REANALISANDO OS ACERVOS ARQUEOLÓGICOS ÓRFÃOS: A COLEÇÃO DA MISSÃO SAN IGNACIO MINI (1610-1631) NO MUSEU PARANAENSE
Resumo
Muitas coleções arqueológicas, em vários museus no Brasil e no mundo, são legados do desenvolvimento da disciplina durante o século XX. Essas coleções, chamadas órfãs, possuem poucas informações sobre os contextos arqueológicos e os métodos de escavação utilizados. Os métodos tradicionais de análise não são completamente apropriados aos desafios e as possibilidades oferecidas por essas coleções arqueológicas. Em vez de uma representação apenas dos eventos ou das sociedades relacionados aos artefatos, podemos abordar tais coleções como histórias de vida que incluem a memória de pesquisadores e as metodologias relativas às escavações, a curadoria dos materiais em museus, e os métodos de análise usados pelos arqueólogos no presente. Nesta pesquisa será discutido um acervo decorrente de escavações arqueológicas, na missão jesuítica San Ignacio Mini, desenvolvidas em 1963, o qual será usado como estudo de caso para considerar os desafios e as inovações relacionados aos acervos arqueológicos em museus. A missão, que existiu no vale do rio Paranapanema entre 1610 e 1631, foi uma das primeiras missões espanholas na Província do Guairá. A coleção, sob guarda do Museu Paranaense, localizado em Curitiba, Sul do Brasil, inclui materiais líticos e cerâmicos e poucos documentos sobre a escavação e a análise de artefatos realizada pelo arqueólogo Oldemar Blasi, um dos pioneiros da arqueologia paranaense e diretor do Museu Paranaense entre 1967 e 1983. Como uma coleção isolada, as interpretações sobre a missão são de difícil alcance; por outro lado, quando comparada a outras coleções, pode ser ampliada a compreensão da vida cotidiana na missão. Ainda, a reanálise dessa coleção deve auxiliar na incorporação de metodologias inovadoras que possam ser usadas na interpretação das sociedades no passado, na reconstrução de processos de curadoria nos museus, e também na apresentação destas coleções nos museus.