Partir, circular e retornar : considerações sobre o circuito pulsional na obra freudiana norteadas pelo prefixo Selbst
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Data
2024Autor
Oliveira, Suellen Kochinski Borges de
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Resumo: A percepção clínica de que inúmeros pacientes endereçam para si mesmos afetos amorosos e hostis que não condizem, necessariamente, com a conquista de metas e de status sociais por eles pré-estabelecidos é o que disparou a presente pesquisa de dissertação. Nela, objetivou-se entender melhor como cada indivíduo constrói o sentimento de Si a partir do qual se mensura e se percebe subjetivamente. Com a questão delimitada, levantou-se a hipótese de que a construção do sentimento de Si está vinculada à dinâmica pulsional e ao estabelecimento do Eu como instância psíquica. Diante da complexidade do tema, nossa investigação foi circunscrita à obra freudiana, ambicionando alcançar um entendimento mais aprofundado sobre essas três dimensões: a dinâmica pulsional, o Eu e a construção, por cada sujeito, de um sentimento de Si. O desenvolvimento da pesquisa se deu em três capítulos, além da introdução e das conclusões. O primeiro capítulo se dedica a apresentar os pressupostos teóricos que sustentam Freud na elaboração do conceito de pulsão. Assim, perpassa os temas da sexualidade infantil, inconsciente e autoerótica, movimentada pelos princípios do prazer e da realidade em suas articulações com o complexo de Édipo. No segundo capítulo, cujo intuito é articular a dinâmica pulsional à constituição do Eu, o mapeamento dos usos efetuados por Freud do termo sentimento de Si [Selbstgefühl], entendido como um retorno pulsional de amor ao próprio Eu (tal como proposto por Marilene Carone), evidencia-se o narcisismo e a melancolia como expressões da dualidade amor/ódio, levando à constatação de que todo investimento é ambivalente. Ademais, compreendeu-se que ao considerar a premissa do próprio Eu como elegível a objeto libidinal, a ambivalência será inerente e necessária nesse investimento. No terceiro capítulo, visando a compreensão da dualidade pulsional, a investigação dos usos do prefixo Selbst na segunda tópica freudiana elucida um movimento pulsional de retorno ao ponto de partida para além do retorno ao Eu, uma vez que essa instância não é originária. O Eu é constituído ao longo da organização da subjetividade a partir da qual o caráter quantitativo da pulsão assume dimensões qualitativas, tais como: crítica, congratulação, recriminação, rebaixamento, amor, ódio, entre outros. Como conclusão, destacou-se o entendimento da pulsão como circuito que enlaça impulso, objeto, satisfação e Eu. Essa compreensão deixou em aberto uma questão sobre a noção de destrutividade na obra freudiana: se a pulsão de morte pode ser entendida como aquilo que, no circuito pulsional, escapa à libidinização, isso pressupõe a necessidade de que essa parcela, para se satisfazer, contorne um objeto na concretude da realidade material? Por fim, algumas articulações entre teoria e prática clínica foram propostas, apresentando possibilidades para a ampliação e aperfeiçoamento da escuta clínica Abstract: The clinical observation that numerous patients experience addressing to themselves loving and hostile affections that do not necessarily align with the achievement of their preestablished goals and social status is what has triggered this dissertation research. Its objective was to better understand how each individual constructs the sense of Self from which they measure and perceive themselves subjectively. With this issue defined, the hypothesis emerged that the construction of the sense of Self is linked to the drive dynamics and the establishment of the Ego as a psychic instance. Given the complexity of the topic, our investigation was circumscribed to the Freudian theory, aiming to achieve a deeper understanding of three dimensions: drive dynamics, the Ego, and the construction of a sense of Self by each subject. The research was developed across three chapters, in addition to the introduction and conclusion. The first chapter presents the theoretical assumptions that support Freud's elaboration of the concept of drive. It covers themes such as infantile sexuality, the unconscious, and autoeroticism, driven by the pleasure and reality principles in their articulations with the Oedipus complex. The second chapter, which aims to articulate drive dynamics with the constitution of the Ego, maps Freud's uses of the term sense of Self [Selbstgefühl], understood as a drive return of love to the Ego itself (as proposed by Marilene Carone). This chapter highlights narcissism and melancholy as expressions of the love/hate duality, leading to the realization that every investment is ambivalent. Furthermore, it is understood that by considering the premise of the Ego itself as eligible for a libidinal object, ambivalence will be inherent and necessary in this investment. The third chapter, aiming to understand the drive duality contained therein, investigates the uses of the prefix Selbst in Freud's second topography. It elucidates a drive movement of returning to the starting point beyond the return to the Ego, since this instance is not original but constituted throughout the organization of subjectivity. From this, the quantitative character of the drive assumes qualitative dimensions, such as criticism, congratulation, recrimination, devaluation, love, and hate, among others. In conclusion, the understanding of the drive as a circuit that links impulse, object, satisfaction, and Ego is highlighted. This understanding raises a question about the notion of destructiveness in Freudian theory: if the death drive can be understood as that which, in the drive circuit, escapes libidinization, does this imply the necessity for this portion to circumvent an object in the concreteness of material reality to be satisfied? Finally, several connections between theory and clinical practice were proposed, offering possibilities for the expansion and enhancement of clinical listening
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