dc.description.abstract | Em um contexto de extrema morosidade no processo de identificação e delimitação de Terras Indígenas, muitos coletivos do grupo indígena Mbyá-Guarani são forçados a viver em espaços pouco ou nada condizentes com o seu sistema cultural. Assim, hoje grande parte dos Mbyá-Guarani do Rio Grande do Sul, que deveria estar habitando matas ricas em biodiversidade, se encontra confinada em beiras de estradas ou em aldeias minúsculas, sem as condições necessárias para a sua sobrevivência física e cultural. Os Mbyá-Guarani têm lutado muito para modificar esse quadro que lhes é completamente desfavorável, mas, paradoxalmente, também buscam, nos processos de retomada territorial, áreas completamente degradadas em termos ambientais e/ou ocupadas por monoculturas, como a de eucalipto. E apontam tais terras como necessárias para o seu modo de ser. Discutir essa aparente incongruência é o principal objetivo do trabalho aqui proposto. Ocorre que, mesmo nessas condições inóspitas, os Mbyá-Guarani realizam o manejo ambiental e recuperam ambientalmente as áreas que ocupam. Tal manejo, que tem se mostrado muito eficaz, é conduzido segundo os preceitos sócio-cosmológicos do grupo e constitui o próprio jeito de ser Mbyá-Guarani. Posto isso, dentro da presente proposição também pretendo, com base em pesquisas etnográficas realizadas entre 2008 e 2017 em várias aldeias do Rio Grande do Sul, analisar a concepção dos Mbyá-Guarani sobre os ambientes que eles habitam e os que eles idealmente deveriam habitar. Justaposto a isso, será necessário detalhar os aspectos sócio-cosmológicos acionados para o manejo ambiental e a recuperação das áreas ocupadas, bem como discutir as implicações práticas e simbólicas da implementação de tais estratégias para a sua reprodução física e cultural. | |