Avaliação do método de fixação mandibular em cirurgia ortognática na estabilidade do plano oclusal e nas disfunções temporomandibulares

Abstract

Resumo: Introdução: Diferentes métodos de fixação podem ser utilizados na osteotomia sagital bilateral dos ramos mandibulares (OSBRM) em cirurgia ortognática (CO), o que gera discussão na literatura. Contudo, o impacto desses métodos nas disfunções temporomandibulares (DTMs) e na estabilidade do plano oclusal (PO) ainda é controverso, sem consenso estabelecido sobre a fixação ideal para OSBRM. Objetivo: Investigar a influência da fixação monocortical ou híbrida utilizada na OSBRM, na estabilidade do PO e nas DTMs. Materiais e métodos: trata-se de estudo observacional longitudinal prospectivo, envolvendo 84 pacientes adultos, de ambos os sexos, submetidos à CO no Serviço de Cirurgia e Traumatologia Bucomaxilofacial da Universidade Federal do Paraná, durante o período de setembro de 2021 a julho de 2023. Inicialmente, foram coletados dados demográficos dos pacientes e eles foram submetidos a avaliações em 04 momentos distintos: T0, até um mês antes da cirurgia; T1, sete dias após a cirurgia; T2, seis meses após a cirurgia; e T3, um ano após a cirurgia. Em todos esses períodos, os pacientes foram submetidos a tomografias computadorizadas de feixe cônico, para mensuração do PO. Em T0, T2 e T3, os pacientes foram submetidos ao DC/TMD (Critérios de diagnóstico para distúrbios temporomandibulares) para o diagnóstico de DTM. No transoperatório, foram coletados dados referentes à fixação da OSBRM. Os pacientes foram divididos em dois grupos de acordo com o método de fixação utilizado: o grupo FM, que incluiu pacientes submetidos à fixação monocortical, e o grupo FH, que incluiu pacientes submetidos à fixação monocortical, associada a um parafuso bicortical em região retromolar. Adicionalmente, em T0, foram coletadas as características da deformidade dentofacial, bem como as variáveis referentes ao movimento cirúrgico. Os resultados foram submetidos à análise estatística descritiva e inferencial. Valores de p < 0,05 foram considerados estatisticamente significativos. Os dados foram analisados com o programa IBM SPSS v.21.0® (Statistical Package for Social Science). Resultados Artigo 1: A amostra final incluiu 45 pacientes, sendo 33 do grupo FM e 12 do FH. Do total, 21 (46,7%) eram do sexo feminino e 24 (53,3%) do sexo masculino. A mediana das idades dos foi de 28 (18-52) anos. A fixação híbrida foi mais empregada em pacientes com DDF perfil II em comparação ao perfil III, com diferença estatisticamente significativa (p=0,009). Foram observadas alterações nas medianas do ângulo do PO de T1 para T3, com valores de -0,48° (-2,74°- 2,37°) no grupo FM e -0,43° (-1,99°-0,52°) no grupo FH. Essas alterações não apresentaram diferença estatisticamente significativa em relação ao tipo de fixação nos períodos de T1 para T2 (p = 0,81), T2 para T3 (p=0,86) e T1 para T3 (p=0,65). Além disso, não foram observadas diferenças estatisticamente significantes entre as alterações do PO e o sentido da rotação do PO (T1 para T2: p=0,29; T2 para T3: p=0,24; T1 para T3: p=0,80), nem entre alterações do PO e movimento anteroposterior da mandíbula (T1 para T2: p=0,18; T2 para T3: p=0,71; T1 para T3: p=0,19). Resultados Artigo 2: A amostra incluiu 55 pacientes, com 41 no grupo de FM e 14 no grupo de FH. A mediana das idades foi de 27 (18-52) anos. Não foram encontradas diferenças estatisticamente significativas entre os grupos FM e FH e os diagnósticos de DTMs (p>0,05). No entanto, ao considerar a amostra total, encontramos melhora significativa da mialgia (p=0,003) e artralgia (p=0,002). Não houve diferenças significativas para deslocamento de disco com redução (DDCR) (p=0,683) e abertura bucal sem dor (p=0,317). Conclusão: Não houve diferença estatisticamente significante nas alterações do PO entre fixação monocortical e híbrida; nem nas DTMs, incluindo mialgia, artralgia, estalido e abertura bucal sem dor. No pós-operatório de um ano da CO, ambas as técnicas resultaram em pequenas variações no PO e promoveram uma melhora significativa nas DTMs mialgia e artralgia

