Análise das propriedades reológicas e da composição proteica salivar em indivíduos com transtornos mentais

Abstract

Resumo: Indivíduos com transtornos mentais em tratamento com psicotrópicos podem sofrer alterações na saliva. A correlação entre as proteínas totais, as propriedades reológicas da saliva e a xerostomia ainda tem sido pouco estudada. O objetivo deste estudo foi analisar as propriedades reológicas da saliva, o fluxo salivar, a concentração de proteínas totais e a ocorrência de xerostomia em indivíduos com transtornos mentais sob uso de psicotrópicos. Sessenta e dois indivíduos (31 com transtorno mental internados no Hospital San Julian (Piraquara/PR) e 31 normossistêmicos foram incluídos na pesquisa. Os participantes eram adultos do sexo masculino que responderam um questionário para avaliação de xerostomia. Amostras de saliva total foram coletadas pelo método de spitting sob estimulação mecânica. O fluxo salivar foi avaliado pelo método gravimétrico. Em seguida, cada amostra de saliva foi submetida à análise das propriedades reológicas e bioquímicas para avaliação dos níveis de proteínas totais pela técnica da espectrofotometria. Os grupos foram pareados por idade com uma variação de 18 a 51 anos de idade. A pontuação média do questionário de xerostomia foi significativamente maior no grupo caso (média = 21,80; DP = ± 7,21) em relação ao controle (média = 18,77; DP = 5,25). O fluxo salivar foi menor no grupo caso, com média de 0,865 mL/min (DP = 0,729), em relação ao grupo controle, cuja média foi de 0,919 mL/min (DP = 0,435), sem diferença estatisticamente significativa entre os grupos (p = 0,069). A concentração de proteínas salivares foi significativamente maior no grupo caso (média = 0,271 g/dL; DP = 0,201) quando comparada ao controle (média = 0,182 g/dL; DP = 0,182; p = 0,006). Observou-se maior consistência da saliva no grupo caso (p = 0,065), sem diferença significativa no índice de comportamento do fluido entre os grupos (p = 0,339). Em ambos os grupos, houve correlação negativa significativa entre o coeficiente de consistência e o índice de comportamento do fluido (caso: r? = –0,6374; controle: r? = –0,4806; p = 0,010), indicando maior pseudoplasticidade nas amostras mais consistentes. Todos os indivíduos do grupo caso utilizavam medicamentos, variando de um a sete fármacos, com predominância dos antipsicóticos atípicos. A prevalência da xerostomia foi mais elevada no grupo caso, associando-se a maior pontuação no questionário e menor taxa de fluxo salivar em comparação aos controles. As propriedades reológicas e a concentração proteica também apresentaram alterações, sugerindo impacto do uso contínuo de múltiplos medicamentos sobre composição e comportamento físico-químico da saliva

Abstract: Individuals with mental disorders undergoing treatment with psychotropic drugs may experience changes in their saliva. The correlation between total proteins, the rheological properties of saliva, and xerostomia has been little studied. The aim of this study was to analyze the rheological properties of saliva, salivary flow, total protein concentration, and the occurrence of xerostomia in individuals with mental disorders using psychotropic drugs. Sixty-two individuals (31 with mental disorders admitted to San Julian Hospital (Piraquara/PR) and 31 normosystemic individuals) were included in the study. The participants were adult males who answered a questionnaire to assess xerostomia. Total saliva samples were collected by the spitting method under mechanical stimulation. Salivary flow was assessed by the gravimetric method. Then, each saliva sample was subjected to analysis of rheological and biochemical properties to assess total protein levels by spectrophotometry. The groups were matched by age, ranging from 18 to 51 years old. The mean score on the xerostomia questionnaire was significantly higher in the case group (mean = 21.80; SD = ± 7.21) than in the control group (mean = 18.77; SD = 5.25). Salivary flow was lower in the case group, with a mean of 0.865 mL/min (SD = 0.729), compared to the control group, whose mean was 0.919 mL/min (SD = 0.435), with no statistically significant difference between the groups (p = 0.069). Salivary protein concentration was significantly higher in the case group (mean = 0.271 g/dL; SD = 0.201) compared to the control group (mean = 0.182 g/dL; SD = 0.182; p = 0.006). Greater saliva consistency was observed in the case group (p = 0.065), with no significant difference in the fluid behavior index between the groups (p = 0.339). In both groups, there was a significant negative correlation between the consistency coefficient and the fluid behavior index (case: r? = –0.6374; control: r? = –0.4806; p = 0.010), indicating greater pseudoplasticity in the more consistent samples. All individuals in the case group used medications, ranging from one to seven drugs, with a predominance of atypical antipsychotics. The prevalence of xerostomia was higher in the case group, associated with higher questionnaire scores and lower salivary flow rates compared to controls. Rheological properties and protein concentration also showed changes, suggesting an impact of continuous use of multiple medications on the composition and physicochemical behavior of saliva