EFEITOS DO COVID-19 NA SAÚDE MENTAL DOS PROFISSIONAIS DE SAÚDE
Resumo
RESUMO Este estudo tem como objetivo analisar os efeitos do COVID-19 na saúde mental dos profissionais de saúde. Trata-se de uma revisão integrativa da literatura, desenvolvida através das bases de dados LILACS e SciELO, com estudos publicados no período compreendido entre 2019 e 2020. Foi encontrada uma amostra inicial de 304 artigos, sendo selecionados 12 para a realização do estudo, por se tratarem diretamente do tema proposto. Percebeu-se que, com o surgimento da pandemia do COVID-19, os níveis de estresse dos profissionais de saúde aumentaram, afetando a saúde mental desses trabalhadores. Dessa maneira, é evidente a importância da discussão acerca desse tema para que haja a efetivação de medidas de intervenção que reduzam esse efeito. Palavras-chave: Coronavírus. Estresse emocional. Profissionais de saúde. INTRODUÇÃO A síndrome respiratória aguda grave teve origem na cidade de Wuhan, na China, no final de 2019. O COVID-19, como foi denominada a síndrome, logo foi disseminado para outros países, sendo declarado, em 2020, estado de Emergência de Saúde Pública de Importância Internacional, pela Organização Mundial da Saúde (OMS) (LOURENÇÃO, 2020). Desde então, a vida em sociedade passou por uma reorganização (HELIOTERIO et al., 2020). Do mesmo modo ocorreu no Brasil, pois medidas foram tomadas para conter o avanço da doença, sendo necessárias mudanças no convívio social e intensificação da atuação dos profissionais da saúde (LOURENÇÃO, 2020). Essas mudanças trouxeram alguns efeitos negativos, principalmente no âmbito da saúde emocional, afetando a classe ocupacional ligada à saúde (HELIOTERIO et al., 2020; MEDEIROS, 2020; LOURENÇÃO, 2020). Assim, é evidente a necessidade de se tratar acerca da saúde mental dos trabalhadores do campo da saúde (SAIDEL, 2020). Para isso, é importante que haja a compreensão sobre os fatores relacionados à pandemia que influenciam no aspecto emocional desses profissionais. Dessa maneira, será possível delinear medidas de intervenção, de maneira mais prática, para diminuir esses efeitos (SAIDEL, 2020; LAI et al., 2020). METODOLOGIA Trata-se de uma Revisão Integrativa de Literatura (RIL), a fim de possibilitar uma síntese dos estudos e gerar um conhecimento a respeito da temática. O objeto de estudo foi a produção do conhecimento em periódicos que retratavam acerca do efeito do Covid-19 na saúde mental dos profissionais de saúde atuantes no contexto da pandemia, conforme as bases de dados Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), Scientific Electronic Library Online (SciELO) Para o levantamento dos estudos, foram utilizados os descritores em saúde (Decs): “covid-19”, “profissionais de saúde” e “saúde mental”. Realizou-se o agrupamento dos descritores combinados com operadores booleanos: “covid-19 AND profissionais de saúde” e “covid-19 AND saúde mental”. A coleta de dados foi realizada no mês de agosto de 2020. Para a inclusão de literaturas na amostra, adotaram-se como critérios: disponibilização integral, online e gratuita, com recorte temporal compreendido entre 2019 e 2020; publicação em português, inglês ou espanhol em periódicos nacionais e internacionais e indexação nas bases de dados referidas. Foram excluídos: estudos duplicados, informes técnicos, monografias, teses e dissertações não condizentes ao tema. RESULTADOS E DISCUSSÃO A partir de uma amostra inicial de 304 literaturas, 12 foram selecionados por se tratarem diretamente do tema proposto. (Quadro 1) Quadro 1 – Síntese dos estudos obtidos na Revisão Integrativa (2019 a 2020). Nº AUTOR / ANO TÍTULO 1 FARIAS et al. (2020) Os profissionais de enfermagem merecem mais do que aplausos. 2 BERMÚDEZ. (2020) Enfermaría y COVID-19: reconocimiento de la profesión en tiempos de adversidad. 3 HELIOTERIO et al. (2020) COVID-19: Por que a proteção de trabalhadores e trabalhadoras da saúde é prioritária no comabte à pandemia? 4 HUMEREZ et al. (2020) Saúde mental dos profissionais de enfermagem do Brasil no context da pandemia COVID-19. 5 LOURENÇÃO. (2020) A COVID-19 e os desafios para o sistema e os profissionais de saúde. 6 MEDEIROS. (2020) A luta dos profissionais de saúde no enfrentamento da COVID-19. 7 MIRANDA et al. (2020) Condições de trabalho e o impacto na saúde dos profissionais de enfermagem frente a COVID-19. 8 OLIVEIRA. (2020) Projeto vida em quarentena: estratégia para promoção da saúde mental de enfermeiros diante da COVID-19. 9 PEREIRA. (2020) Sofrimento emocional dos enfermeiros no context hospitalar frente à pandemia de COVID-19. 10 SAIDEL. (2020) Intervenções em saúde mental para profissionais de saúde frente a pandemia de Coronavírus. 11 LAI et al. (2020) Factors associated with mental health outcomes among health care workers exposed to Coronavirus disease. 