O gosto do terroir de Mendoza : o vinho como nutriente de narrativas espaciais
Resumo
Resumo: O objetivo desta pesquisa é investigar sobre os sentidos do terroir, suas diferentes epistemologias a partir do contexto no qual ele surge: a vitivinicultura. Sentidos enquanto significados, enquanto movimentos no espaço e tempo e enquanto sensibilidades que esta expressão convoca. Inicio com discussão teórica, a partir de revisão narrativa e crítica de literatura com o intuito de compreender o termo francês que evoca a origem geográfica como crucial para a qualidade e tipicidade de um vinho, consagrada na expressão gout de terroir. Em seguida, demonstro como terroir é atravessado por diferentes modos geográficos de existência, já que constitui, ao mesmo tempo, o cenário de territorialidades dos viticultores, o conjunto das paisagens dos vinhedos construídas coletivamente e o suporte material e simbólico da existência do lugar entre seus autóctones. E pela ideia de terroir que o indivíduo e sua coletividade se reconhecem e se autenticam. E por suas narrativas que eles reforçam suas identidades, manifestam sua geograficidade, e através dela, constroem e perpetuam o sabor de seus vinhos. O terroir para um vinhateiro possui dimensão ontológica. Frente ao exposto, proponho o terroir como noção central na construção de narrativas espaciais nas quais há uma centralidade do gosto enquanto meio de compreensão geográfica, portanto relevante para discutir a geografia dos sabores. Na sequência, detalho a experiência em torno do vinho, apoiado no conceito de narrativa de Benjamin e na fenomenologia da imaginação e do devaneio poético de Bachelard. Ditos autores sustentam um dos argumentos centrais desta tese: a de que degustar um vinho, embalado por uma narrativa de terroir, produz imaginários geográficos, ancorados na paisagem e no lugar, capazes de justificar os aromas e sabores do vinho degustado. Em seguida, relato a minha experiência de campo no Vale do Uco, em Mendoza, Argentina, onde trabalhei, durante a colheita de uvas de 2023, em vinícolas familiares de pequeno porte, na busca por entender o sentido contemporâneo do terroir entre esses produtores bem como de onde brota o gosto dos seus vinhos a partir de suas narrativas. A construção do diário de viagem inspira-se na geopoética de Bouvet e Bergeron, na etnografia sensível de Pink e nas geografias qualitativas de Lindón e de Dias. A experiência mostrou que a Cordilheira dos Andes constitui geossímbolo entre os mendocinos, exercendo influencia no que eles designam "vinhos de montanha". Ainda, a "escala humana" de produção, os vinhos autorais, feitos por "intérpretes de paisagens" movidos pela "liberdade criativa" definem seus "ofícios", no qual o ser e o fazer se confundem. A noção contemporânea de terroir surge aí como resposta à pasteurização da experiência alimentar oriunda dos vinhos de escala industrial sem vínculo significativo com a origem geográfica. Abstract: The aim of this research is to investigate the meanings of terroir, its different epistemologies from the context in which it arises: viticulture. Senses as meanings, as movements in space and time and as sensitivities that this expression evokes. Beginning with a theoretical discussion, from a critical and narrative review of literature in order to understand the French term that evokes the geographical origin as crucial for the quality and typicity of a wine, consecrated in the expression gout de terroir. Then, I demonstrate how terroir is crossed by different geographical modes of existence, since it constitutes at the same time the territoriality scenario of the winegrowers, the set of landscapes of vineyards built collectively and the material and symbolic support of the existence of the sense of place among its natives. It is through the idea of terroir that the individual and his collective recognize and authenticate themselves. It is through their narratives that they reinforce their identities, manifest their geograficity and through it, build and perpetuate the taste of their wines. The terroir for a winemaker has ontological dimension. In view of the above, I propose the terroir as a central notion in the construction of spatial narratives in which there is a centrality of taste as a means of geographical understanding, therefore relevant to discuss the geography of taste. In the following, I detail the experience around wine, based on Benjamin’s concept