A terra, o trabalho e a natureza na construção do Brasil do século XIX : André Rebouças e Visconde de Taunay

Abstract

Resumo: Investiga-se nessa tese as relações e projetos sobre a propriedade da terra, as tensões entre trabalho livre e trabalho cativo e a natureza brasileira durante o século XIX em dois autores, André Rebouças e Visconde de Taunay. Para tanto, reúne-se documentos produzidos a partir da Independência em 1822, que fundaram os debates nacionais relativos às questões, tais como manuais de agricultura, discursos políticos e tratados de três autores do período, José Bonifácio, Antônio Pereira Rebouças e Carlos Taunay; estes autores alicerçaram os debates sobre os temas nos dois autores principais. Em seguida, procura-se entender como os eventos principais do período em que atuaram André Rebouças e Visconde de Taunay direcionaram suas investigações e projetos, com destaque para a Guerra do Paraguai. Conclui-se que eles atuaram na tentativa de ordenar o capitalismo brasileiro em bases como o trabalho livre, a assimilação indígena, a imigração europeia, a propriedade da terra em pequenos lotes rurais e o uso racional dos recursos naturais visando potencializar suas características inatas; porém, subjaz a eles o princípio de que era necessário modificar o mundo natural de modo irreversível, haja visto que as relações já estabelecidas com o meio eram tidas como atrasadas. Assim, é latente uma tensão nesses dois autores entre a valorização do meio natural e necessidade de romper os elos culturais estabelecidos, seja entre indígenas, caboclos ou fazendeiros, pois ao dar muito e exigir pouco, estabelecia-se uma "rotina de preguiça" (indígenas e caboclos) ou superexploração (latifundiários e escravos). A imigração exclusivamente europeia era então tomada como solução para romper esses elos para que as forças produtivas fossem liberadas

Abstract: This thesis investigates the relations and projects concerning land ownership, tensions between free labor and captive labor, and brazilian nature during the 19th century in two authors, André Rebouças and Visconde de Taunay. For this purpose, documents produced from Independence in 1822 that founded national debates related to these issues are gathered, including agricultural manuals, political speeches, and treatises by three authors of the period: José Bonifácio, Antônio Pereira Rebouças, and Carlos Taunay; these authors laid the foundation for debates on these themes in the two main authors. Subsequently, the research attempts to understand how the main events of the period in which the authors operated directed their investigations and projects, with emphasis on the Paraguayan War. It is concluded that André Rebouças and Visconde de Taunay acted in the attempt to organize Brazilian capitalism on foundations such as free labor, indigenous assimilation, European immigration, land ownership in small rural plots, and rational use of natural resources aimed at maximizing their innate characteristics; however, underlying them is the principle that it was necessary to modify the natural world irreversibly, given that the relations already established with the environment were considered backward. Thus, there is a latent tension in these two authors between the valorization of the natural environment and the need to break established cultural bonds, whether among indigenous groups, caboclos, or farmers, because by giving much and demanding little, a routine of laziness (indigenous and caboclos) or overexploitation (landowners and slaves) was established. Exclusively european immigration was then taken as the solution to break these bonds so the productive forces could be liberated