12 MOREIRA. (2020) Apoio psicossocial e saúde mental dos profissionais de enfermagem. Fonte: Dados da pesquisa, 2020. O trabalho do profissional de saúde é, por si só, exaustivo, pois é preciso lidar com fatores de cansaço físico e mental, como a jornada de alta carga horária, a exposição a agentes infecciosos e o convívio com pacientes em sofrimento (BERMÚDEZ, 2020; MIRANDA et al., 2020). Com o surgimento da pandemia, esses fatores foram intensificados e somados a outros, gerando uma maior preocupação por parte desses profissionais ( HUMEREZ et al., 2020; LOURENÇÃO, 2020; MEDEIROS, 2020). No artigo de FARIAS et al., (2020), foi citada a Medida Provisória nº 927/2020(5), lançada com o objetivo de alterar as relações trabalhistas dos profissionais de saúde, através da redução do tempo de descanso para 12 horas e do aumento da jornada de trabalho para até 24 horas. Assim, há a piora de um fator de estresse, a elevada carga horária, o que gera um risco não só para a saúde mental desses profissionais, mas para os pacientes, afinal, sem o repouso adequado, há maior chance de falha no exercício da profissão (HELIOTERIO et al., 2020). Assim como o aumento da jornada de trabalho, outros fatores favorecem esse sofrimento emocional, como a escassez de informações acerca do COVID-19, o limitado estoque de equipamentos de proteção e o risco constante de transmitissão da doença para familiares próximos (MOREIRA, 2020; HELIOTERIO et al., 2020; OLIVEIRA, 2020.; PEREIRA, 2020). A soma de todos esses pontos culminam em uma pressão psicológica que afeta diretamente esses trabalhadores (HUMEREZ et al., 2020). Foi possível perceber os efeitos dessa pressão ao analisar uma pesquisa realizada por LAI et al., (2020) (Tabela 1). Tabela 1 – Severidade de transtornos emocionais em médicos e enfermeiros atuantes na pandemia na China Categoria Severidade (%) Normal Suave Moderada Severa Sintomas de depressão 49,6 35,6 8,6 6,2 Ansiedade 55,4 32,3 7 5,3 Sintomas de estresse 28,5 36,5 24,5 10,5 Fonte: Adaptado de Jianbo Lai (2020). Como observa-se a partir da tabela 1, mais da metade dos médicos e enfermeiros que atuam na linha de frente do COVID-19 apresentam sintomas de depressão e estresse acima da normalidade (LAI et al., 2020). Com isso, é inegável a necessidade de medidas de intervenção para auxiliar essa classe profissional a lidar com a pressão gerada pelo COVID-19 e, assim, evitar esses efeitos tão nocivos para a saúde desses indivíduos (OLIVEIRA, 2020; SAIDEL, 2020). Isto posto, fica evidente a importância do espaço para escuta desses profissionais, tanto a fim de compreender as reais necessidades deles, quanto promover o bem-estar psicológico (FARIAS et al., 2020; MOREIRA, 2020). Além disso, é necessária, também, uma atenção maior ao campo de ação, para assegurar as condições de trabalho nos âmbitos da carga horária e do oferecimento de equipamentos de proteção (HELIOTERIO et al., 2020; SAIDEL, 2020). CONSIDERAÇÕES FINAIS Em suma, são notórias as consequências do COVID-19 para os profissionais da área da saúde. Essa classe tem enfrentado uma pressão psicológica muito maior com o surgimento do coronavírus, acarretando altos níveis de estresse e sintomas depressivos. É essencial, portanto, o combate a esses efeitos, através de apoio psicossocial, promovendo um espaço de escuta para esses indivíduos, e do oferecimento de uma atenção mais efetiva quanto as condições de trabalho. Dessa maneira, será possível obter uma melhora significativa nos níveis de estresse emocional desses profissionais. REFERÊNCIAS FARIAS, V. E. et al. Os profissionais de enfermagem merecem mais que aplausos. Enfermagem em Foco, v. 11, n. 1, p. 92-94, especial, 2020. BERMÚDEZ, Genny-Paola. Enfermería y COVID-19: reconocimiento de la profesión en tiempos de adversidad. Revista Colombiana de Enfermería, v. 19, n. 1, p. 1-4, 2020. HELIOTERIO, M. C. et al. Covid-19: Por que a proteção de trabalhadores e trabalhadoras da saúde é prioritária no combate à pandemia? Trabalho, educação e saúde, v. 18, n. 3, p. 1-13, 2020. HUMEREZ, D. C. et al. Saúde mental dos profissionais de enfermagem do Brasil no contexto da pandemia COVID-19: ação do Conselho Federal de Enfermagem. Cogitare Enfermagem, v. 25, 2020. LOURENÇÃO, L. G. A COVID-19 e os desafios para o sistema e os profissionais de saúde. Enfermagem em Foco, v. 11, n.1, 2020. MEDEIROS, E. A. S. A luta dos profissionais de saúde no enfrentamento da COVID-19. Acta Paul. Enferm., v. 33, 2020. MIRANDA, F. M. D. et al. Condições de trabalho e o impacto na saúde dos profissionais de enfermagem frente a COVID-19. Cogitare Enfermagem, v. 25, 2020. OLIVEIRA, E. N. Projeto vida em quarentena: estratégia para promoção da saúde mental de enfermeiros diante da COVID-19. Enfermagem em Foco, v. 11, n.1, p. 162-167, 2020. PEREIRA, M. D. Sofrimento emocional dos Enfermeiros no contexto hospitalar frente à pandemia de COVID-19. Research, Society and Development, v. 9, n. 8, junho, 2020. SAIDEL, M. G. B. Intervenções em saúde mental para profissionais de saúde frente a pandemia de Coronavírus. Revista Enfermagem UERJ, Rio de Janeiro, v. 28, 2020. LAI, J. et al. Factors Associated With Mental Health Outcomes Among Health CareWorkers Exposed to Coronavirus Disease 2019. JAMA Network Open, v. 3, março, 2020. MOREIRA, A. S. Apoio psicossocial e saúde mental dos profissionais de enfermagem no combate à COVID-19. Enfermagem em Foco, v. 11, n.1, p. 155-161, 2020.