of narrative and the phenomenology of imagination and poetic reverie of Bachelard. These authors support one of the central arguments of this thesis: that tasting a wine, listening to a narrative of terroir, produces geographical imaginaries, anchored in the landscape and place, capable of justifying the aromas and flavors of the wine tasted. Then, I report my field experience in the Uco Valley, in Mendoza, Argentina, where I worked during the harvest of grapes of 2023, in small family wineries, seeking to understand the contemporary sense of terroir among these producers, as well as where the taste of their wines comes from, based on their narratives. The construction of the travel diary is inspired by the geopoetics of Bouvet and Bergeron, the sensitive ethnography of Pink and the qualitative geographies of Lindon and Dias. Experience has shown that the Andes mountain range is a geo-symbol among mendocinos, exerting influence on what they call "mountain wines". Still, the "human scale" of production, the author wines, made by "landscape interpreters" moved by "creative freedom" define their "crafts", in which being and doing are intertwined. The modern concept of terroir arises as a response to the pasteurization of food experience from industrial-scale wines that do not have a significant connection to geographical origin. RESUMÉ: Le but de cette recherche est d’enquêter sur les sens du terroir, ses différentes épistémologies à partir du contexte dans lequel il se pose: la vitiviniculture. Les sens en tant que signification, en tant que mouvements dans l’espace et le temps et en tant que sensibilités que cette expression évoque. Je commence par une discussion théorique, à partir d’une revue narrative et critique de la littérature afin de comprendre le terme français qui évoque l’origine géographique comme cruciale pour la qualité et la typicité d’un vin, consacrée dans l’expression le goût de terroir. Ensuite, je démontre comment terroir est traversé par différents modes géographiques d’existence, puisqu’il constitue en même temps le scénario de territorialité des viticulteurs, l’ensemble des paysages des vignobles construits collectivement et le support matériel et symbolique de l’existence du lieu parmi ses autochtones. C’est par l’idée de terroir que l’individu et sa collectivité se reconnaissent et s’authentifient. C ’est par leurs récits qu’ils renforcent leurs identités, manifestent leur géographie, et à travers elle, construisent et perpétuent le goût de leurs vins. Le terroir a, pour un vigneron, une dimension ontologique. Face à ce qui précède, je propose le terroir comme notion centrale dans la construction de récits spatiaux dans lesquels il y a une centralité du goût comme moyen de compréhension géographique, donc pertinente pour discuter de la géographie du goût. Ensuite, je détaille l’expérience autour du vin, appuyée sur le concept de récit de Benjamin et sur la phénoménologie de l’imagination et de la rêverie poétique de Bachelard. Ces auteurs soutiennent l’un des arguments centraux de cette thèse: que la dégustation d’un vin, emballé par un récit de terroir, produit des imaginaires géographiques, ancrés dans le paysage et le lieu, capables de justifier les arômes et les saveurs du vin dégusté. Je raconte ensuite mon expérience de terrain dans la vallée d’Uco, à Mendoza, en Argentine, où j ’ai travaillé, pendant les vendanges de 2023, dans des vignobles familiaux de petite taille. La finalité était de comprendre le sens contemporain du terroir parmi ces producteurs ainsi que l'origine du goût de leurs vins à partir de leurs récits. La construction du journal de voyage s’inspire de la géopoétique de Bouvet et Bergeron, de l’ethnographie sensible de Pink et des géographies qualitatives de Lindon e de Dias. L ’expérience a montré que la Cordillère des Andes constitue un géosymbole parmi les Mendocinos, exerçant une influence sur ce qu’ils appellent les "vins de montagne". En outre, la "échelle humaine" de la production, les vins d’auteur, fabriqués par des "interprètes de paysages" animés par la "liberté créative" définissent leurs "métiers", dans lesquels l’être et le faire se confondent. La notion contemporaine de terroir apparaît comme une réponse à la pasteurisation de l’expérience alimentaire issue des vins à échelle industrielle sans lien significatif à l’origine géographique.
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- Teses [133]