Diversidade alimentar, consumo de ultraprocessados e seus determinantes em pacientes em hemodiálise

Abstract

Resumo: A diversidade alimentar é uma medida qualitativa do consumo alimentar que reflete a qualidade da dieta. Ultraprocessados são formulações industriais prontas para consumo, acrescidas de substâncias de uso exclusivo da indústria. Ambos foram pouco explorados em pacientes em diálise. O objetivo deste trabalho foi avaliar a diversidade alimentar e o consumo de ultraprocessados e seus determinantes em pacientes em hemodiálise (HD), comparando a diferença entre os dias com e sem HD e a relação com parâmetros bioquímicos. Estudo multicêntrico com pacientes em HD de sete unidades de diálise do Sul do Brasil. Foram aplicados dois questionários alimentares simplificados validados para população brasileira, sobre o consumo no dia anterior de 13 subgrupos de alimentos cada. Um para avaliar a diversidade alimentar com subgrupos de alimentos in natura e minimamente processados (grupo 1 da classificação NOVA) e outro sobre consumo de alimentos ultraprocessados, (grupo 4 da classificação NOVA). Os questionários foram aplicados em dois momentos um para avaliar o dia em tratamento dialítico (entrevista por telefone) e outro sem tratamento dialítico (entrevista durante o tratamento). A pontuação da diversidade e dos ultraprocessados foi obtida pela soma das respostas afirmativas de consumo no dia anterior à entrevista de algum alimento de cada subgrupo (escore total de zero a treze). A média dos dois dias foi calculada para obtenção dos escores de diversidade e de ultraprocessados e as medianas foram utilizadas para dividir a amostra em dois grupos. Variáveis demográficas, clínicas e exames laboratoriais foram obtidas dos prontuários. As análises de regressão múltipla incluíram as variáveis com p<0,1 nas análises univariadas. A avaliação dos determinantes da hiperfosfatemia foi ajustada para confundidores. Foram incluídos 297 pacientes (idade: 52,1±14,1 anos; 57,9% homens; tempo em hemodiálise 38 (18-86) meses; IMC: 25,3 (23-28,5 kg/m2), 42% com hiperfosfatemia. A mediana do escore da diversidade foi 6 (4,5-7), e do escore de ultraprocessados foi 2,5 (2-4). Não houve diferença no escore da diversidade alimentar entre os dias com e sem diálise e o escore de ultraprocessados foi maior no dia com tratamento. Na análise univariada, participantes que consumiram maior diversidade alimentar (escore > 6) eram mais velhos e estavam menos tempo em diálise, tinham fósforo sérico menor e menor prevalência de hiperfosfatemia. Participantes que consumiram mais alimentos ultraprocessados (escore > 2,5) eram mais novos, tinham fósforo sérico maior, maior prevalência de hiperfosfatemia e maior ganho de peso interdialítico. Na regressão múltipla logística os determinantes da maior diversidade alimentar foram idade mais avançada, menor tempo de diálise e não ter obesidade. Do maior consumo de ultraprocessados foram ser homem, menor idade e ter obesidade. Menor diversidade alimentar e maior consumo de ultraprocessados foram fatores de risco independentes da hiperfosfatemia. O consumo de ultraprocessados foi maior no dia com HD. A diversidade alimentar foi influenciada pela idade, tempo em diálise e estado nutricional enquanto o consumo de ultraprocessados pela idade, sexo e estado nutricional. Participantes que consumiram maior diversidade de alimentos in natura e minimamente processados e menor consumo de ultraprocessados apresentaram menor chance de hiperfosfatemia.

Abstract: Dietary diversity is a qualitative measure of food consumption that reflects the quality of the diet. Ultra-processed products are ready-to-consume industrial formulations, added with substances for exclusive use by the industry. Both have been little explored in dialysis patients. The objective of this study was to evaluate dietary diversity and the consumption of ultra-processed foods and their determinants in patients on hemodialysis (HD), to compare the differences between days with and without HD treatment, and their relationship with biochemical parameters. Multicenter study that included chronic HD patients from seven Southern Brazil dialysis units. Two simplified food questionnaires validated for the Brazilian population were applied, covering the previous day's consumption of 13 food subgroups each. One evaluated dietary diversity with subgroups of fresh and minimally processed foods (group 1 of the NOVA classification), and the other assessed the consumption of ultra-processed foods (group 4 of the NOVA classification). The questionnaires were applied in two moments, one to evaluate the day on dialysis treatment (telephone interview) and the other without dialysis treatment (interview during treatment). The diversity and ultra-processed food scores were obtained by summing the affirmative responses regarding consumption on the day before the interview of any food from each subgroup (total score from zero to thirteen). The average of the two days was calculated to obtain the diversity and ultra-processed scores, and the medians were used to divide the sample into two groups. Demographic, clinical variables, and laboratory tests were obtained from medical records. Multiple regression analyses included variables with p<0.1 in univariate analyses. The associations with hyperphosphatemia were adjusted for confounders. Results: 297 patients were included (age: 52.1±14.1 years; 57.9% men; time on hemodialysis 38 (18-86) months; BMI: 25.3 (23-28.5 kg/m2), 42% with hyperphosphatemia. The median diversity score was 6 (4.5-7), and the ultra-processed score was 2.5 (2-4). without dialysis, and the ultra-processed score was higher on the day with treatment. In the univariate analysis, participants who consumed greater dietary diversity (score > 6) were older, had been on dialysis for less time, and had lower serum phosphorus and a lower prevalence of hyperphosphatemia. Participants who consumed more ultraprocessed foods (score > 2.5) were younger, had higher serum phosphorus, higher prevalence of hyperphosphatemia, and higher interdialytic weight gain. In multiple logistic regression, the determinants of greater dietary diversity were older age, shorter dialysis time, and not being obese. The determinants of higher consumption of ultra-processed foods were being male, younger, and obese. Lower dietary diversity and higher consumption of ultra-processed foods were independent risk factors for hyperphosphatemia. The consumption of ultra-processed foods was higher on the day with dialysis treatment. Dietary diversity was influenced by age, time on dialysis, and nutritional status, while the consumption of ultra-processed foods was influenced by age, sex, and nutritional status. Participants who consumed a greater variety of fresh and minimally processed foods and had a lower consumption of ultra-processed foods had a lower chance of hyperphosphatemia.