Festas feiras de sementes crioulas : construção de práxis reterritorializadoras de resistência pela vida e pela sobrevivência alimentar

Abstract

Resumo: A agricultura rural apresenta-se condicionada e afetada pelo contexto capitalista que dita como devem ser as relações de produção e consumo, excluindo as diversidades e as heterogeneidades que existem/resistem ao modelo de agricultura voltado para monoculturas, agronegócio e estruturado em commodities, sob controle de grandes empresas que colocam em risco a natureza e a sociedade, bem como, agricultores e agricultoras familiares, comunidades tradicionais, indígenas, quilombolas, povos da floresta e das águas. As sementes possuem um papel fundamental na vida do ser humano há milhares de anos, responsáveis pela alimentação. Navegando sobre estudos sobre Festas Feiras de Sementes Crioulas percebeu-se que eles ressaltam diversos conjuntos de ações na construção coletiva pelas redes formadas e estabelecidas, sendo as feiras de sementes possibilidades de levar a participação e conscientização da sociedade. No entanto, embora os debates reconheciam as feiras de sementes como elemento fortalecedor em diversos contextos e ações, as discussões sobre território e os movimentos de/do/no/pelo território não foram amplamente e abordadas a partir das feiras de sementes crioulas. Nesta pesquisa, pergunta-se: teriam os sujeitos sociais a partir das feiras de sementes crioulas condições de construir práxis reterritorializadoras de resistência? Como objetivo geral deste trabalho, pretendeu-se analisar como se constitui os espaços que as feiras de sementes crioulas ocupam e como contribuem em práxis reterritorializadoras de resistência nos territórios que transitam. Os objetivos específicos são: discorrer sobre o processo de apropriação e usos das sementes pelos sistemas modernos de agricultura, a fim de proporcionar reflexões sobre a mercantilização das sementes, o monopólio de bens da natureza e apropriação da agrobiodiversidade; compreender como os espaços das feiras de sementes crioulas se constituem pela capacidade dos sujeitos de construir práxis de resistência nesses espaços; analisar as práxis reterritorializadoras de resistência nos espaços das feiras de sementes crioulas nos territórios que transitam. A importância das sementes crioulas, sua conservação e reprodução é fundamental para a vida deste planeta, transcendem os limites do mercado e ganham uma dimensão vital de sobrevivência alimentar. A relação entre as sementes crioulas e a decolonialidade ganham sentido, quando em análise a própria concepção de território, do espaço que as feiras ocupam das feiras de sementes como lugar (visão ontológica biocêntrica). As sementes crioulas guardadas, repassadas, trocadas e cultivadas visam o fortalecimento da agroecologia em um movimento reterritorializador pela semente dentro dos espaços das Festas Feiras das Sementes Crioulas. Ao mesmo tempo, transcendem a eles, são resistências a um modelo de agricultura que utiliza sementes transgênicas e que desconsidera as diversidades, heterogeneidades e pluridiversidades. As Festas Feiras de Sementes Crioulas emergem como espaços de celebração e de comemoração, de encontros e de reencontros. Possibilitam diálogo e funcionam como locais estratégicos de reinvidicação e união para a busca da autonomia dos povos indígenas, comunidades quilombolas, caiçaras e faxinalenses e para famílias agricultoras e guardiãs de sementes. As práxis dos sujeitos são possibilidades mobilizadoras de ações, luta e resistência nas suas variadas relações no/do/de e pelo território, sendo elas materiais e imaterias. O espaço vivido está no cotidiano e da construção coletiva, é nesse agir que está a resistência. As Festas Feiras de Sementes Crioulas realizadas dentro das comunidades tradicionais possuem uma relevância diferenciada. As realizadas fora desses territórios possuem como foco o diálogo, a partilha, a comercialização e trocas de sementes. Contudo, nos dois movimentos, as feiras proporcionam um espaço para lidar com os desafios e as dificuldades compartilhadas e, principalmente, para promover e oportunizar o encontro dos povos da terra e da água com o objetivo e intuito de fortalecer e a oportunizar a autonomia e a visibilidade. O Direito da Natureza é reinvidicado.

Abstract: Rural agriculture is conditioned and affected by the capitalist context that dictates how production and consumption relations should be, excluding the diversities and heterogeneities that exist/resist the agricultural model focused on monocultures, agribusiness and structured in commodities, under control of large companies that put nature and society at risk, as well as family farmers, traditional communities, indigenous people, quilombolas, forest and water peoples. Seeds have played a fundamental role in human life for thousands of years, responsible for food. Browsing studies on Crioula Seed Fairs Festivals, it was noticed that they highlight different sets of actions in the collective construction by the networks formed and established, with seed fairs being possibilities to bring participation and awareness to society. However, although the debates recognized seed fairs as a strengthening element in different contexts and actions, discussions about territory and movements of/from/in/through the territory were not widely addressed from Creole seed fairs. In this research, the question is: would the social subjects from the Creole seed fairs be able to build re-territorializing praxis of resistance? The general objective of this work was to analyze how the spaces occupied by Creole seed fairs are constituted and how they contribute to re-territorializing praxis of resistance in the territories they pass through. The specific objectives are: to discuss the process of appropriation and uses of seeds by modern agricultural systems, in order to provide reflections on the commodification of seeds, the monopoly of natural goods and the appropriation of agrobiodiversity; understand how the spaces of Creole seed fairs are constituted by the capacity of subjects to build praxis of resistance in these spaces; analyze the re-territorializing praxis of resistance in the spaces of Creole seed fairs in the territories they transit. The importance of native seeds, their conservation and reproduction is fundamental to the life of this planet, they transcend the limits of the market and gain a vital dimension of food survival. The relationship between Creole seeds and decoloniality makes sense when analyzing the very conception of territory, the space that seed fairs occupy as a place (biocentric ontological vision). The Creole seeds saved, passed on, exchanged and cultivated aim to strengthen agroecology in a re-territorializing movement for the seed within the spaces of the Creole Seed Fair Festivals. At the same time, they transcend them, they are resistance to an agricultural model that uses transgenic seeds and that disregards diversities, heterogeneities and pluridiversities. The Crioula Seed Fairs emerge as spaces for celebration and commemoration, for meetings and reunions. They enable dialogue and function as strategic places of demand and union for the search for autonomy for indigenous peoples, quilombola, caiçara and faxinalense communities and for farming families and seed guardians. The subjects' praxis are mobilizing possibilities for actions, struggle and resistance in their varied relationships in/of/of and through the territory, both material and immaterial. The lived space is in everyday life and collective construction, it is in this action that resistance lies. The Creole Seed Fair Festivals held within traditional communities have a different relevance. Those carried out outside these territories focus on dialogue, sharing, commercialization and exchange of seeds. However, in both movements, fairs provide a space to deal with shared challenges and difficulties and, mainly, to promote and provide opportunities for the meeting of peoples of land and water with the objective and intention of strengthening and providing opportunities for autonomy and visibility. The Law of Nature is claimed.