Cuidar é coisa de mulher? : gênero e cuidado na pandemia de Covid-19
Resumo
Resumo: A pandemia de COVID-19 teve início no ano de 2020 e gerou grandes mudanças em âmbito mundial. A crise provocada pelo vírus não foi apenas sanitária, mas também social, econômica e política. Considerando esse cenário, o presente trabalho possui como objetivo discutir a feminização do cuidado na pandemia do COVID-19. Para isso, utilizamos a fenomenologia crítica e o conceito de situação definido por Simone de Beauvoir. Como forma de ouvirmos as mulheres e suas vivências no período da pandemia, utilizamos vídeos no YouTube do período de março a agosto de 2020, nos quais são compartilhadas experiências e vivência durante esse período. Para a análise desses vídeos, adotamos como método análise a fenomenologia, suspendendo quaisquer pré-concepções sobre a vivência das mulheres no período da pandemia, e assim percebemos que o fenômeno da feminização do cuidado se desvelava como relevante no contexto da experiência daquelas mulheres. A partir dessa análise, observamos que a feminização do cuidado já estava presente na situação das mulheres mesmo antes, no período pré-pandêmico, mas se intensificou durante a crise sanitária. Isso quer dizer que, mesmo antes da pandemia, o ser-cuidadora se apresenta como um destino natural para as mulheres no mundo patriarcal, limitando suas possibilidades de agentes no mundo. O cuidado parece justificar a existência delas, de modo que seus projetos existenciais frequentemente se desdobram da premissa do ser-cuidadora. O cuidado relaciona-se, portanto, aos espaços atribuídos às mulheres na sociedade, o espaço doméstico, a maternidade e o trabalho, sendo que trabalhos que demandam algum tipo de cuidado são considerados femininos. Nesse contexto, é como se elas nascessem com o "dom" do cuidado, e suas práticas profissionais parecessem perder o qualquer aspecto técnico que poderiam ter. Dessa forma, notamos que num momento de pandemia, elas acabam ocupando a linha de frente no enfrentamento a COVID-19, como cuidadoras de toda ordem. O ser-cuidadora pode limitar os movimentos transcendentais das mulheres, limitando sua possibilidade de existir, de modo que, diante das normas do que é ser mulher, a sua situação é composta por relações de poder e opressão que as inferiorizam. Concluímos então que durante a pandemia do COVID-19 as mulheres vivenciaram maiores riscos a suas vidas, além de sobrecarga pela demanda de cuidado, acentuando as limitações dos seus movimentos e projetos existenciais. Abstract: The COVID-19 pandemic began in 2020 and generated changes in the whole world. The crisis caused by the coronavirus was not only sanitary but also social, economical, and political. Before this scenario, the present project aims to discuss the feminization of caregiving in the context of the COVID-19 pandemic. Therefore, we use critical phenomenology and Simone de Beauvoir's concept of situation. To listen to women and their lived experiences during the pandemic, we used YouTube videos from March to August 2020, in which they talked about their experiences. We adopted the phenomenological method to analyze those videos, bracketing preconceptions about women's lived experiences during the pandemic. Thus, we realized that the phenomenon of care feminization was relevant to revealing those women's experiences. From this analysis, we observe that the feminization of caring was already present in the situation of women in the pre-pandemic period; however, it intensified during the sanitary crisis. It means that even before the pandemic, being-a-caregiver was a natural destiny for women in the patriarchal society, limiting their possibilities as an agent in the world. Caregiving seems to justify their existence, so their existential projects often unfold from the premise of being-a-caregiver. Therefore, caregiving is related to spaces assigned to women in society, for example, the domestic space, motherhood, and work, where work that requires any type of care is considered female. In this context, it is like women were born with the "gift" of caring, and their professional practices seem to lose the technical aspect. In this way, we note that during the pandemic, women occupied the front line of COVID-19 as caregivers of all kinds. Being-a- caregiver may limit the transcendental directions of women, limiting their possibilities of existing. Hence, given the norms of what it means to be a woman, their situation is composed of power relations and oppression that make them subordinate. We conclude that during the COVID-19 pandemic, women experienced more significant risks to their lives, besides an overload due to the demand for caregiving, accentuating the limitations of their existential orientation and projects.
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