DROGA NAS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DE PESSOAS EM SITUAÇÃO DE RUA
Resumo
INTRODUÇÃO: O consumo de drogas é um fenômeno social antigo e complexo, sustenta várias opiniões no senso comum e produz inúmeras discussões no campo da justiça, das ciências sociais e da saúde. No Brasil a lei de drogas possui uma visão ambígua; atuando na manutenção da exclusão e no cárcere estigmatizando determinados grupos, tais como, as pessoas em situação de rua. Nesse sentido o objetivo deste trabalho foi apreender a estrutura e o conteúdo das representações sociais de pessoas em situação de rua sobre drogas. METODOLOGIA: Trata-se de recorte de pesquisa qualitativa fundamentada na Teoria das Representações Sociais que categoriza o objeto, as pessoas, define núcleos centrais de ideias, posicionando num conjunto de justificativas que tenham alguma afinidade, com 158 pessoas em situação de rua vinculadas ao Centro de Atenção Psicossocial em álcool e outras drogas, localizado no Centro Histórico de Salvador-Ba. Nesse trabalho foram analisadas as justificativas para as evocações sinalizadas mais importantes, para os/as participantes, com o termo indutor “drogas”, coletadas a partir do Teste de Associação Livre de Palavras. O corpus das justificativas foi processado pelo software IRAMUTEQ, com base na classificação hierárquica descendente que resultou na conformação de quatro classes: a classe 1 (35%) os termos: vida, usar, ter; classe 2 (32,%) os termos: ficar, levar, porquê; classe 3 (17%) gente, depois, pensar; classe 4 (16%) causa, sociedade, mata, droga. RESULTADOS: A primeira classe semântica evidencia que a droga faz parte da vida, produzindo algumas consequências devido o uso, responsabilizando a capacidade de autocontrole. Os termos na segunda classe semântica indicam que a droga leva as pessoas a rupturas afetivas e sociais. Na terceira classe semântica revelam que o uso de drogas é uma prática comum e coletiva. Na composição da quarta classe apontam o uso de drogas submetida a uma imagem social discriminatória. DISCUSSÃO: Diferentes fatores levam os sujeitos à rua, dentre eles, o uso de drogas. E para o grupo estudado, o motivo da utilização relaciona-se com as estratégias de socialização e sobrevivência, não sendo preponderante para levar à situação de rua. As justificativas apontam para uma vida sem garantia e acesso aos direitos sociais, constituindo-se assim como sujeitos a margem de uma sociedade excludente e estigmatizadora, restando para esses a fuga através das drogas, mesmo que suas representações associem esse uso a destruição e coisa ruim. CONCLUSÃO: Os dados sinalizam a droga como um elemento da humanidade, gerado pela sociedade, mas causador de danos individuais e sociais. Seu uso por pessoas em situação de rua pode constituir uma estratégia de socialização e sobrevivência. Considerando que as representações interferem nas práticas diárias, espera-se que a produção desse trabalho possa contribuir para reflexões sobre as políticas públicas voltadas para a temática.