Uma vida em três tempos : os exílios de Octávio Brandão (1931-1980)
Resumo
Resumo: Octavio Brandão Rego (1896-1980) foi seguramente um dos intelectuais mais atuantes e polêmicos da esquerda comunista brasileira e do Partido Comunista Brasileiro da primeira metade do século XX. Fez parte da primeira geração de comunistas no Brasil, responsável por difundir o pensamento marxista e, igualmente, por elaborar as estratégias da revolução de esquerda, notabilizando-se como um dos intelectuais mais combativos daquela geração. Devido à notoriedade como militante e teórico político, acabou sendo preso diversas vezes, até ser deportado em 1931 para a Europa, onde permaneceu até 1946. Em seu exílio político, teve de lidar com as angústias inerentes à condição em que se encontrava. Por outro lado, esse banimento também oportunizou ao intelectual entrar em contato com importantes lideranças políticas do centro mundial da ideologia socialista e apreender novos referenciais culturais. Nessas condições, pôde repensar vários aspectos sobre o seu passado como dirigente do movimento operário e idealizador da revolução brasileira. No que concerne ao sentimento de isolamento interior, sustentamos a tese de que essa forma de exclusão foi ainda mais angustiante que a anterior: a tensão constante com os camaradas pecebistas fez com que experimentasse uma sensação de exclusão, sentimento que foi se cristalizado em suas memórias conforme foi envelhecendo, provocando uma profunda sensação de isolamento interior. Diante disso, passou a erguer para si uma espécie de refúgio interno, a fim de preservar sua identidade e, ao mesmo tempo, resistir ao isolamento a que foi relegado. Atualmente, sua memória circula de forma restrita entre alguns poucos grupos de pesquisadores acadêmicos; a maior parte de seus escritos ainda permanecem inéditos, à espera de editores interessados em publicálos. É, portanto, figura pouco analisada na historiografia marxista; seu nome raramente é citado nas cerimônias que rememoram os personagens importantes do partido. Enfim, nesse processo tenso entre a memória oficial do PCB e pessoal de Brandão, a presente tese prioriza as memórias que foram atravessadas pela experiência do exílio político e, sobretudo, pelo sentimento de isolamento interior, ou exílio metafísico, em relação à Internacional e ao PCB. Dentro dessa perspectiva de análise, procuramos apreender o processo de construção da memória pelo exilado intelectual a partir da utilização de suas construções narrativas: escritos autobiográficos, literários e políticos e, como forma de analisar esses documentos, recorremos às concepções conceituais da categoria da memória e da história intelectual Abstract: Octavio Brandão Rego (1896-1980) was certainly one of the most active and controversial intellectuals on the Brazilian communist left and in the Brazilian Communist Party in the first half of the 20th century. He was part of the first generation of communists in Brazil, responsible for spreading Marxist thought and also for drawing up the strategies of the left-wing revolution, making him one of the most combative intellectuals of that generation. Due to his notoriety as a political activist and theoretician, he ended up being arrested several times, until he was deported to Europe in 1931, where he remained until 1946. In his political exile, he had to deal with the anguish inherent in his condition. On the other hand, this banishment also gave the intellectual the opportunity to come into contact with important political leaders from the world center of socialist ideology and to learn new cultural references. Under these conditions, he was able to rethink various aspects of his past as a leader of the workers' movement and creator of the Brazilian revolution. With regard to the feeling of inner isolation, we support the thesis that this form of exclusion was even more distressing than the previous one: the constant tension with the Pecebista comrades made him experience a feeling of exclusion, a feeling that crystallized in his memories as he grew older, causing a deep sense of inner isolation. Faced with this, he began to build himself a kind of internal refuge in order to preserve his identity and, at the same time, resist the isolation to which he was relegated. Today, his memoir circulates in a restricted way among a few groups of academic researchers; most of his writings remain unpublished, waiting for publishers interested in publishing them. He is, therefore, a little-analyzed figure in Marxist historiography; his name is rarely mentioned in the ceremonies that commemorate the party's important figures. Finally, in this tense process between the official memory of the PCB and Brandão's personal memory, this thesis prioritizes the memories that were crossed by the experience of political exile and, above all, by the feeling of inner isolation, or metaphysical exile, in relation to the International and the PCB. Within this perspective of analysis, we seek to understand the process of memory construction by the intellectual exile through the use of his narrative constructions: autobiographical, literary and political writings and, as a way of analyzing these documents, we resort to the conceptual conceptions of the category of memory and intellectual history.
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- Teses [155]