Surdo, mudo, problemas de fala ou deficiente auditivo? Arquétipo surdo da personagem Humberto e suas implicações para o Ensino Escolar

Abstract

Resumo: O presente estudo tem por objetivo descrever e analisar o personagem Humberto da turma da Mônica, de Maurício de Sousa. O intuito é identificar a identidade surda que este personagem representa para comunidade surda. Para tanto, realizamos uma pesquisa de cunho bibliográfico em sites indexados (Capes, banco de teses e dissertações, Scielo) sobre a temática em questão. Além disso, recorremos aos dados específicos do Estúdio Turma da Mônica disponibilizados on-line, em especial, Aprendendo a falar com as mãos (2006) e Tudo sobre Humberto (2016). Os dados do levantamento bibliográfico específico revelaram três trabalhos acadêmicos que abordaram a temática do Humberto em suas investigações e nas três a análise revelou que não há um consenso sobre a identidade surda do personagem Humberto, tais dados vão ao encontro das confusões conceituais estabelecidas pela própria editora quando define Humberto. Para discussão e considerações, articulamos os dados encontrados com a literatura específica da área (PERLIN, 2002, SANTANA, BERGAMO, 2005, STROBEL, 2007, 2013), bem como os dados oficiais como a Lei 10436/2002 e o Decreto 5626/2005. Os dados revelaram uma contradição no arquétipo surdo descrito nos gibis investigados, ou seja, não se tem clareza se Humberto é surdo, deficiente auditivo, mudo ou se tem somente problemas de fala. Dessa forma, concluímos que o personagem foi criado e as narrativas desenhadas sem clareza das identidades surdas existentes no país que acompanharam as discussões mais direcionadas a visão clínica terapêutica da linguagem sem relacionar diretamente com a comunidade e cultura surda sinalizante do país. O que revela uma preocupação atual com a circulação destes gibis para crianças surdas e ouvintes em contexto escolar, já que ao não se ter clareza da identidade em questão há uma tendência em se reproduzir confusões conceituais pertencentes ao momento histórico e que perdura até hoje. Outro ponto em questão é ao uso e aplicabilidade escolar é a manutenção desses equívocos no contexto do atendimento educacional especializado. A hipótese inicial foi confirmada na possível falta de identificação da comunidade sinalizante com o personagem Humberto. Junto a isso, não encontramos pesquisas que envolveram histórias em quadrinhos aplicadas e desenvolvidas em escolas bilíngues para surdos.