dc.description.abstract | Desde o início do atual surto de coronavírus (SARS-CoV-2), causador da Covid-19, houve grande preocupação diante de uma doença que se espalhou rapidamente em várias regiões do mundo, com diferentes impactos. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), em 18 de março de 2020, os casos confirmados da Covid-19 já haviam ultrapassado 214 mil em todo o mundo. Recomendações da OMS,1 do Ministério da Saúde do Brasil, do Centers for Disease Control and Prevention (CDC, Estados Unidos)2 e outras organizações nacionais e internacionais têm sugerido a aplicação de planos de contingência de influenza e suas ferramentas, devido às semelhanças clínicas e epidemiológicas entre esses vírus respiratórios. Esses planos de contingência preveem ações diferentes de acordo com a gravidade das pandemias (WHO, 2019). A instabilidade e divergência de recomendações e opiniões de setores políticos e sociais, especialmente no Brasil, trouxe compreensões conflitantes acerca da gravidade da COVID 19. Este fato afetou seriamente atitudes de autocuidado e o uso de medidas de proteção comunitária. O estudo a seguir tem como objetivo relatar os efeitos da divergência de orientações preventivas ao covid-19 como disparadora de violência aos profissionais da Atenção Básica (AB). A metodologia empregada neste estudo é de caráter descritivo e exploratório utilizando-se para isso o relato de experiência, como veremos a seguir. Em um momento de atendimento rotineiro na atenção básica, uma abordagem causou surpresa e indignação. Um homem entrou na unidade básica, sem máscara e passou a gritar com um funcionário e clientes que esperavam atendimento. Este referido homem se mostrava revoltado com profissionais de saúde e governo, que segundo sua compreensão, inventaram uma doença e obrigaram as pessoas a usar máscaras e colocaram medo na população para não sair de casa. A imparcialidade do vigilante tornou o senhor, que questionara o trabalho na atenção básica, muito irritado. Diante desta postura, o homem agrediu fisicamente este funcionário. Temerosos, outros funcionários chamaram a polícia, que veio minutos depois em busca do agressor que havia se evadido, deixando alguns pertences na Unidade Básica. Em outros momentos, percebeu-se a agressividade de clientes, que retiravam as máscaras em público, rejeitando orientações para colocá-las, como se as mesmas não fossem necessárias para superar a realidade de contágio. O distanciamento social, para atendimento, foi visto como maus tratos por clientes, chegando a gerar denúncias na ouvidoria municipal, contra funcionários. A violência contra o profissional de saúde está ocorrendo diariamente, sendo gravada, filmada. Acreditamos que vem sendo suscitada, entre outras coisas, pela ausência de consonância entre as falas das autoridades de saúde e as mensagens de redes sociais. A hipótese que levantamos seria de que orientações baseadas em evidências científicas, se difundidas de maneira ampla e compreensível, poderiam viabilizar a redução da frustração e, por conseguinte, da violência infligida aos trabalhadores da AB. Há que se promover adesão geral aos cuidados de prevenção, gerar segurança e evitar a que a contaminação pelo covid-19 se espalhe. Acrescentamos ainda que saúde e segurança é direito de todos, incluindo profissionais de saúde. | |