Eficácia e segurança do uso de alucinógenos no tratamento de transtornos de humor : uma revisão sistemática de revisões sistemáticas

Abstract

Resumo : Os transtornos de humor são marcados por disrupções emocionais e podem ser incapacitantes, com aumento nas taxas de morbimortalidade nos últimos anos e o aumento do número de casos de refratariedade ao tratamento leva à necessidade de buscar novas alternativas terapêuticas para o seu manejo, como os alucinógenos, que apresentam propriedades que afetam o pensamento, a percepção e o humor. Neste contexto, é importante avaliar os riscos e benefícios destas substâncias para o possível uso no tratamento destas condições de saúde mental, por meio da Saúde Baseada em Evidências. Assim, o objetivo deste estudo foi avaliar a eficácia/efetividade e segurança do uso de alucinógenos no tratamento de transtornos de humor. As buscas pelos estudos foram realizadas nas bases de dados PubMed, Scopus e Cochrane Library, sem limitações de idioma ou data de publicação. As etapas de seleção dos estudos (triagem e avaliação na íntegra) e coleta dos dados foram realizadas por dois revisores de forma independente, sendo consultado um terceiro revisor em casos de discrepâncias. Foram recuperados 292 artigos, dos quais, após o processo de exclusão de duplicatas e seleção dos estudos, 25 foram incluídos nas análises. Os resultados evidenciaram que a psilocibina foi o alucinógeno mais comumente avaliado (88,0%), enquanto os transtornos depressivos primários e/ou secundários foram os transtornos de humor em que mais foi estudado o uso de alucinógenos (88,0%). Foi demonstrado que os alucinógenos apresentaram perfil de eficácia/efetividade favorável, devido à redução dos sintomas em comparação com grupos de controle (como placebo, controle ativo e medidas basais), e pelo rápido tempo de resposta ao tratamento, evidenciado já a partir do primeiro dia após administração. Também foram relatados eventos adversos leves a moderados na maioria dos casos (como cefaleia, náuseas e elevação da pressão arterial), tendo alguns estudos relatado um maior risco de ocorrência destes eventos relacionado a maiores doses de alucinógenos, o que indica que possuem um perfil de segurança adequado para o uso em condições controladas. Sendo assim, foi possível identificar as evidências disponíveis sobre o impacto do uso de agentes alucinógenos no manejo de transtornos do humor, contribuindo para a otimização da farmacoterapia baseada em evidências destas condições de saúde. Devido às lacunas identificadas sobre a temática, destaca-se a necessidade de desenvolvimento de mais pesquisas incluindo o uso de alucinógenos menos explorados no manejo destes transtornos

Abstract : Mood disorders are marked by emotional disruptions and can be debilitating, with increased morbidity and mortality rates in recent years and the increase in the number of cases refractory to treatment leading to the need to seek new therapeutic alternatives for their management, such as hallucinogens, which have properties that affect thinking, perception, and mood. In this context, it is important to evaluate the risks and benefits of these substances for possible use in the treatment of these mental health conditions through Evidence-Based Medicine. Thus, the objective of this study was to evaluate the efficacy/effectiveness and safety of the use of hallucinogens in the treatment of mood disorders. The searches for the studies were carried out in the PubMed, Scopus, and Cochrane Library databases, without language or publication date limitations. The study selection stages (screening and full-text evaluation) and data collection were carried out by two reviewers independently, with a third reviewer being consulted in cases of discrepancies. A total of 292 articles were retrieved, of which, after the process of duplicate removal and study selection, 25 were included in the analysis. The results showed that psilocybin was the most commonly evaluated hallucinogen (88.0%), while primary and/or secondary depressive disorders were the mood disorders in which the use of hallucinogens was most studied (88.0%). It was demonstrated that hallucinogens showed a favorable efficacy/effectiveness profile due to the reduction of symptoms compared to control groups (such as placebo, active control, and baseline measures), and the rapid response time to treatment, evidenced from the first day after administration. Mild to moderate adverse events were also reported in most cases (such as headache, nausea, and elevated blood pressure), with some studies reporting a higher risk of these events occurring related to higher doses of hallucinogens, indicating that they have an adequate safety profile for use in controlled conditions. Thus, it was possible to identify the available evidence on the impact of the use of hallucinogenic agents in the management of mood disorders, contributing to the optimization of evidence-based pharmacotherapy for these health conditions. Due to the gaps identified on the topic, the need for the development of more research including the use of less explored hallucinogens in the management of these disorders is highlighted