Fazer da vida a máxima poesia : escrita, pensamento e ação na trajetória de Simone Weil

Abstract

Resumo: A trajetória de Simone Weil (1909-1943) é permeada por uma série de criações, experimentações e recusas, todas registradas em sua obra. A filósofa francesa escreveu e realizou ações sobre si e o seu tempo indissociáveis de um modo de vida que se deu a partir de influências diretas e indiretas. Esta pesquisa tem como objetivo investigar seu percurso enquanto pensadora do início do século XX pela problematização do gênero e de suas possibilidades criativas pela escrita. Temos como interesse identificar as condições históricas de gênero contemporâneas à vida de Simone Weil, como se deu a construção da sua subjetividade singular e autônoma em relação aos discursos de gênero e como articulou estes processos em sua escrita e vida. Através desses direcionamentos, investigamos aspectos de sua dissidência de gênero e sexualidade, a entender os caminhos e conflitos encontrados por ela para existir por meio de sua própria criação e em confronto com as categorias de gênio e de intelectual. Destacamos nesse encontro com o gênero, a descriação, palavra-ação apropriada em nossa perspectiva feminista, como uma desarticulação do gênero, da mulheridade e das categorias limitadoras/normativas do ser/viver/ existir. No contato com as escritas de si elaboradas nos cadernos, nas cartas e nos diários, investigamos o fazer-se em Simone Weil enquanto uma obra de arte e poesia máxima, acarretando riscos, ambivalências e contradições de uma trajetória intensa que se fez acompanhar de uma produção pluralista. Recorrendo à história das mulheres e aos estudos de gênero, procuramos acompanhar suas andanças pelo mundo com objetivo de compreender a importância do movimento em sua trajetória e em seu pensamento, as suas diferentes experiências de viajante e as condições materiais e afetivas de seus deslocamentos. Simone Weil se fez em um movimento de pensamento autônomo que teve origem ainda na infância, mas não se fez sozinha e distante do mundo. Esta tese não compartilha com representações de santidade, nem de excepcionalidade. Simone Weil foi uma pessoa profundamente atenta ao tempo e à realidade e se apropriou de referências passadas e presentes para construir um pensamento singular sobre diferentes temas, mas sempre em atenção a si, aos outros e ao seu tempo.

Abstract: Simone W eil’s (1909-1943) trajectory is marked by a series of creations, experiments, and refusals, all recorded in her work. The french philosopher wrote and carried out actions about herself and her time that were inseparable from a way of life based on direct and indirect influences. This research aims to investigate her journey as a thinker of the early 20th century by problematizing gender and the creative possibilities it offers through writing. We are interested in identifying the historical conditions of gender contemporary to Simone W eil’s life, how her unique and autonomous subjectivity was constructed in relation to gender discourses, and how she articulated these processes in her writing and life. Through these guidelines, we investigate aspects of her gender and sexuality dissidence, seeking to understand the paths and conflicts she encountered in order to exist through her own creation and in confrontation with the categories of genius and intellectual. In this encounter with gender, we highlight decreation, a word-action appropriate to our feminist perspective, as a disarticulation of gender, womanhood, and the limiting/normative categories of being/living/existing. In contact with her writings in notebooks, letters, and diaries, we investigate Simone W eil’s development as a work of art and ultimate poetry, carrying the risks, ambivalences, and contradictions of an intense trajectory accompanied by a pluralistic production. Drawing on women’s history and gender studies, we seek to follow her travels around the world in order to understand the importance of movement in her trajectory and thinking, her different experiences as a traveler, and the material and emotional conditions of her journeys. Simone Weil developed an autonomous way of thinking that originated in her childhood, but she did not do so alone and apart from the world. This thesis does not share representations of holiness or exceptionality. Simone Weil was a person deeply attentive to her time and reality, and she appropriated past and present references to construct a unique way of thinking about different themes, but always with attention to herself, others, and her reality.

Résumé: Le parcours de Simone Weil (1909-1943) est marqué par une série de créations, d’expérimentations et de refus, tous consignés dans son reuvre. La philosophe française a écrit et réalisé des actions sur elle-même et sur son temps, indissociables d’un mode de vie issu d’influences directes et indirectes. Cette recherche a pour objectif d’étudier son parcours en tant que penseuse du début du XXe siècle à travers la problématisation du genre et de ses possibilités créatives dans l’écriture. Nous souhaitons identifier les conditions historiques du genre contemporaines de la vie de Simone Weil, comment s’est élaborée sa subjectivité singulière et autonome par rapport aux discours sur le genre et comment elle a articulé ces processus dans son écriture et sa vie. À travers ces orientations, nous étudions les aspects de sa dissidence en matière de genre et de sexualité, afin de comprendre les chemins et les conflits qu’elle a rencontrés pour exister à travers sa propre création et en confrontation avec les catégories de génie et d’intellectuel. Nous soulignons dans cette rencontre avec le genre la décréation, mot-action approprié dans notre perspective féministe, comme une désarticulation du genre, de la féminité et des catégories restrictives/normatives de l’être/vivre/exister. En nous référant aux écrits qu’elle a réalisés dans ses cahiers, ses lettres et ses journaux personnels, nous explorons la construction de Simone Weil en tant qu’reuvre d’art et de suprême poésie, avec les risques, les ambivalences et les contradictions d’un parcours intense qui s’est accompagné d’une production pluraliste. En nous appuyant sur l’histoire des femmes et les études de genre, nous cherchons à suivre ses errances à travers le monde afin de comprendre l’importance du mouvement dans son parcours et sa pensée, ses différentes expériences de voyageuse et les conditions matérielles et affectives de ses déplacements. Simone Weil s’est construite dans un mouvement de pensée autonome qui a pris naissance dès son enfance, mais elle ne s’est pas construite seule et loin du monde. Cette thèse ne partage pas les représentations de sainteté ou d’exceptionnalité. Simone Weil était une personne profondément attentive au temps et à la réalité et s’est approprié des références passées et présentes pour construire une pensée singulière sur différents thèmes, mais toujours en étant attentive à elle-même, aux autres et à son époque.