Extração e análises de dados de hemoglobina glicada (HbA1c) como ferramenta para tomada de decisões estratégicas para o diabetes mellitus no Sistema Único de Saúde
Resumo
Resumo: O diabetes mellitus (DM) é um processo patológico que afeta cerca de 10% da população mundial e está associado à elevada morbimortalidade. As complicações do DM estão associadas à hiperglicemia crônica. A hemoglobina glicada, fração A1c (HbA1c), é um biomarcador que permite o diagnóstico do DM e o monitoramento da glicemia. A HbA1c corresponde à ligação irreversível e não-enzimática da glucose à resíduos de valina N-terminais das cadeias beta da hemoglobina. A HbA1 c captura a glicemia média ponderada de dois a três meses anteriores a sua dosagem. O objetivo do projeto foi extrair, processar e analisar registros centrados na determinação de HbA1c, obtidos do Laboratório Municipal de Curitiba, um laboratório terciário público vinculado à Prefeitura Municipal de Curitiba, Estado do Paraná, Sul do Brasil. Os registros, em número superior a 1.000.000, foram capturados, após aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa (CAAE 68027317.7.0000.0102) e representam o período de janeiro de 2016 a novembro de 2019. Após o crivo de critérios de inclusão/exclusão, remoção de homonímias e duplicidades, o tamanho amostral resultante de 122.852 registros foi analisado. A amostra contemplou indivíduos com faixa etária mediana de 60 anos (IQR, 48-69) e prevalência de mulheres (63,4%). A HbA1c foi quantificada por sistema automatizado, utilizando cromatografia líquida de alta performance (HPLC) com coluna de troca iônica, Variant II Turbo (BioRad Laboratories), e mostrou CVa de 1,6%. A frequência de solicitações de HbA1c cresceu, em média, 28% ao ano entre 2016-2019. A partir de 2020 este padrão se altera decorrente das implicações geradas pela pandemia de COVID-19. A HbA1c apresentou correlação (Spearman) forte com a glicemia de jejum (r=0,727; p<0,001) e fraca com a idade (r=0,329; p<0,001). A aplicação da estatística para RCV (reference change values), utilizando valor de Z-score 1,65 (unidirecional), CVa=1,6% e CVi=1,2%, resultou em RCV=4,6%. Aplicando o RCV ao valor de corte para diabetes (HbA1c >ou = a 6,5%), as concentrações entre 6,2% e 6,8% estão no intervalo de confiança de 95%. Portanto, considerando o RCV, concentrações de HbA1c iguais ou superiores a 6,2% podem indicar diabetes. A construção de uma subamostra (n=50.714), com remoção de registros de HbA1c com características de alterações em biomarcadores glicêmicos associados ao diabetes/controle glicêmico inadequado, permitiu estimar, para a amostra em estudo, o intervalo de confiança (95%) para HbA1c entre 4,7% e 6,1% (mediana 5,5%), que guarda similaridades com outros estudos em relação à mediana observada. A frequência das concentrações da HbA1c na amostra em estudo foi avaliada em múltiplos critérios de risco para o diabetes e controle glicêmico. Em destaque, as frequências de 36,1%, 27,1% e 36,8% foram associadas, respectivamente, a baixo risco ( < ou = a 5,7%), pré-diabetes (5,7% a < ou = a 6,4%) e diabetes ( >ou = a 6,5%), para o diabetes mais frequente, o tipo 2. Também foi identificado na amostra que 19,5% apresentaram controle glicêmico inadequado (HbA1c>8,0%) e 12,4%, com HbA1c>9,0%, representaram grupo de alto risco de complicações associadas ao diabetes e candidatos à terapia com insulina. Aplicando estatísticas de somas cumulativas (CuSum) e gráficos de controle de qualidade (Shewhart), foram propostos indicadores para monitorar a evolução do diabetes na população em estudo. Considerando 95% de probabilidade ( ± 2- desvios padrões), propomos que com o tratamento e obtenção da amostra em estudo, frequências anuais de HbA1c >ou = a 6,5% menores que 34,2%, HbA1c>8% menores que 15,8% e razão HbA1c >ou = a 6,5%/>8,0% menor que 1,93 são indicadores de melhora no quadro do diabetes e controle glicêmico no ambiente estudado. As análises realizadas oferecem aos gestores de saúde padrões importantes da HbA1 c na população estudada, que podem ser convertidos em conhecimento para gerar ações que possibilitem ou auxiliem novos planejamentos e otimização do controle do paciente com diabetes, associados à melhora da qualidade de vida dos afetados. A HbA1c é um biomarcador estável, com variações analítica e biológica expressivamente pequenas (CVa e CVi <2,0%), comparadas aos demais marcadores, e apresenta potencial para identificar e estabelecer indicadores para o