Berenguela de Castela e a afirmação do poder monárquico no contexto da unificação dos Reinos de Castela e Leão (1217 – 1236)

Abstract

Resumo: A presente tese pretende analisar o papel desempenhado por Berenguela de Castela, primogênita de Alfonso VIII e de Leonor Plantageneta, no contexto das transformações do poder régio que marcaram os reinos de Castela e Leão nos séculos XII e XIII. Trata-se de um período caracterizado por um movimento generalizado de busca pela consolidação do poder monárquico frente a uma nobreza poderosa em toda a Cristandade Latina. Assim, a pesquisa se orienta por uma questão central: de que maneira Berenguela se inseriu no processo de afirmação do poder régio, especialmente no contexto da unificação dos reinos em 1230 e, posteriormente, na legitimação desse evento? Buscamos compreender como os discursos e práticas de legitimação da autoridade régia atravessaram a trajetória da rainha e de que forma ela os mobilizou para manter-se no poder e consolidar sua posição naquele cenário político. Inicialmente, abordamos o tema da sucessão régia, dada a posição social de Berenguela como herdeira do trono castelhano em diferentes momentos de sua vida. Refletimos sobre sua decisão de transferir a coroa a seu filho, Fernando III, ato que representou o ponto de partida do projeto político castelhano de unificação dos reinos. Em seguida, analisamos as disputas que exigiram ações concretas para viabilizar essa unificação, refletindo sobre como Berenguela atuou para manter seu poder, assegurar a sucessão do filho em Leão e preservar a autonomia do reino de Castela. Investigamos, ainda, as novas estratégias adotadas por ela para continuar administrando o reino unificado ao lado de Fernando III, bem como sua inserção, e a de Castela, na tradição leonesa neogoticista, que foi atualizada conforme o novo contexto político da unificação com o objetivo de fortalecer a autoridade régia e justificar a união de diversos territórios sob um mesmo governo. A análise fundamenta-se em documentos contemporâneos à rainha, como as crônicas latinas, com destaque para a Chronicon Mundi, elaborada sob seu patrocínio. Para concluir o propósito investigativo estabelecido, este trabalho se apoia nas perspectivas teóricas e metodológicas da História das Mulheres articuladas aos fundamentos da Nova História Política. Os resultados da investigação indicam que a sucessão feminina representou um recurso pragmático crucial para a continuidade dinástica e a manutenção da integridade dos reinos. Evidenciam, ainda, que Berenguela desempenhou um papel central na formulação dos pressupostos ideológicos que sustentaram o projeto político da monarquia castelhano-leonesa: um processo de unificação e de centralização do poder que, longe de refletir um desejo coletivo ou um projeto nacional consciente, foi permeado por incertezas, disputas e tensões

Abstract: This thesis aims to analyze the role played by Berenguela of Castile, the eldest daughter of Alfonso VIII and Eleanor Plantagenet, in the context of the transformations in royal power that marked the kingdoms of Castile and León during the 12th and 13th centuries. This was a period characterized by a widespread movement seeking to consolidate monarchical power in the face of a powerful nobility throughout Latin Christendom. The research is guided by a central question: how did Berenguela participate in the process of affirming royal power, particularly in the context of the unification of the kingdoms in 1230 and, subsequently, in the legitimization of this event? We seek to understand how the discourses and practices of legitimizing royal authority permeated the queen's trajectory and how she mobilized them to remain in power and consolidate her position within that political landscape. Initially, we address the theme of royal succession, due to Berenguela's social position as heir to the Castilian throne at various points in her life. We reflect on her decision to transfer the crown to her son, Ferdinand III, an act that represented the starting point of the political project to unify the kingdoms. We then analyze the conflicts that demanded concrete actions to enable this unification, examining how Berenguela acted to maintain her authority, ensure her son's succession in León, and preserve the autonomy of the Kingdom of Castile. We also investigated the new strategies she adopted to continue administering the unified kingdom alongside Ferdinand III, as well as her integration, and that of Castile, into the Leonese neo-Gothicism tradition, which was reinterpreted considering the new political context of unification. This served to strengthen royal authority and to justify the union of multiple territories under a single government. The analysis draws on contemporary sources, such as Latin chronicles, with particular emphasis on the Chronicon Mundi, produced under her patronage. To fulfill the proposed research objective, this study adopts the theoretical and methodological frameworks of Women’s History, in articulation with the foundations of the New Political History. The findings indicate that female succession functioned as a crucial pragmatic mechanism for ensuring dynastic continuity and preserving the integrity of the kingdoms. They also show that Berenguela played a central role in formulating the ideological foundations that supported the political project of the Castilian Leonese monarchy process of unification and centralization of power that, far from reflecting a collective will or a conscious national project, was marked by uncertainty, conflict, and negotiation