Abstract: Introduction: Different fixation methods can be used in bilateral sagittal split osteotomy (BSSO) in orthognathic surgery (OS), leading to discussions in the literature. However, the impact of these methods on temporomandibular disorders (TMD) and the stability of the occlusal plane (OP) remains controversial, with no established consensus on the ideal fixation for BSSO. Objective: To investigate the influence of monocortical fixation or hybrid fixation used in BSSO on TMD and OP stability. Materials and Methods: This is a prospective longitudinal observational study involving 84 adult patients of both sexes, submitted to orthognathic surgery at the Department of Oral and Maxillofacial Surgery and Traumatology of the Federal University of Paraná, from September 2021 to July 2023. Initially, demographic data were collected, and patients were evaluated at four distinct moments: T0 (up to one month before surgery), T1 (seven days after surgery), T2 (six months after surgery), and T3 (one year after surgery). During these periods, patients underwent cone beam computed tomography to measure the OP. At T0, T2, and T3, patients were evaluated using the Diagnostic Criteria for Temporomandibular Disorder (DC/TMD) for the diagnosis of TMD. Intraoperatively, data regarding the fixation of BSSO were collected. Patients were divided into two groups based on the fixation method used: the MF group, which included patients undergoing MF, and the HF group, which included patients undergoing monocortical fixation in combination with a bicortical screw in the retromolar region. Additionally, at T0, data on the characteristics of dentofacial deformity and variables related to the surgical movement were collected. The results were subjected to descriptive and inferential statistical analysis. Data were analyzed using SPSS v.21.0® (Statistical Package for Social Science), with significance level of 5%. Results Article 1: The final sample included 45 patients, comprising 33 from the MF group and 12 from the HF group. Of the total, 21 (46.7%) were female and 24 (53.3%) were male. The median age was 28 years (18-52). The hybrid fixation method was more commonly used in patients with dentofacial deformity (DFD) profile II compared to profile III, with a statistically significant difference (p=0.009). Changes in the medians of the occlusal plane angle were observed from T1 to T3, with values of -0.48° (-2.74°- 2.37°) in the MF group and -0.43° (-1.99°- 0.52°) in the HF group. These changes did not show statistically significant differences regarding the type of fixation during the periods from T1 to T2 (p=0.81), T2 to T3 (p=0.86), and T1 to T3 (p=0.65). Additionally, no statistically significant differences were observed between changes in the occlusal plane and the direction of rotation of the occlusal plane (T1 to T2: p=0.29; T2 to T3: p=0.24; T1 to T3: p=0.80), nor between changes in the occlusal plane and the anteroposterior movement of the mandible (T1 to T2: p=0.18; T2 to T3: p=0.71; T1 to T3: p=0.19). Results Article 2: The sample included 55 patients, with 41 in the MF group and 14 in the HF group. The median age was 27 years (range 18-52). No statistically significant differences were found between the monocortical fixation and HF groups regarding the diagnoses of TMD (p>0.05). However, when considering the total sample, we found a significant improvement in myalgia (p=0.003) and arthralgia (p=0.002). There were no significant differences for clicking (p=0.683) and pain-free mouth opening (p=0.317). Conclusion: There was no statistically significant difference in OP changes between monocortical and hybrid fixation; nor in TMD, including myalgia, arthralgia, clicking and pain-free mouth opening. In the one-year postoperative period after OS, both techniques resulted in small changes in OP and promoted a significant improvement in myalgia and arthralgia TMDs