Caracterização do modelo de estudo de esteatose hepática alcóolica em camundongos : interação entre álcool e dieta no estabelecimento da doença
Resumo
Resumo : A esteatose hepática alcoólica (EHA) é definida como o acúmulo de lipídios no fígado ou "fígado gorduroso" e é uma característica patológica comum da metabolização hepática comprometida decorrente do consumo crônico de etanol. Embora considerada benigna e reversível, a esteatose é um fator de risco para o desenvolvimento de enfermidades hepáticas avançadas, incluindo esteatohepatite e cirrose. A princípio, a esteatose resulta do desequilíbrio no metabolismo de lipídeos, com diminuição da oxidação lipídica e síntese de triglicerídeos aumentada. Os mecanismos pelos quais o etanol induz esteatose são multifatoriais, estando envolvidos na sua patogênese a produção excessiva de espécies reativas de oxigênio (estresse oxidativo), a lipoperoxidação e a deficiência proteica ou mánutrição. A proposta deste trabalho é estabelecer um modelo de estudo para a EHA e assim compreender a interação entre o etanol e a dieta no desenvolvimento da doença. Foram utilizados 24 camundongos machos Swiss adultos provenientes do biotério do SCB da UFPR (protocolo CEEA nº 438), separados inicialmente em dois grupos (n=12) de acordo com as dietas sólidas recebidas, contendo ração hipoproteica (6% de proteína) ou normoproteica (23% de proteína). Os mesmos foram divididos novamente em dois grupos conforme a dieta líquida recebida, contendo etanol 10% ou água, e acompanhados por 6 semanas. Ao término deste período os animais foram anestesiados com cetamina e xilazina (i.p.) para colheita de sangue e fígado. Ensaios de bioquímica plasmática (Alanina aminotransferase – ALT e Aspartato aminotransferase – AST), de estresse oxidativo hepático (Superóxido Dismutase – SOD; Catalase – Cat; e Lipoperoxidação – LPO) e histologia foram realizados. Foram encontradas alterações nos níveis de ALT e AST decorrentes do tratamento e ação tóxica do etanol e também da administração da dieta no grupo hipoproteico, não havendo alterações significantes no grupo normoproteico. Os níveis de SOD e Catalase sofreram redução significativa no grupo tratado com álcool e dieta hipoproteica, redução apontada como sendo resultante da dieta e do tratamento com álcool. Os níveis de SOD foram maiores no grupo álcool-normoproteico, não apresentando alterações significativas na atividade da Cat. Já os níveis de LPO aumentados no grupo tratado com álcool e dieta hipoproteica foram apontados como sendo resultado da ação da dieta e do etanol. No grupo normoproteico, as taxas de LPO não foram diferentes estatisticamente entre os grupos água e álcool. A análise histológica do grupo hipoproteico tratado com etanol evidenciou acúmulo micro e macrogoticular de gordura nos hepatócitos, que atingiu de 10 a 50% da área do corte, e algumas vezes mais de 50%. Nas lâminas do grupo tratado com dieta hipoproteica e água também foram encontrados mínimos acúmulos de gordura, decorrentes da dieta. Já na análise histológica dos grupos normoproteicos não foram encontrados indícios de acúmulos de gordura. As diferenças obtidas nas análises de bioquímica plasmática, estresse oxidativo e na histologia corroboram a interação positiva entre etanol e deficiência de proteína na dieta no desenvolvimento da esteatose hepática.
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