A ESCOLA NO ENFRENTAMENTO À VIOLÊNCIA SEXUAL CONTRA CRIANÇAS
Resumo
A ESCOLA NO ENFRENTAMENTO À VIOLÊNCIA SEXUAL CONTRA CRIANÇAS THE SCHOOL IN CONFRONTING SEXUAL VIOLENCE AGAINST CHILDREN RESUMO Este estudo é um fragmento da pesquisa de doutorado[1], defendida em 2020, que objetivou identificar e analisar os desdobramentos, no ambiente escolar, da violência sexual contra crianças. Foram observadas três meninas, nas interações sociais e no desempenho escolar, que sofreram abuso sexual, matriculadas, respectivamente, no 1º, 2º e 3º anos do Ciclo de Alfabetização do Ensino Fundamental, em três escolas da Rede Municipal de Ensino de São Paulo. Os procedimentos para coleta dos dados incluíram: a observação das alunas no ambiente escolar, em suas atividades e nas relações com os colegas e educadores; teste sociométrico; análise do boletim escolar e do desenho da família (elaborado por todas as crianças que eram colegas de turma das alunas estudadas); entrevista (também com todas as crianças das turmas); entrevista semiestruturada com os professores e com os coordenadores pedagógicos das escolas. A análise orientou-se pela Teoria Crítica da Sociedade, levando-se em conta as seguintes noções: coisificação da consciência, barbárie, frieza nas relações humanas, desumanização e não identificação com o outro. Por meio da análise dos dados, foi possível observar que os desdobramentos da violência sexual na escola são difíceis de serem identificados, uma vez que, mesmo sendo demonstrado o prejuízo que as meninas pesquisadas evidenciaram com relação às interações sociais e ao desempenho escolar, não diferem significativamente dos demais alunos, dificultando a atuação da unidade escolar no enfrentamento à violência sexual, pois os sinais e as consequências da violência sexual estão camuflados e não são perceptíveis de imediato. Isso implica a necessidade de o educador ter a percepção sensível e o conhecimento para identificar e abordar as situações de forma adequada. Palavras-chave: violência sexual, criança, educadores, ambiente escolar ABSTRACT This study is a fragment of the doctoral[2] research, defended in 2020, which aimed to identify and analyze the consequences, in the school environment, of sexual violence against children. Three girls were observed, in social interactions and in school performance, who suffered sexual abuse, enrolled, respectively, in the 1st, 2nd and 3rd years of the Elementary School , at the Literacy phase, in three municipal schools from São Paulo. The procedures for data collection included: observation of the students in the school environment, in their activities and in the relationships with colleagues and educators; sociometric test; analysis of the school report card and the family drawing (prepared by all the children who were classmates of the students studied); interview (also with all the children in the classes); semi-structured interview with teachers and pedagogical coordinators of schools. The analysis was guided by the Critical Theory of Society, taking into account the following notions: objectification of conscience, barbarism, coldness in human relationships, dehumanization and non-identification with the other. Through data analysis, it was possible to observe that the consequences of sexual violence at school are difficult to identify, since, even if the damage that the surveyed girls showed in relation to social interactions and school performance is demonstrated, they do not differ significantly from the other students, making it difficult for the school unit to deal with sexual violence, as the signs and consequences of sexual violence are camouflaged and are not immediately noticeable. This implies the need for the educator to have the sensitive perception and knowledge to identify and adequately address situations. Keywords: sexual violence, child, educators, school environment INTRODUÇÃO A violência sexual contra crianças e adolescentes é um fenômeno complexo e multicausal que deve ser abordado de maneira intersetorial, multidisciplinar e multiprofissional. Sendo assim, ações de enfrentamento devem abranger todos os setores da nossa sociedade. A criança que sofre violência sexual vai à escola, ao médico, participa de programas do serviço social, da cultura, de atividades diversas realizadas em organizações não governamentais e governamentais. Essa mesma criança faz parte de uma rede intersetorial de atendimentos e atividades que tem o dever de protegê-la, garantindo seus direitos como cidadã. No entanto, o que observamos no enfrentamento aos “casos” evidenciados de violência sexual contra criança e adolescentes é que os setores tendem a resolver de maneira solitária e fragmentada as situações, sem ação conjunta, intersetorial e multidisciplinar, vislumbrando possíveis e adequadas soluções. Para Fuziwara e Fávero (2011), a intervenção fragmentada, nos casos de violência sexual de crianças e adolescentes, só dará conta de uma parte da ação protetiva e preventiva. As autoras ressaltam que Quando, no espaço do trabalho, se estabelecem relações com