sistema único de saúde (SUS) no monitoramento da evolução do diabetes e do controle glicêmico. Abstract: Diabetes mellitus (DM) is a pathological process that affects about 10% of the world population and is associated with high morbidity and mortality. Complications of DM are associated with chronic hyperglycemia. Glycated hemoglobin, fraction A1c (HbA1c), is a biomarker that allows the diagnosis of DM and blood glucose monitoring. HbA1c corresponds to the irreversible and non-enzymatic binding of glucose to the N-terminal valine residues of hemoglobin beta chains. HbA1c captures the weighted average blood glucose from two to three months prior to its measurement. The project objectives were extract, process and analyze records focused on the determination of HbA1c, obtained from the Municipal Laboratory of Curitiba, a public tertiary laboratory linked to the City of Curitiba, State of Parana, Southern Brazil. The registers, numbering more than 1,000,000, were captured, after approval by the Research Ethics Committee (CAAE 68027317.7.0000.0102) and represent the period from January 2016 to November 2019. After screening the inclusion / exclusion criteria, removal of homonyms and duplicities, the resulting sample size of 122,852 records was analyzed. The sample included individuals with a median age of 60 years (IQR, 48-69) and a prevalence of women (63.4%). HbA1c was quantified by an automated system, using high performance liquid chromatography (HPLC) with an ion exchange column, Variant II Turbo (BioRad Laboratories), and showed CVa of 1.6%. The frequency of HbA1c requests grew an average of 28% per year between 2016-2019. As of 2020, this pattern changes due to the implications generated by the COVID-19 pandemic. HbA1c showed a strong (Spearman) correlation with fasting blood glucose (r=0.727; p<0.001) and a weak correlation with age (r=0.329; p<0.001). The application of statistics for RCV (reference change values), using the Z-score value of 1.65 (unidirectional), CVa=1.6% and CVi=1.2%, resulted in RCV=4.6%. Applying the RCV to the cutoff value for diabetes (HbA1c > or equal to 6.5%), concentrations between 6.2% and 6.8% are in the 95% confidence interval. Therefore, considering the RCV, HbA1c concentrations equal to or greater than 6.2% may indicate diabetes. The construction of a subsample (n=50,714) with removal of HbA1c records with characteristics of alterations in glycemic biomarkers associated with diabetes/inadequate glycemic control, allowed us to estimate, for the sample under study, the confidence interval (95%) for HbA1c between 4.7% and 6.1% (median 5.5%), which has similarities with other studies in relation to the observed median. The frequency of HbA1c concentrations in the study sample was evaluated across multiple risk criteria for diabetes and glycemic control. In particular, frequencies of 36.1%, 27.1% and 36.8% were associated, respectively, with low risk ( < or equal to 5.7%), pre-diabetes (5.7% to < or equal to 6.4%) and diabetes ( > or equal to 6.5%), for the most frequent type 2 diabetes. It was also identified in the sample that 19.5% had inadequate glycemic control (HbA1c>8.0%) and 12.4% had HbA1c>9.0%, represented a high risk group for complications associated with diabetes and candidates for insulin therapy. Applying cumulative sum statistics (CuSum) and quality control charts (Shewhart), indicators were proposed to monitor the evolution of diabetes in the study population. Considering 95% probability ( ± 2-standard deviations), we propose that with the treatment and obtaining the sample under study, annual frequencies of HbA1c ? 6.5% lower than 34.2%, HbA1c>8.0% lower than 15.8% and HbA1c ratio > or equal to 6.5%/>8.0% lower than 1.93 are indicators of improvement in diabetes and glycemic control in the studied environment. The analyzes performed provide health managers with important HbA1c standards in the population studied, which can be converted into knowledge to generate actions that enable or help new planning and optimization of the control of patients with diabetes, associated with improving the quality of life of those affected. HbA1c is a stable biomarker, with significantly small analytical and biological variations (CVa and CVi <2.0%), compared to other markers, and has the potential to identify and establish indicators for the Unified Health System (SUS) in monitoring the evolution diabetes and glycemic control.
Collections
- Dissertações [201]