Saúde mental e a Unidade Básica de Saúde em busca do cuidado integral

Abstract

Resumo: A saúde mental é um direito humano básico e no Sistema Único de Saúde (SUS) os cuidados em saúde mental deveriam se iniciar na Atenção Primária à Saúde (APS) em especial através das equipes da Estratégia Saúde da Família (ESF). Entretanto, sabe-se que nem sempre acontece deste modo e muitas vezes os usuários acabam sendo atendidos diretamente em serviços de urgência e emergência e nos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS). O objetivo deste trabalho, recorte de uma pesquisa realizada pelo Programa de Educação pelo Trabalho para Saúde (PET Saúde) de 22/23 no município de Joinville, foi identificar como os usuários da Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) e seus familiares percebem a atuação da sua Unidade Básica de Saúde da Família (UBSF) em seu cuidado em saúde mental. O estudo contou com aprovação em comitê de ética. Foram realizados oito grupos focais, em três CAPS e em uma UBSF entre março e abril de 2023, sendo 4 grupos com usuários do SUS e 4 com seus familiares, com um total de 71 participantes. Os grupos foram gravados (áudio e vídeo) e o material foi transcrito e analisado tendo como referencial a análise do conteúdo. Através das falas dos participantes nesses grupos, percebeu-se que alguns tinham contato com a sua UBSF, enquanto outros não a utilizavam. Alguns relataram: dificuldade em conseguir atendimento na UBSF ("nunca tem médico"), falta de vínculo com a equipe de saúde, filas de espera pelo atendimento do psiquiatra, falta de medicamentos, usuários não relatam em suas equipes de saúde que estão em atendimento no CAPS ou que fazem uso de psicotrópicos, falaram sobre receio em mencionar seu problema e ser discriminado ou estigmatizado, e também que o hospital encaminha para os CAPS mas não para a UBSF. Para essa pesquisa, a informação mais relevante observada foi que mesmo aqueles que estavam em acompanhamento em outros locais especializados da RAPS como os CAPS, não comentavam o fato com sua equipe de saúde na UBSF. Diante destes resultados foi criada uma ferramenta de tecnologia de informação a ser incorporada ao prontuário eletrônico permitindo a identificação das pessoas que são atendidas na RAPS, visando garantir o acompanhamento das mesmas pelos profissionais das equipes da ESF, fortalecendo assim a Atenção Integral à Saúde. Ao se associar o processo educacional nos serviços com pesquisa, com a colaboração entre município e universidades, chegou-se à produção concreta de mudança de baixo custo e com potencial para melhorar a qualidade do cuidado ofertado

Abstract: Mental health is a basic human right and in the Brazilian National Health System (NHS) mental health care should begin in Primary Health Care (PHC), especially through the Family Health Strategy (FHS) teams. However, it is known that this does not always happen and health care users often end up being treated directly in urgent and emergency services and in Psychosocial Care Centers (PCC). The objective of this work, an excerpt from a survey carried out by the Education through Work for Health Program (EWHP) of 22/23 in the city of Joinville, was to identify how health care users of the Psychosocial Care Network (PCN) and their families perceive the performance of their Basic Family Health Unit (BFHU) in their mental health care. The study was approved by the ethics committee. Eight groups of discussion were held, in three PCC and one BFHU between March and April 2023, 4 groups with health care users and 4 with their families, with a total of 71 participants. The groups were recorded (audio and video) and the material was transcribed and analyzed using content analysis as a method for analysing data. Through the speeches of the participants in these groups, it was noticed that some had contact with their BFHU, while others did not use it. Some reported: difficulty in getting care at the BFHU ("there is never a doctor"), lack of connection with the FHS team, waiting lines for psychiatric care, lack of medication, users not reporting to their health teams that they are being treated at the PCC or that they use psychotropic drugs, they spoke about the fear of mentioning their problem and being discriminated against or stigmatized, and also that the hospital refers patients to the PCC but not to the PHC teams. The most relevant information was that even those who were being treated in other specialized locations such as PCC, did not comment with their health care team at the BFHU. In view of these results, an information technology tool was created to be incorporated into the electronic medical record, allowing the identification of people who receive care for at PCN, aiming to guarantee their follow up by professionals from the FHS teams, strengthening Comprehensive Health Care. By associating the educational process in services with research, with collaboration between the municipality and universities, a concrete production of low-cost change with the potential to improve the quality of care offered was achieved