A liberdade dos seres vivos em Bergson : indeterminação e criação da diferença
Resumo
Resumo: No Ensaio sobre os dados imediatos da consciência, a dualidade entre espaço e duração é central para pensar a liberdade humana a partir de graus de inserção da singularidade de um indivíduo numa determinada ação e na sua autoconstituição. A partir da perspectiva bergsoniana, a liberdade estaria intimamente ligada com a capacidade do espírito humano de criar-se a si mesmo, comportando um alto nível de liberdade e independência. Essa concepção nasce em oposição tanto ao determinismo estrito quanto a teorias tradicionais do livre-arbítrio. No entanto, em Matéria e memória, a indeterminação de uma subjetividade passa a ser pensada a partir da indeterminação material de um corpo vivo. Devido à complexidade do sistema sensório-motor, certos organismos são capazes de resistir ao fluxo dos movimentos inorgânicos e agir de modo imprevisível. Não obstante, a condição orgânica desses corpos parece constituir limitações à sua liberdade, se diferenciando da liberdade da consciência e levantando o problema da relação entre a noção de criação do Ensaio e a de indeterminação de Matéria e memória. Buscaremos elaborar esse tema via A evolução criadora, com foco especial no lugar que o organismo vivo ocupa nessa obra. Ali, através do evolucionismo particular desenvolvido por Bergson, encontramos argumentos para defender que a indeterminação do corpo organizado deve ser pensada para além da sua faculdade motora individual, remetendo, em última instância, a um princípio cosmológico de criação contínua da própria natureza Abstract: In Time and Free Will, the duality between space and duration becomes central to exploring human freedom, based on the varying degrees of an individual’s singularity within a given action and self-constitution. From the Bergsonian perspective, freedom is closely tied to the human spirit’s capacity for self-creation, implying a high level of autonomy and independence. This conception arises in opposition to both strict determinism and traditional theories of free will. However, in Matter and Memory, the indeterminacy of subjectivity is reconceived through the material indeterminacy of a living body. Due to the complexity of the sensory-motor system, certain organisms are capable of resisting inorganic movement patterns and acting unpredictably. Nevertheless, the organic condition of these bodies appears to impose limitations on their freedom, being different from the consciousness’s freedom and raising questions about the relationship between the notion of self-creation in Time and Free Will and the concept of indeterminacy in Matter and Memory. This study examines these issues through Creative Evolution, with particular attention to the role of the living organism in this work. Here, throughout the development of Bergson’s evolutionism, we find arguments suggesting that the indeterminacy of the organized body should be understood beyond its individual motor faculties, ultimately referring to a cosmological principle of continuous creation inherent to nature itself
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