Resumo: A caminhada dos jovens Guarani pelas florestas, lugar onde escutam os mais velhos, as mulheres e as lideranças, auxilia nas ações que são necessárias para cuidar de sua morada e segue as pegadas de seus ancestrais. O povo Guarani é uma das etnias mais populosas do Brasil, sendo um de seus habitats a região da mata atlântica, um dos biomas mais biodiversos e, ao mesmo tempo, um dos mais ameaçados do planeta, e o que menos possui terras demarcadas. Nas últimas décadas, os jovens Guarani, dentre as gerações de seu povo, são os que tiveram maior acesso à escola e à universidade, mesmo que muito ainda tenha que avançar. Ao mesmo tempo, são eles os que mais fortemente têm sido assediados pelo sistema mundo moderno/colonial. A pesquisa objetivou compreender as formas de organização coletiva dos jovens Guarani, voltadas para a defesa do nhandereko, jeito de viver guarani e, consequentemente, a luta que realizam no cuidado da floresta e na demarcação da terra. A metodologia do trabalho envolveu o levantamento de dados sobre os coletivos de jovens Guarani no Brasil, a realização de uma pesquisa participativa com o coletivo de jovens Kunumingue ha’egui Kunhataingue Mbya Kuery do Tekoa Araxa’í, localizada no litoral estado do Paraná, na região Sul do Brasil, onde habita um dos maiores fragmentos da mata atlântica e a revisão sistemática de pesquisas que envolvem os jovens indígenas no Brasil e no mundo. As ações do coletivo foram acompanhadas desde sua fundação, em 2018, e envolveram tanto atividades internas, somente com os Guarani, quanto atividades deles junto à comunidade, e atividades fora do território. As práticas do coletivo no Tekoa contaram com atividades de canto, dança, ouvir as histórias dos mais velhos, feitura de alimentos tradicionais, pintura corporal, caminhadas por trilhas e oficinas sobre comunicação audiovisual. Já as atividades externas envolveram apresentação do coral, participação em manifestações e atos, apresentação de trabalhos acadêmicos, apoio às lutas nacionais contra o marco temporal, encontros de mulheres Guarani, de comunicadores e do Acampamento Terra Livre. Por meio da análise dos registros de campo e dos levantamentos bibliográficos, salienta-se: a dinâmica tradicional intergeracional como um dos pilares que estrutura as ações dos jovens, a prática de espaços de irradiação fora da escola para relação dos conhecimentos e a configuração de formas de produzir e visibilizar os conhecimentos dos jovens Guarani. A atuação dos jovens está ligada à continuidade das lutas daqueles que vieram antes deles, os quais têm realizado com responsabilidade o compartilhar de conhecimentos sobre a sua cultura, nos seus territórios e em espaços não indígenas, afirmando um lugar de guardiões da cultura, do território e da florestaAbstract: The walk of the Guarani youth through the forests, a place where they listen to their elders, women and leaders, helps them take the necessary actions to take care of their home and follows in the footsteps of their ancestors. The Guarani people are one of the most populous ethnic groups in Brazil, and one of their habitats is the Atlantic Forest region, one of the most biodiverse and, at the same time, one of the most threatened biomes on the planet, and the one with the least demarcated lands. In recent decades, the Guarani youth, among the generations of their people, are the ones who have had the greatest access to school and university, even though there is still a long way to go. At the same time, they are the ones who have been most severely harassed by the modern/colonial world system. The research aimed to understand the forms of collective organization of the Guarani youth, focused on defending nhandereko, the Guarani way of life, and, consequently, the struggle they carry out to care for the forest and demarcate their land. The methodology of the work involved collecting data on Guarani youth collectives in Brazil, conducting participatory research with the Kunumingue ha’egui Kunhataingue Mbya Kuery youth collective from Tekoa Araxa’í, located on the coast of the state of Paraná, in the southern region of Brazil, where one of the largest fragments of the Atlantic Forest lives, and systematically reviewing research involving indigenous youth in Brazil and around the world. The collective’s actions have been monitored since its founding in 2018 and have involved both internal activities, with the Guarani alone, and activities with the Guarani community, as well as activities outside the territory. The collective’s practices in Tekoa included singing, dancing, listening to stories from elders, making traditional foods, body painting, hiking trails, and workshops on audiovisual communication. External activities involved choir performances, participation in demonstrations and events, presentation of academic papers, support for national struggles against the temporal landmark, meetings of Guarani women, communicators, and the Acampamento Terra Livre. Through the analysis of field records and bibliographical surveys, the following stand out: the traditional intergenerational dynamics as one of the pillars that structure the actions of young people, the practice of irradiation spaces outside of school for the sharing of knowledge, and the configuration of ways of producing and making visible the knowledge of young Guarani people. The actions of young people are linked to the continuity of the struggles of those who came before them, who have responsibly shared knowledge about their culture, in their territories and in non-indigenous spaces, affirming their place as guardians of culture, territory, and the forest