Entre memórias, lutas e sonhos : a construção da reforma agrária popular na comunidade agroflorestal José Lutzenberger em Antonina

Abstract

Resumo: Esta pesquisa propõe investigar as trajetórias de vida das agricultoras e agricultores da Comunidade Agroflorestal José Lutzenberger, localizada em Antonina, PR, território atravessado pela experiência da luta por reforma agrária e da conquista da terra. A Reforma Agrária Popular tem sido defendida pelo Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) nos últimos anos, com pautas que vão muito além da redistribuição de terras, incluindo e reivindicando a importância do modo de produção agroecológico para a busca da autonomia nos assentamentos rurais. Esta pesquisa aborda as memórias e os sonhos destas pessoas. A construção metodológica da pesquisa se deu num processo indutivo: a partir da aproximação com a Comunidade pôde-se ouvir as vozes e as demandas trazidas, e assim iniciar a compreensão das complexidades e singularidades deste lugar. Neste sentido, optouse pela Pesquisa Qualitativa. Como metodologias optou-se pelo uso de diário de campo, entrevistas semiestruturadas de história oral. Para análise dos dados se utilizou da análise de conteúdo. Este estudo permitiu uma análise profunda do papel da agroecologia como uma estratégia de resistência e transformação no campo, na Comunidade Agroflorestal José Lutzenberger. A trajetória de luta pela terra dessa comunidade reflete a resistência histórica do campesinato brasileiro, marcado pela marginalização dos trabalhadores rurais e pelo perfil migratório das famílias assentadas, muitas das quais percorreram grandes distâncias até se estabelecerem no litoral paranaense. Os relatos das famílias evidenciam que a conquista e a permanência nesse território foram possíveis graças ao conhecimento ancestral e à organização coletiva, que se mostraram fundamentais para enfrentar os desafios impostos pelo ambiente e pelo modelo agrícola dominante. A agroecologia, mais do que um meio de produção, revelou-se essencial para o fortalecimento da identidade camponesa na comunidade. Ao promover a autonomia, conservação ambiental e práticas solidárias, a agroecologia ressignifica a relação dos agricultores com a terra, garantindo a segurança alimentar e a sustentabilidade

Abstract: This research aims to investigate the life trajectories of farmers in the José Lutzenberger Agroforestry Community, located in Antonina, Paraná, a territory steeped in the struggle for agrarian reform and land acquisition. The Landless Workers' Movement (MST) has championed Popular Agrarian Reform in recent years, with agendas that go far beyond land redistribution, including and asserting the importance of agroecological production for the pursuit of autonomy in rural settlements. This research explores the memories and dreams of these people. The research methodology was inductive: by approaching the community, we were able to hear their voices and address their demands, thus beginning to understand the complexities and uniqueness of this place. Therefore, qualitative research was chosen. Field diaries and semi-structured oral history interviews were used as methodologies. Content analysis was used for data analysis. This study enabled an in-depth analysis of the role of agroecology as a strategy for resistance and transformation in the countryside of the José Lutzenberger Agroforestry Community. This community's struggle for land reflects the historical resistance of Brazilian peasantry, marked by the marginalization of rural workers and the migratory profile of settled families, many of whom traveled great distances to settle on the coast of Paraná. The families' accounts demonstrate that the conquest and permanence in this territory were made possible by ancestral knowledge and collective organization, which proved fundamental to facing the challenges posed by the environment and the dominant agricultural model. Agroecology, more than a means of production, proved essential for strengthening peasant identity in the community. By promoting autonomy, environmental conservation, and solidarity practices, agroecology redefines the relationship between farmers and the land, ensuring food security and sustainability