhorar as condições de vida da família, deixando de pagar aluguel, a escolha do lugar foi determinada pela presença de algum familiar já residente ali. É possível notar também que essa rede de obrigações que envolve os membros do mesmo grupo familiar, estendendo-se aos vizinhos, revela-se nas trajetórias de vida levantadas, uma vez que todos contaram com a ajuda dos mesmos no momento da mudança para a invasão e para melhorar as condições do local. Assim, os depoimentos confirmaram o valor da família para os 'moradores do local, na medida em que influenciou a direção do movimento migratório para o Jardim Icaray.
Palavras-chave: migração rural-urbano; família; pobres; história oral