O debate sobre a natureza do espaço e do tempo entre Leibniz e os Newtonianos e suas consequências
Resumo
Resumo: Esta dissertação trata do debate entre as teorias relacionista e absolutista do espaço e do tempo, destacando principalmente as posições de Newton e Leibniz, bem como de seus continuadores, dando atenção especial à questão do movimento circular. A doutrina relacionista de Descartes é o ponto de partida em relação ao qual se desenvolveram as posições de Newton e Leibniz sobre o assunto. Por isso começamos apresentando o pensamento de Descartes sobre o movimento conforme exposto nos seus Princípios da Filosofia, com ênfase nas definições que ele apresenta do movimento segundo o uso comum e no sentido filosófico, que é a translação em relação aos corpos contíguos. Em seguida damos atenção à crítica que Newton faz à posição de Descartes, conforme expostas no seu Peso e Equilíbrio dos Fluidos, salientando a necessidade de definir lugar e movimento local com referência a alguma coisa imóvel, como a extensão pura ou o espaço enquanto são distintos dos corpos. Tratamos, então, da doutrina do espaço e tempo absolutos nos Principia de Newton, a qual se encontra no escólio depois das definições, e do conceito de inércia segundo Newton. Discutimos a defesa que Euler fez das ideias de Newton a partir da lei da inércia. Passamos daí para as ideias de Leibniz sobre o assunto, principalmente as expostas na sua correspondência com Clarke. Dentre elas destacamos a noção de movimento absoluto, que para Leibniz consiste no movimento daquele corpo no qual se encontra a causa da mudança de situação em relação aos outros corpos. Chamamos a atenção às diferenças entre Leibniz e Newton a respeito da noção de movimento absoluto. Passamos ao debate entre Leibniz e Huygens sobre o assunto, com destaque à diferença entre suas opiniões. Então expomos com bastante extensão o desenvolvimento da doutrina relacionista de Leibniz no decorrer da sua carreira filosófica, com ênfase na questão da composição do contínuo e nas ideias dinâmicas de Leibniz, em particular a de força viva. Retornamos a Newton para tratar da sua explicação sobre o movimento circular como uma prova da existência do movimento absoluto e, em consequência, do espaço absoluto. Expomos as respostas de Huygens e Leibniz a esse argumento, bem como as ideias de Berkeley e Kant sobre o assunto. Quanto a Kant, destacamos a importância das "contrapartidas incongruentes" na sua mudança de atitude de uma posição leibniziana para uma newtoniana. Abordamos também sua concepção no período crítico, segundo a qual o espaço e o tempo são intuições puras cuja função é organizar as sensações. A seguir apresentamos a posição vacilante de Maxwell na controvérsia e, por fim, o relacionismo de Mach, sua crítica a Newton e a resposta dada por ele ao problema da rotação baseada na distribuição da matéria no universo. Acrescentamos algumas considerações sobre todas essas questões a partir de um ponto de vista relacionista no contexto da física contemporânea, em que se propõe a ideia de Leibniz sobre movimento absoluto como chave de compreensão do problema Abstract: This dissertation deals with the debate between the relationist and absolutist theories of space and time, highlighting mainly the positions of Newton and Leibniz, as well as their continuers, giving special attention to the issue of circular motion. Descartes’ relationalist doctrine is the starting point from which Newton’s and Leibniz’s positions on the subject were developed. We therefore begin by presenting Descartes’ thoughts on movement as set out in his Principles of Philosophy, with emphasis on his definitions of movement according to common usage and in the philosophical sense, which is transfer in relation to contiguous bodies. We then turn our attention to Newton’s criticism of Descartes’ position, as set out in his De Gravitatione, emphasizing the need to define place and local movement with reference to something immovable, such as pure extension or space as they are distinct from bodies. We then deal with the doctrine of absolute space and time in Newton’s Principia, which can be found in the scholium after the definitions, and the concept of inertia according to Newton. We discuss Euler’s defense of Newton’s ideas based on the law of inertia. We then move on to Leibniz’s ideas on the subject, especially those set out in his correspondence with Clarke. Among these, we highlight the notion of absolute movement, which for Leibniz consists of the movement of that body in which the cause of the change of situation in relation to other bodies is found. We draw attention to the differences between Leibniz and Newton regarding the notion of absolute motion. We move on to the debate between Leibniz and Huygens on the subject, highlighting the difference in their opinions. We then set out at considerable length the development of Leibniz’s relationalist doctrine over the course of his philosophical career, with emphasis on the question of the composition of the continuum and on Leibniz’s dynamic ideas, in particular that of living force. We return to Newton to deal with his explanation of circular motion as a proof of the existence of absolute motion and, consequently, of absolute space. We discuss Huygens’ and Leibniz’s responses to this argument, as well as Berkeley’s and Kant’s ideas on the subject. As for Kant, we highlight the importance of "incongruent counterparts" in his change of attitude from a Leibnizian to a Newtonian position. We also discuss his conception in the critical period, according to which space and time are pure intuitions whose function is to organize sensations. Next, we present Maxwell’s vacillating position in the controversy and, finally, Mach’s relationalism, his criticism of Newton and the answer he gave to the problem of rotation based on the distribution of matter in the universe. We add some considerations on all these issues from a relationist point of view in the context of contemporary physics, in which Leibniz’s idea of absolute motion is proposed as a key to understanding the problem
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