Candida e os mecanismos de resistência fúngica

Abstract

Resumo : Entre os agentes etiológicos mais relevantes causadores de infecções fúngicas invasivas estão as espécies de Candida cujas infecções associadas apresentam altas taxas de mortalidade e morbidade. A Candida sp. é um fungo leveduriforme, presente no ambiente, na pele, no trato genital e gastrointestinal. As manifestações de infecções por Candida variam de infecções superficiais da mucosa e dérmica, como candidíase oral e infecções vaginais por fungos, até infecções disseminadas da corrente sanguínea com risco de vida que estão associadas a taxas de mortalidade acima de 40% a 60%. Devido à dificuldade de diagnóstico, ao tempo de espera do crescimento em cultivo e à baixa sensibilidade de alguns métodos, são realizadas prescrições empíricas de antifúngicos a fim de combater a infecção fúngica ou realizar o tratamento profilático. As doenças causadas por fungos e que levam à morte, acometem cerca de 1 bilhão de indivíduos em todo o mundo. São conhecidos cerca de 17 complexos de espécies patogênicas do gênero Candida. Relatos de resistência a agentes antifúngicos são relativamente raros, quando comparados a agentes antibacterianos, mas se tornaram muito mais comuns com a introdução de classes adicionais de agentes antifúngicos, principalmente os azólicos (especialmente o fluconazol), amplamente utilizados contra infecções por Candida sp. A resistência às drogas antifúngicas pode ser intrínseca ou adquirida. A resistência intrínseca ou primária é a resistência inerente (não adquirida), que é uma característica de todos ou quase todos os representantes da espécie e é preditiva de falha clínica. A resistência adquirida surge em resposta a uma pressão de seleção antifúngica no paciente individual ou, mais raramente, ocorre devido à transmissão horizontal de cepas resistentes entre os pacientes. Os mecanismos de resistência devem ser conhecidos e elucidados, a fim de que seja possível evitar o surgimento de novas resistências e assim contribuir para o tratamento efetivo dos pacientes. O presente trabalho tem como objetivo fazer uma revisão bibliográfica dos mecanismos de resistência dos fungos aos antifúngicos disponíveis, com ênfase no gênero Candida sp. Foi realizada uma revisão de caráter descritivo da literatura onde foram coletados artigos nas plataformas virtuais e base de dados como Medline (PubMed), SciELO e Google Scholar. Foram incluídos nesta revisão artigos publicados no período de junho de 2022 a maio de 2023. Os mecanismos de ação e de resistência das drogas antifúngicas foram descritos em detalhes nesta revisão. Estratégias de prevenção para limitar o desenvolvimento de infecções MDR são críticas. Drogas antifúngicas não devem ser administradas em doses subterapêuticas, o que pode estimular a aquisição de resistência, e a terapia não deve ser continuada por períodos mais longos do que o indicado. O bom controle da infecção está relacionado com o tratamento adequado, pois o mesmo, se realizado em tempo correto, resulta na remissão da doença e na melhora do estado do paciente. A redução do uso desnecessário de antifúngicos por meio da gestão antifúngica é fundamental para limitar o surgimento de resistência a múltiplas drogas

Abstract : Among the most relevant etiological agents that cause invasive fungal infections are Candida species whose associated infections have high rates of mortality and morbidity. Candida sp. is a yeast-like fungus, present in the environment, on the skin, in the genital and gastrointestinal tract. Manifestations of Candida infections range from superficial mucosal and dermal infections, such as oral candidiasis and vaginal yeast infections, to life-threatening disseminated bloodstream infections that are associated with mortality rates in excess of 40% to 60%. Due to the difficulty of diagnosis, the waiting time and the low sensitivity of some methods, empirical prescriptions of antifungals are performed in order to combat the fungal infection or carry out prophylactic treatment. Diseases caused by fungi that lead to death affect about 1 billion individuals worldwide. About 17 pathogenic species complexes of the genus Candida are known. Reports of resistance to antifungal agents are relatively rare compared to antibacterial agents, but have become much more common with the introduction of additional classes of antifungal agents, most notably azoles (especially fluconazole), which are widely used against Candida sp. infections. Resistance to antifungal drugs can be intrinsic or acquired. Intrinsic or primary resistance is inherent (not acquired) resistance, which is characteristic of all or nearly all representatives of the species and is predictive of clinical failure. Acquired resistance arises in response to antifungal selection pressure in the individual patient or, more rarely, occurs due to horizontal transmission of resistant strains between patients. The mechanisms of resistance must be known and elucidated, so that it is possible to prevent the emergence of new resistance and thus contribute to the effective treatment of patients. The present work aims to carry out a bibliographic review of the mechanisms of resistance of fungi to available antifungals, with emphasis on the genus Candida sp. A descriptive review of the literature was carried out, where articles were collected on virtual platforms and databases such as Medline (PubMed), SciELO and Google Scholar. Articles published between June2022 and May 2023 were included. The mechanisms of action and resistance of antifungal drugs were described in detail in this review. Prevention strategies to limit the development of MDR infections are critical. Antifungal drugs should not be administered at subtherapeutic doses, which may encourage the acquisition of resistance, and therapy should not be continued for longer periods than indicated. Good infection control is related to adequate treatment, as the same, if carried out at the right time, results in disease remission and improvement in the patient's condition. Reducing unnecessary antifungal use through antifungal management is critical to limiting the emergence of multidrug resistance.