Ler Nietzsche desde o Brasil, falar dos Brasis desde Nietzsche

Abstract

Resumo: Trata-se nesta dissertação de contribuir para o crescente debate na academia brasileira de filosofia acerca de nossa relação com a tradição filosófica ocidental a partir da tematização da questão "ler Nietzsche" no Brasil. Para tanto, o primeiro capítulo contextualiza a discussão acerca do estatuto da filosofia nacional e demonstra a relevância da questão "ler Nietzsche" para tal debate; o segundo apresenta, a partir de uma compreensão genealógica do desenvolvimento do sentido atual de Nietzsche no Brasil a partir das apropriações – vontade de poder – de seus textos em território brasileiro, uma breve e incompleta retomada da história dessa recepção, precisamente para demonstrar como é rica nossa herança quanto se trata de formas de ler Nietzsche, o que constitui hoje nossa maturidade para uma leitura ideal; possibilitando que no terceiro capítulo se apresente o argumento central, baseado no perspectivismo nietzschiano e na forma como este impossibilita a própria pretensão universalista da filosofia ocidental, acerca não apenas da possibilidade, mas da necessidade de se ler Nietzsche de forma perspectivista e apropriativa, a partir da própria localização histórico geográfica do leitor e dos interesses correspondentes a essa situação existencial, uma vez que se, para Nietzsche, todo conhecimento se dá desde uma perspectiva que o determina, também o conhecimento de sua obra não se pode dar de maneira objetiva, desinteressada, mas sim, sempre, de maneira perspectivista, e, de preferência, levando em conta o máximo de pontos de vista para permitir o melhor conhecimento perspectivo daquilo que se conhece (GM III, 12). Tal argumento fortalece uma proposta interpretativa de cunho apropriativo para nossa relação com os filósofos mais importantes da tradição ocidental. Por fim, no quarto e último capítulo, trata-se, de forma mais propositiva, de explicitar a contribuição do perspectivismo nietzschiano para a filosofia brasileira, radicada na demonstração do valor de uma filosofia produzida a partir de nossa própria perspectiva para problemáticas que só podem ser elaboradas a partir de nossa realidade histórica e cultural e na possibilidade de se constituir essa perspectiva brasileira não como uma unidade nacional que exclui as especificidades locais, mas, pelo contrário, pela consideração perspectiva das contribuições que cada um dos Brasis pode trazer à filosofia brasileira

Abstract: The aim of this dissertation is to contribute to the growing debate in the Brazilian philosophy academy about our relationship with the Western philosophical tradition by addressing the issue of "Nietzsche reading" in Brazil. To this end, the first chapter contextualizes the discussion about the status of national philosophy and demonstrates the relevance of the question "Nietzsche reading" to this debate; the second presents, from a genealogical understanding of the development of the current meaning of Nietzsche in Brazil through the appropriations - will to power - of his texts in Brazilian territory, a brief and incomplete review of this reception's history, precisely to demonstrate how rich our heritage is when it comes to methods of reading Nietzsche, which today constitutes our maturity for an ideal reading; making it possible for the third chapter to present the central argument, based on Nietzschean perspectivism and the way in which it makes the very universalist pretension of Western philosophy impossible, about not only the possibility, but the necessity to read Nietzsche in a perspectivist and appropriative way, based on the reader's own historical geographical location and the interests corresponding to that existential situation, since, for Nietzsche, all knowledge takes place in a perspective that defines it, and therefore the knowledge of his work cannot be given in an objective, disinterested way, but always in a perspectivist way, and preferably taking into account the maximum points of view to allow the best perspectival knowledge of what is known (GM III, 12). This argument strengthens an interpretative and appropriative approach for our relationship with the most important philosophers in the Western tradition. Finally, in the fourth and last chapter, in a more propositional way, the contributions of Nietzschean perspectivism to Brazilian philosophy are made explicit, especially the value of a philosophy produced from our own perspective for problems that can only be elaborated from our historical and cultural reality and the possibility of constituting this Brazilian perspective not as a national unity that excludes local specificities, but, on the contrary, by the perspectival considering of the contributions that each of the many Brazils can bring to Brazilian philosophy