Consumo de açúcar de adição e alimentos ultraprocessados no primeiro ano de vida de crianças prematuras e a termo : estudo de coorte prospectivo
Resumo
Resumo: A nutrição de crianças prematuras é crucial para garantir o crescimento adequado, desenvolvimento neurológico saudável e fortalecimento do sistema imunológico. A prática do aleitamento materno e a introdução da alimentação complementar em crianças prematuras podem ser desafiadores devido à imaturidade do sistema digestivo, à menor coordenação dos reflexos de sucção e deglutição e ao baixo tônus muscular que podem afetar a capacidade de alimentação eficiente e segura. Assim, este grupo específico pode ser considerado nutricionalmente mais vulnerável o que pode levar à exposição precoce ao açúcar de adição e alimentos ultraprocessados. O objetivo deste trabalho foi analisar longitudinalmente os fatores associados à introdução do açúcar de adição, assim como o consumo de alimentos ultraprocessados no primeiro ano de vida de crianças prematuras em comparação com aquelas nascidas a termo. As práticas alimentares, incluindo o aleitamento, e outras variáveis infantis como idade gestacional e peso ao nascimento foram coletadas por entrevistas e/ou dados de prontuários. Variáveis maternas como peso, altura, preferência do paladar ao açúcar e consumo de açúcar na gestação também foram avaliadas. Além disso, foram incluídos dados como consumo de açúcar familiar mensal da família e características socioeconomicas. O estudo ocorreu em quatro fases: no primeiro (T1), aos três (T2), seis (T3) e 12 meses (T4) de vida da criança. A amostra foi composta por pares de mães e crianças prematuras assistidas no Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Paraná e pares de mães e crianças nascidas a termo atendidas em duas unidades básicas de saúde em Curitiba-PR. A introdução do açúcar de adição foi analisada nos primeiros seis meses de vida por amostra de 50 pares de mães a termo e crianças prematuras e 44 pares de mães e crianças nascidas. Para esta análise, utilizou-se testes não paramétricos e análise de sobrevida por meio do método de Kaplan-Meier (a=0,05). Crianças prematuras tiveram o primeiro contato com açúcar de adição mais precocemente que aquelas nascidas a termo (P<0,001). Em T2, a ausência de aleitamento exclusivo e a presença de aleitamento misto aumentaram o risco de exposição ao açúcar nas crianças prematuras. Crianças nascidas a termo em aleitamento misto em T1 e com uso de mamadeira em T1 e T2 apresentaram maior exposição ao açúcar. O consumo de alimentos ultraprocessados (AUPs), por sua vez, foi avaliado aos 12 meses de vida da criança (T4) e os fatores associados verificados em T1, T2 e T3. A análise utilizou testes não paramétricos e Regressão de Poisson multivariada com variância robusta, estimando-se o risco relativo e seu respectivo intervalo de confiança (IC) de 95%. Ao final do acompanhamento (T4), 31 (60,78%) crianças prematuras consumiam algum tipo de alimento ultraprocessado, sendo com maior frequência comparado àquelas nascidas a termo (P=0,011). A bolacha doce foi o alimento mais consumido em ambos os grupos. O uso de fórmula infantil em T1, T2 e T3, assim como o uso da mamadeira e o consumo do açúcar de adição em T2 e T3 foram associados ao maior consumo de AUPs (P<0,05). Em relação as varíaveis maternas, apenas a classe economica se mostrou associada ao consumo de AUPs, sendo que crianças cujas famílias pertenciam à classes iguais ou inferiores a "C" apresentaram maior exposição aos AUPs comparado às classes superiores ou igual a B (P=0,020). O modelo multivariado de regressão de Poisson revelou que crianças que foram expostas ao açúcar de adição aos três e seis meses de vida, bem como aquelas que utilizaram fórmula infantil aos três meses apresentaram maior risco ao consumo de AUPs. Apresentar ou não nascimento prematuro não se manteve significativamente associado ao consumo de AUPs no modelo final. Com base nos resultados, é possível concluir que crianças nacidas prematuramente aprsentaram maior exposição ao açúcar de adição e AUPs comparado àquelas nascidas a termo. O tipo de aleitamento praticado nos primeiros meses de vida impactou à introdução do açúcar de, sendo o aleitamento exclusivo um fator protetor à introdução deste componente na dieta infantil. O uso da fórmula infantil e a introdução do açúcar de adição foram associados ao consumo de AUPs aos 12 meses de vida, independente da idade gestacional ao nascimento. Estes dados reforçam a necessidade de