O príncipe e o mercenário : a sugestão de um modelo ideal, através de La Vita di Castruccio Castracane, de Nicolau Maquiavel (1518-1520)
Resumo
Resumo : Maquiavel é conhecido principalmente como um teórico político, cuja perspectiva pragmática perante a prática do poder, oriunda de uma experiência política pessoal como um magistrado e diplomata, é tomada como um marco histórico da transformação entre o pensamento político medieval e as perspectivas modernas sobre a natureza do poder. De fato, observa-se uma dissociação do pensamento de Maquiavel perante os argumentos medievais de legitimidade do poder - o bem comum, a manutenção e defesa da ordem social, a segurança das insituições políticas - e suas próprias perspectivas, baseadas na manutenção da influência política assim como das unidades políticas através de ações contraditórias perante a moralidade cristã que até então permeara todo discurso de teoria política. No entanto, observamos em Maquiavel um processo de transformação da estrutura de argumentos sobre a manutenção do poder também em si medievais - das características atribuídas aos governantes de excelência, diversas já presentes nas caracterizações mais pragmáticas da nobreza através do século XV. Mais do que uma completa ruptura, observamos um complexo processo de transformação dos argumentos assim como da perspectiva política através do discurso de Maquiavel. A pesquisa aqui detalhada explora o autor como um historiador de seu tempo, assim como de um escritor fundado pela Ars Dictaminis assim como outros modelos narrativos do Humanismo, assumindo a crítica da fonte La Vita di Castruccio Castracane da Lucca (1518- 1520) - onde observamos na figura histórica de Castruccio Castracani um príncipe perfeito perante as características atribuídas ao mesmo por Maquiavel. Entretanto, através da leitura de outras obras do mesmo autor, notamos que Maquiavel nutrira, em espaços diferentes, opiniões díspares sobre os mercenários - base de poder que considera perigosa em O Príncipe. No entanto, Maquiavel toma justamente um condotierre, Castracane, como seu príncipe perfeito - dado a seu pragmatismo político que observa em um líder mercenário astuto o controle das 'boas armas' através do qual a manutenção do poder é mais asseguradamente mantida. Para uma mais abrangente compreensão dos argumentos do autor perante a figura de seu príncipe perfeito, confrontamos argumentos de La Vita di Castruccio Castracane com citações extraídas de O Príncipe, A Arte da Guerra, e História de Florença, todas obras da pena de Maquiavel e através das quais sua perspectiva sobre o príncipe arquetípico é destilada.
Palavras-Chave: Maquiavel, Renascimento, Teoria Política.