A influência do hibridismo de lógicas institucionais no processo decisório de adoção de prática de governança corporativa : o caso Cooperativa Veiling Holambra
Abstract
Resumo: O pressuposto que origina a investigação é este: há relação entre as lógicas institucionais de campo organizacional e as decisões tomadas na adoção de práticas das organizações. Ainda assim, esta relação permanece nebulosa, quando se versam contextos institucionais híbridos. Em razão do hibridismo de lógicas institucionais, múltiplas orientações permeiam a tomada de decisão organizacional, até mesmo deflagrando conflitos e tensões no processo em que as escolhas se realizam. Portanto, este estudo visa analisar o modo como o hibridismo de lógicas institucionais influencia o processo decisório de uma organização cooperativa. Focaliza-se o processo decisório de adoção da prática de governança corporativa, por ser elemento representativo da reestruturação pela qual as organizações cooperativas estão passando. Desta forma, começa-se por realizar uma revisão da literatura do campo de processo decisório; observa-se que as principais críticas potenciam a importância de uma concepção contextualizada de racionalidade, para que os processos de decisão das organizações não sejam abarcados pelos pesquisadores como fenômenos desumanizados, imunes de características históricas e político-sociais. Propõe-se que a compreensão mais ponderada dos processos decisórios com a abordagem de lógica institucional pode ser uma forma de transpor a mera consideração dos aspectos cognitivos, chamando atenção para que se apreciem os elementos socioculturais que influenciam o processo decisório, ponderadas as múltiplas racionalidades. Em sequência, versam-se as principais formulações de mudança organizacional e institucional, de modo que bem se situe a concepção das lógicas institucionais. A mudança implicada nos processos da lógica institucional não caracteriza movimento unicamente exógeno, como também não representa apenas uma tendência endógena, mas coevolucionária. Movimentos sociais, apoiados em lógicas institucionais, são os articuladores das pressões por mudança. Posteriormente, apresenta-se a abordagem de lógicas institucionais, alegando que, entre as perspectivas existentes, o hibridismo de lógicas é reforçado, para melhor se conceberem as vantagens analíticas da proposta da lógica institucional. Por fim, expõem-se os argumentos que apoiam a opção de utilizar a organização cooperativa como objeto de aplicação empírica. A natureza híbrida desse tipo de organização e as mudanças que estariam ocorrendo no campo são enfatizadas. Mediante o método de estudo de caso qualitativo, esteado na abordagem de história oral, analisam-se os dados colhidos em documentos, entrevistas e na observação não participante. Foi possível perceber, no decorrer dos anos, que a versão da realidade, mais condizente com aspectos de lógica de corporação e mercado, emergiu das decisões da organização. Mesmo assim, a natureza híbrida da cooperativa se manifesta duradoura, por apresentar, nos episódios decisórios, a forma de princípios históricos e tradicionais de democracia, igualdade e participação, entrelaçados com metas administrativas de crescimento e aumento de eficiência e efetividade. A análise do processo decisório, na adoção da prática de governança corporativa, revela que a estrutura vem sendo praticada na organização, fundindo-se com a prática cooperativista. Em virtude do hibridismo das lógicas institucionais, fica robustecida a hipótese de que a adoção da estrutura, com separação da propriedade e controle e de mecanismos de governança corporativa, vai dar-se com a preservação dos elementos históricos e identitários do movimento cooperativista. Ademais, a investigação das dinâmicas do processo decisório permite inferir que o conselho administrativo, baseando-se na fonte de legitimidade da lógica de Estado, ratificou a prática de governança que corporifica a lógica de mercado. Neste caso, a fusão da lógica de Estado com a lógica do mercado no processo decisório resulta em prática híbrida, porquanto se preserva a democracia e a participação da sociedade no processo decisório, enquanto o controle e a formalização na cooperativa são alavancados. Abstract: The assumption that generates this research is that there is relationship among the institutional logics of an organizational field and the decisions taken in the adoption of practices in organizations. However, this relationship is still fuzzy when it comes to hybrid institutional settings. Because of hybrid institutional logics, multiple orientations permeate the organizational decision making and bring conflicts and tensions to the process in which choices are made. Therefore, the objective of this study is to analyze how hybridism in institutional logics influences the decision process of a cooperative organization. In addition, the study focuses specifically on the decisionmaking process for adopting a corporate governance practice, claiming it to be representative of the restructuring in which cooperative organizations are going through. Thus, research publications from the field of decision-making process were reviewed. The main criticisms raise the importance of a contextualized concept of rationality to avoid that decision-making processes in organizations be treated as a dehumanized phenomena and therefore immune of historical and social-political features. It is proposed that a more detailed understanding of decision-making with the institutional logic approach can be a form of transposing limited accounts with focus only on cognitive aspects. This represents a call to consider also socio-cultural factors that influence the decision making process, taking multiple rationales into consideration. The main formulations of organizational and institutional change are discussed ahead in order to situate the concept of institutional logics. The shift involved in processes of institutional logics doesn't characterize only an exogenous movement, or an endogenous tendency, but a co-evolutionary one. Social movements supported by institutional logics are responsible for the pressure for change. Subsequently, the approach of institutional logics is presented alleging that, among existing perspectives, logic hybridism is reinforced as the one that best conceives the analytical advantages of the institutional logic proposition. Finally, the arguments supporting the option for using a cooperative organization as object of empirical application are exposed. In this sense, the hybrid nature of this type of organization and the changes that are occurring in the field are recognized. The data collected from documents, interviews and non-participant observation were analyzed using a qualitative analytical approach of case study method supported by oral history. It is observed that, over the years, a version of reality more in line with aspects of corporate and market logic emerged from the decisions of the organization. However, the hybrid nature of the cooperative endures presenting itself in episodes of decisionmaking in the form of historical and traditional principles of democracy, equality and participation intertwined with increased growth and administrative efficiency targets. The decision process for adopting the corporate governance practice reveals that the structure that has been practiced in the organization is merging with the cooperative practice. The hypothesis that, because of institutional logic hybridism, the adoption of the structure based on corporate governance model will be accomplished preserving historical-identity elements of the cooperative movement, was not rejected. Moreover, the investigation on the dynamics of the decision-making process allowed inferring that the board, supported by the source of legitimacy consistent with state logic, endorsed the practice of governance that embodies market logic. In this case, blending state and market logic in decision-making process resulted in hybrid practice, with the maintenance of democracy and member participation in decision making process at the same time that more control and formalization in the cooperative is implemented.
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