Lutos vividos por crianças : uma ciranda teórica entre psicologia, fenomenologia e decolonialidades
Resumo
Resumo: Este trabalho teórico reúne saberes da psicologia, da fenomenologia e das decolonialidades em uma ciranda que, por meio de seus giros, busca descolonizar nossas pesquisas e compreensão sobre as experiências de lutos vividos por crianças. Problematizando as lacunas encontradas no estado da arte da ciência psicológica que investiga esses lutos, perguntamos: Quais são as condições de ocultamento pela psicologia dos lutos vividos por crianças? Nosso objetivo geral é explicitar a existência e os modos de alguns desses ocultamentos produzidos pela psicologia no Brasil, tendo como objetivos específicos, primeiramente, visibilizar a presença de lacunas no conhecimento acerca dos lutos vividos por crianças, uma vez que permanecem encobertas por nosso pacto com a colonialidade, e, num segundo momento, salientar alguns dos engendramentos epistemológicos, ontológicos e coloniais dessas lacunas. Para tanto, nosso interrogar foi amparado pela epistemologia da carne do último Merleau-Ponty, aterrada no território do Brasil e tensionada por influência dos gestos de descolonização de intelectuais da Améfrica Ladina como Enrique Dussel, Conceição Evaristo, Joel Rufino e Geni Núñez. Nomeamos este movimento de "caminhar para as origens", método criado para este trabalho a fim de que pudéssemos colocar em figura o que a colonialidade invisibiliza em nossa compreensão sobre a experiência da criança enlutada. Percorrendo o caminho aberto por este método, apontamos a necessidade de criação de uma memória para a psicologia do luto a respeito da escravização e colonização no Brasil. Sugerimos também que a psicologia pactua com a colonialidade e encobre experiências de crianças enlutadas quando assume a universalização do conceito de morte da criança, quando se mantém alinhada à tradição des-envolvimentista sustentando-se nas compreensões teleológicas do luto e do ser criança, quando utiliza o discurso sobre diversidade sem consideração das desigualdades e quando patologiza essas experiências de luto com base em saberes hegemonicamente estabelecidos, conforme os valores da colonização. Em contrapartida, propomos um exercício de agachamento fenomenológico decolonial, aterrando elementos da fenomenologia de Merleau-Ponty nas raízes dos valores afro-civilizatórios que estão presentes em nosso território, segundo Azoilda da Trindade. Neste exercício, destacamos a necessidade de novos giros dessa ciranda que considerem a experiência de crianças enlutadas por meio do cooperativismo, da memória e da corporeidade Abstract: This theoretical work brings together psychological, phenomenological, and decolonial knowledge into a Ring around the rosie whose turns aim to decolonize our research and understanding of the lived experience of bereaved children. Problematizing the gaps found in the research landscape of psychological science that investigates these experiences of grief, we ask: What are the conditions of concealment of the lived experience of bereaved children within psychology? Our main objective was to make explicit the existence and modes of some of these concealments produced by the psychology in Brazil, with specific objectives of, firstly, to make visible the presence of gaps in knowledge about the grief lived by children, as it remains covered up by our pact with coloniality, and secondly, to highlight some of the epistemological, ontological and colonial engenderings of these gaps. To this end, our interrogation was supported by the epistemology of the flesh from the later Merleau-Ponty, rooted in Brazilian territory and tensioned by the influence of the decolonial gestures of Améfrica Ladina intellectuals such as Enrique Dussel, Conceição Evaristo, Joel Rufino, and Geni Núñez. We named this movement "the journey to the origins," a method created for this work that allows us to give shape to what coloniality renders invisible in our understanding of the experience of the bereaved child. Following the path opened by this method, we point to the need for the creation of a memory for the psychology of grief concerning enslavement and colonization in Brazil. We also suggest that psychology makes a pact with coloniality and conceals the experience of bereaved children when it assumes the universalization of the concept of death in children, when it remains aligned with the develop-mentalist tradition sustained by teleological comprehensions of grief and of child’s being when it makes use of the discourse about diversity without considering inequalities, and when it pathologizes these grief experiences based on hegemonically established knowledge, following the values of colonization. On the other hand, we propose an exercise of decolonial phenomenological squatting, grounding elements of Merleau-Ponty’s phenomenology in the roots of Afro-civilizational values present in our territory, as pointed out by Azoilda da Trindade. In this exercise, we highlight the need for new turns in this Ring around the rosie that consider the experience of bereaved children through the perspective of cooperation, memory, and corporeality
Collections
- Dissertações [284]