Quem gosta de axé music? : um ensaio sobre festa e política, recepção crítica e invenção sonora afro-brasileira (1974-1996)
Resumo
Resumo: Esta dissertação tem como objetivo tratar do movimento cultural popularmente conhecido como axé music, apontando sua importância histórica, política e artística para a cidade de Salvador (BA) e, consequentemente, para o Brasil. O recorte histórico escolhido parte de 1974, ano da fundação do primeiro bloco afro, o Ilê Aiyê, e segue até o ano de 1996, momento em que, pode-se dizer, há um arrefecimento de algumas das forças propulsoras do movimento, como a predominância da percussão afro-brasileira e dos temas de afirmação da negritude, em nome de um momento de maior assentamento no mercado de entretenimento. Durante esse arco temporal, a axé music conseguiu, em um primeiro momento, estabelecer um mercado autônomo em torno da ideia de festa do Carnaval de Salvador, e, em um segundo, tornar-se um fenômeno popular de imensa ressonância em todo o país sem vincular se aos parâmetros estéticos da crítica do eixo Rio-São Paulo, em um singular abalo na hegemonia simbólica desse centro, chegando a entrar no circuito internacional da world music. Pensando a crítica como um exercício que preconiza modelos de gosto e participa do estabelecimento de cânones, pretendeu-se analisar como essa produção foi recepcionada ou silenciada. Para isso, foi necessário, também, analisar panoramicamente os diferentes períodos da crítica no Brasil para dar relevo a certas marcas de sua constituição. Para a discussão bibliográfica, partimos da ideia de nova história de Peter Burke (1992) e do tensionamento da hegemonia moderna europeia de Bruno Latour (1994) para chegarmos em lentes contemporâneas, como de Goli Guerreiro (2000), Muniz Sodré (2017), Agnes Mariano (2019), Leda Maria Martins (2021), Edimilson de Almeida Pereira (2023) e Antônio Bispo (2023). As principais fontes de análise da crítica foram a revista Bizz (posteriormente ShowBizz) e os jornais Folha de São Paulo e Jornal da Tarde. Tomando partido da força estética da axé music, arriscamos também produzir crítica, comentando e contextualizando canções e álbuns a partir da escuta e da consulta da ficha técnica de fonogramas. Isso porque quando se trata de abordar fenômenos populares não canônicos, pouco estudados e analisados, parafraseando Rodrigo Naves (2011), estamos todos meio que fadados a ser também críticos para chegarmos a ser historiadores Abstract: This dissertation aims to address the cultural movement popularly known as axé music, highlighting its historical, political, and artistic importance for the city of Salvador, Bahia, and, consequently, for Brazil. The chosen historical framework begins in 1974, the year was founded the first bloco afro, Ilê Aiyê, and continue until 1996, a period in which, arguably, some of the movement's driving forces, such as the predominance of Afro-Brazilian percussion and themes of affirmation of blackness, began to wane, prompting a period of greater entrenchment in the entertainment market. During this period, axé music initially established an autonomous market around the idea of party in Salvador’ s Carnival, and then became a popular phenomenon with immense resonance throughout the country, untethered by the aesthetic parameters of the Rio-São Paulo axis, in a singular shakeup of this center's symbolic hegemony, eventually entering the international world music circuit. Considering criticism as an exercise that advocates models of taste and participates in the establishment of canons, the aim was to analyze how this production was received or silenced. To this end, it was also necessary to analyze the different periods of criticism in Brazil in a panoramic manner to highlight certain hallmarks of its formation. For the bibliographical discussion, we depart from Peter Burke's (1992) idea of a new history and Bruno Latour's (1994) tensioning of modern European hegemony to arrive at contemporary lenses, such as those of Goli Guerreiro (2000), Muniz Sodré (2017), Agnes Mariano (2019), Leda Maria Martins (2021), Edimilson de Almeida Pereira (2023), and Antônio Bispo (2023). The main sources of critical analysis were Bizz magazine (later ShowBizz) and the newspapers Folha de São Paulo and Jornal da Tarde. Taking advantage of the aesthetic power of axé music, we also risked producing criticism, commenting on and contextualizing songs and albums based on listening to and consulting the technical data of phonograms. This is because when it comes to approaching non-canonical, little studied and analyzed popular phenomena, paraphrasing Rodrigo Naves (2011), we are all somewhat destined to also be critics in order to become historians
Collections
- Dissertações [266]