estratégias educativas com foco na alimentação saudável de crianças menores de 12 meses de idade, com uma particular atenção àquelas nascidas prematuramente Abstract: The nutrition of premature infants is crucial for ensuring proper growth, healthy neurological development, and strengthening the immune system. The practice of breastfeeding and the introduction of complementary feeding in premature infants can be challenging due to the immaturity of the digestive system, poorer coordination of sucking and swallowing reflexes, and low muscle tone that may affect their ability to feed efficiently and safely. Thus, this specific group can be considered nutritionally more vulnerable, which may lead to early exposure to added sugars and ultra-processed foods. The aim of this study was to longitudinally analyze the factors associated with the introduction of added sugars, as well as the consumption of ultra-processed foods in the first year of life of premature infants compared to those born at term. Feeding practices, including breastfeeding, and other infant variables such as gestational age and weight were collected through interviews and/or medical records. Maternal variables such as weight and height at birth, preference for sweetness, and sugar consumption during pregnancy were also evaluated. Additionally, data such as monthly family sugar consumption and socioeconomic characteristics were included. The study was conducted in four phases: at three months (T1), six months (T2), and twelve months (T3) of the child's life. The sample consisted of pairs of mothers and premature infants attended at the Hospital de Clínicas of the Federal University of Paraná, and pairs of mothers and term infants attended in two basic health units in Curitiba, PR. The introduction of added sugars was analyzed in the first six months of life using a sample of 50 pairs of mothers and premature infants and 44 pairs of mothers and term infants. For this analysis, non-parametric tests and survival analysis using the Kaplan-Meier method (a=0.05) were employed. Premature infants had their first contact with added sugars earlier than those born at term (P<0.001). At T2, the absence of exclusive breastfeeding and the presence of mixed breastfeeding increased the risk of exposure to sugar in premature infants. Term infants on mixed breastfeeding at T1 and those using bottles at T1 and T2 had greater exposure to sugar. The consumption of ultra-processed foods (UPFs) was evaluated at twelve months of the child's life (T4), and associated factors were checked at T1, T2, and T3. The analysis utilized non-parametric tests and multivariate Poisson regression with robust variance, estimating relative risk and its respective 95% confidence interval (CI). At the end of the follow-up (T4), 31 (60.78%) of premature infants consumed some type of ultra-processed food, which was more frequent compared to those born at term (P=0.011). Sweet biscuits were the most consumed food in both groups. The use of infant formula at T1, T2, and T3, as well as the use of bottles and consumption of added sugar at T2 and T3, were associated with higher consumption of UPFs (P<0.05). Regarding maternal variables, only socioeconomic class was associated with UPF consumption, with children from families belonging to classes equal to or below "C" showing greater exposure to UPFs compared to those from higher or equal to class "B" (P=0.020). The multivariate Poisson regression model revealed that children exposed to added sugar at three and six months of life, as well as those using infant formula at three months, had a higher risk of consuming UPFs. Whether or not a child was born prematurely was not significantly associated with UPF consumption in the final model. Based on the results, it can be concluded that premature infants exhibited greater exposure to added sugars and UPFs compared to those born at term. The type of breastfeeding practiced in the first months of life impacted the introduction of sugar, with exclusive breastfeeding being a protective factor against the introduction of this component into the infant diet. The use of infant formula and the introduction of added sugar were associated with UPF consumption at twelve months of life, regardless of gestational age at birth. These data reinforce the need for educational strategies focused on healthy feeding for children under 12 months of age, with particular attention to those born prematurely
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