crianças e adolescentes vítimas de violência sexual, cada profissional o faz a partir de um determinado lugar institucional, seu foco de ação será direcionado pelos princípios e competências de sua área de formação, pelas atribuições conferidas pela função que exerce e pela missão da instituição à qual é vinculado. Dessa forma, sua intervenção poderá dar conta apenas de uma parte da ação, que deve ser coletiva, buscando abranger a totalidade, se de fato se pretende atuar na proteção e na prevenção das vítimas (FUZIWARA; FÁVERO, 2011, p. 42) A seriedade que a situação apresenta atualmente, incluindo a subnotificação dos casos de violência sexual contra crianças e adolescentes, exige de todos os setores maior atenção. E, a escola, por sua vez, desempenha ou deveria desempenhar um papel importante no combate à violência sexual contra crianças e adolescentes. Portanto, neste estudo evidenciou-se como problema: Qual o papel da escola no enfrentamento à violência sexual contra crianças e adolescentes? Na tentativa de vislumbrar possíveis cenários, formulou-se a seguinte hipótese: Os desdobramentos da violência sexual contra criança prejudicam seu desempenho escolar e suas relações sociais na escola. OBJETIVOS GERAL E ESPECIFICO Este estudo objetivou identificar os desdobramentos, no ambiente escolar, da violência sexual, com enfoque no abuso sexual, das crianças vitimizadas, buscando analisar a vida escolar, abrangendo o desempenho escolar e socialização não somente das alunas-átomo pesquisadas, mas de todos os alunos da sala de aula em que elas estão inseridas. METODOLOGIA A metodologia para coleta dos dados incluiu: a observação das alunas no ambiente escolar, em suas atividades e nas relações com os colegas e educadores; teste sociométrico; análise do boletim escolar e do desenho da família (elaborado por todas as crianças que eram colegas de turma das alunas estudadas); entrevista (também com todas as crianças das turmas); entrevista semiestruturada com os professores e com os coordenadores pedagógicos das escolas. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA E DISCUSSÕES A análise orientou-se pela Teoria Crítica da Sociedade, levando-se em conta as seguintes noções: coisificação da consciência, barbárie, frieza nas relações humanas, desumanização e não identificação com o outro. RESULTADOS Por meio da análise dos dados, foi possível observar que os desdobramentos da violência sexual na escola são difíceis de serem identificados, uma vez que, mesmo sendo demonstrado o prejuízo que as meninas pesquisadas evidenciaram com relação às interações sociais e ao desempenho escolar, não diferem significativamente dos demais alunos, dificultando a atuação da unidade escolar no enfrentamento à violência sexual, pois os sinais e as consequências da violência sexual estão camuflados e não são perceptíveis de imediato. CONSIDERAÇÕES FINAIS Neste estudo, priorizou-se a identificação dos desdobramentos da violência sexual contra crianças no ambiente escolar. Por meio dos dados da pesquisa, foi possível observar que a hipótese de que os desdobramentos da violência sexual contra criança prejudicam seu desempenho escolar e suas relações sociais na escola foi parcialmente confirmada. Referente às relações sociais, as alunas-átomo foram razoavelmente rejeitadas, demonstrando algumas dificuldades na interação e socialização com os alunos da turma. Esses dados demonstram indícios de que a violência sexual sofrida pelas alunas prejudicou, de alguma maneira, as relações sociais na escola. Com relação á fundamenta teórica, Adorno (1995), junto com a Psicanálise freudiana, afirma que a formação do caráter ocorre na primeira infância, imersa no processo civilizatório que, por sua vez, produziu um mundo administrado e claustrofóbico. Primeira infância ainda pouco valorizada na sociedade capitalista administrada. O autor enfatiza que a mesma sociedade que incita a sexualidade infantil por meio da indústria cultural também promove o sensacionalismo nas situações que a envolvem. É na sociedade capitalista administrada que a indústria cultural se faz cada vez mais presente, imersa no meio virtual, incentivando cada vez mais a coisificação da consciência, a desumanização e não identificação com o outro. REFERÊNCIAS ADORNO, Theodor W. Educação e Emancipação. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1995. FUZIWARA, A.S ; FÁVERO, E.T. A violência sexual e os direitos da criança e do adolescente. In AZAMBUJA, M.R.F; FERREIRA, M.H.M. Violência Sexual contra Crianças e Adolescentes. Porto Alegre: Artmed, 2011. [1] FERREIRA, Edna (2020). A violência sexual contra crianças e seus desdobramentos no ambiente escolar. Tese de Doutorado. Pontifícia Universidade Católica de São Paulo PUCSP. Programa de Estudos Pós-Graduados em Educação: História, Política, Sociedade. [2] FERREIRA, Edna (2020). Sexual violence against children and its consequences in the school environment. Doctoral thesis. Pontifícia Universidade Católica de São Paulo PUCSP. Postgraduate program of studies in Education: History, Policy, Society.