Novas direitas, memória e revisionismo : como a Brasil Paralelo contou a história do regime militar
Resumo
Resumo: O principal objetivo deste trabalho é entender como a produtora Brasil Paralelo — sucesso de audiência entre as novas direitas — contou a história do regime militar brasileiro. Para isso, primeiro, discutem-se os elementos que compõem a crise do conhecimento social no mundo contemporâneo, relacionando-os com a atuação de Olavo de Carvalho e seus seguidores no debate público. Em seguida, são debatidos os principais valores que norteiam esses públicos antiestruturais e sua relação com a ascensão político-partidária do bolsonarismo, no interior de uma nova onda anticomunista. Outro objeto de atenção neste quadro de contextualização são os usos que a Brasil Paralelo faz do passado em geral, notadamente a partir de suas elaborações sobre a colonização portuguesa e a escravidão negra. Adiante, são escrutinados os principais argumentos mobilizados pela produtora especificamente sobre o regime militar acerca de diferentes temáticas, como o castelismo, a repressão, a luta armada, a censura, as vidas cultural e intelectual, as interferências estrangeiras e o golpe. Conclui-se, por fim, que, a pretexto de combater eventuais distorções e omissões da memória consolidada pelos públicos dominantes sobre o período, o que faz a produtora é produzir simplificações que subsidiam seu principal intento, que é denunciar a invasão comunista no Brasil, se não mais pelas armas, agora pelos livros, graças à hegemonia daquilo que chama de "marxismo cultural". Conforme a propaganda, a ideia seria produzir um desvelamento de verdades deliberadamente ocultadas pelas elites políticas e culturais. Trata-se de uma maneira de desqualificar a historiografia profissional, o jornalismo e as escolas — tidos como um bloco homogêneo — para ocupar seu espaço. Por outro lado, a observação das fontes revela algumas posições contraintuitivas, como a ausência de uma defesa enfática da ditadura e, mais ainda, o rechaço intransigente a instrumentos da repressão, especialmente o AI-5. Mas isso não representa exatamente uma oposição ao regime. Nota-se, inclusive, adesão significativa a postulados basilares da memória militar. Para chegar a estes resultados, foi realizada uma análise qualitativa do documentário 1964 - O Brasil entre armas e livros e de inúmeros outros vídeos, livros e artigos de blogs, entre outros produtos de personagens à Brasil Paralelo sobre o tema Abstract: The main objective of this work is to understand, after all, how the production company Brasil Paralelo — a success among the new right-wing audiences — portrayed the history of the Brazilian military regime. To do this, first, the elements that make up the crisis of social knowledge in the contemporary world are discussed, relating them to the actions of Olavo de Carvalho and his followers in the public debate. Next, the main values that guide these anti-structural audiences and their relationship with the political-partisan rise of Bolsonarism are debated within a new anti-communist wave. Another object of attention in this contextual framework is the uses that Brasil Paralelo makes of the past in general, notably from its elaborations on Portuguese colonization and black slavery. Furthermore, the main arguments mobilized by the production company specifically about the military regime regarding different themes, such as Castelism, repression, armed struggle, censorship, cultural and intellectual lives, foreign interferences, and the coup, are scrutinized. Finally, it is concluded that, under the pretext of combating possible distortions and omissions of the memory consolidated by dominant audiences about the period, what the production company does is produce simplifications that subsidize its main intention, which is to denounce the communist invasion in Brazil, if not more by arms, now by books, thanks to the hegemony of what it calls "cultural Marxism". According to the propaganda, the idea would be to produce an unveiling of truths deliberately hidden by political and cultural elites. This is a way to discredit professional historiography, journalism, and schools — seen as a homogeneous bloc — to occupy their space. On the other hand, the observation of sources reveals some counterintuitive positions, such as the absence of an emphatic defense of the dictatorship and, even more, the uncompromising rejection of repression instruments, especially AI-5. But this does not exactly represent opposition to the regime. There is even a significant adherence to basic tenets of military memory. To achieve these results, a qualitative analysis of the documentary 1964 - Brazil between weapons and books and numerous other videos, books, and articles from blogs, among other products from figures like Brasil Paralelo on the subject, was conducted
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- Teses [162]