Avaliação da resposta perfusional periférica à semi-ortostase e sua relação com as disfunções orgânicas em pacientes com sepse

Abstract

Resumo: A alta mortalidade na sepse requer monitoramento clínico avançado. Disfunções no sistema nervoso autônomo (SNA) e na microcirculação estão ambas relacionadas ao prognóstico na sepse. Por outro lado, as respostas perfusionais às mudanças posturais são também reguladas pelo SNA. O Índice de Perfusão periférico (IPP) corresponde a um parâmetro altamente sensível as alterações das mudanças posturais em indivíduos saudáveis, porém estudos a respeito do seu potencial diagnóstico e prognóstico na sepse são escassos. Nesse sentido, esse estudo teve como objetivo avaliar se a resposta do IPP ao estresse semiortostático pode ser utilizada para monitorar a resposta simpático-vascular na sepse e suas relações com o estado hemodinâmico. Trata-se de um estudo observacional incluindo pacientes adultos (= 18 anos), admitidos nas unidades de terapia intensiva e ambulatório do Complexo hospital de Clínicas da Universidade Federal do Paraná e Hospital e Maternidade São José dos Pinhais, no período no período entre fevereiro de 2021 e junho de 2023. Três grupos foram estudados: Grupo A (30 pacientes saudáveis), Grupo B (30 pacientes em estado crítico sem sepse) e Grupo C (92 pacientes com sepse). Os pacientes foram submetidos a um teste de estresse semi-ortostático (elevação da cabeceira de 0 a 60 graus). Os parâmetros de perfusão periférica (IPP), hemodinâmicos [frequência cardíaca (FC) e pressão arterial média (PAM)] e da ultrassonografia cardíaca [volume sistólico (VS), índice cardíaco (IC)] coletados durante as mudanças posicionais foram comparados entre esses grupos (A, B e C). Adicionalmente, o delta-SOFA e a pontuação do escore de gravidade (SOFA) foram avaliados nos pacientes com diagnóstico de sepse e comparados entre 2 subgrupos (aumento ou redução de IPP após teste de estresse semi-ortostático) ao longo do tempo (24 e 72 horas do diagnóstico). Este estudo revelou diferenças significativas entre os grupos analisados. Após a realização do teste de estresse semi-ortostático, observou-se que os indivíduos saudáveis apresentaram redução significativa do VS (p < 0,01) e no IC (p < 0,05), com aumentos compensatórios na FC (p < 0,05) e na PAM (p < 0,01). No entanto, esses padrões não foram observados nos grupos de pacientes criticamente enfermos com e sem o diagnóstico de sepse. Na análise individual do grupo A, houve uma queda no IPP (p < 0,01), enquanto nos grupos B e C a resposta foi heterogênea. Além disso, os pacientes com sepse que apresentaram redução do IPP após o teste mostraram uma queda significativa no escore SOFA em 72 horas em comparação ao grupo que aumentou o IPP (p < 0,05). No entanto, na análise do Delta-SOFA não houve diferença entre os grupos. Em conclusão, a resposta do IPP ao estresse semiortostático na sepse é um método simples e barato, capaz de detectar a resposta simpáticomicrovascular à beira do leito e parece ter valor prognóstico.

Abstract: The high mortality rate in sepsis requires advanced clinical monitoring. Dysfunctions in the autonomic nervous system (ANS) and microcirculation are both related to the prognosis of sepsis. On the other hand, perfusion responses to postural changes are also regulated by the ANS. The Peripheral Perfusion Index (PPI) is a highly sensitive parameter to postural changes in healthy individuals, but studies on its diagnostic and prognostic potential in sepsis are scarce. To address this gap, this study aimed to assess whether the PPI response to semiorthostatic stress can be used to monitor the sympathetic-vascular response in sepsis and its relationship with hemodynamic status. This observational study includes adult patients (= 18 years) admitted to the intensive care units and outpatient clinics of the Clinical Hospital Complex of the Federal University of Paraná and Hospital e Maternities São José dos Pinhais, between February 2021 and June 2023. Three groups were studied: Group A (30 healthy patients), Group B (30 critically ill patients without sepsis), and Group C (92 septic patients). The patients underwent a semi-orthostatic stress test (head elevation from 0 to 60 degrees). Peripheral perfusion (PPI), hemodynamic [heart rate (HR) and mean arterial pressure (MAP)] and cardiac ultrasound parameters [stroke volume (SV), cardiac index (CI)] collected during positional changes were compared between these groups (A, B, and C). Additionally, delta- SOFA and the severity score (SOFA) were assessed in septic patients and compared between 2 subgroups (increased or decreased PPI after semi-orthostatic stress test) over time (24 and 72 hours from diagnosis). This study revealed significant differences between the groups analyzed. After performing the semi-orthostatic stress test, it was observed that healthy individuals showed a substantial reduction in SV (p < 0.01) and CI (p < 0.05), with compensatory increases in HR (p < 0.05) and MAP (p < 0.001). However, these patterns were not observed in the critically ill and septic patient groups. In the individual analysis of Group A, there was a drop in PPI (p < 0.001), while the response was heterogeneous in Groups B and C. In addition, septic patients who showed a reduction in PPI after the test showed a significant drop in SOFA score at 72 hours compared to the group that increased PPI (p < 0.05). However, in the Delta-SOFA analysis, there was no difference between the groups. In conclusion, the PPI response to semi-orthostatic stress in sepsis is a simple and inexpensive method capable of detecting the sympathetic-microvascular response at the bedside and appears to have prognostic value.