História do transtorno de estresse pós-traumático por violência sexual e terapia de aceitação e compromisso como alternativa de intervenção
Resumo
Resumo: A violência sexual foi associada ao aumento de risco e gravidade de várias psicopatologias, com associações fortes para Transtorno de Estresse Pós-Traumático (TEPT). O TEPT, enquanto diagnóstico, foi incluído apenas na terceira edição do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-III), em 1980. No entanto, sua história é mais antiga e há séculos se reconhece os efeitos do trauma psicológico nos indivíduos. Atualmente, as intervenções psicológicas indicadas para o tratamento do TEPT são abordagens cognitivas e baseadas em exposição, embora estudos indiquem altas taxas de abandono desses tratamentos, com porcentagem variando de 30% a 68%. Evidências preliminares sugerem que a Terapia de Aceitação e Compromisso (ACT) é uma intervenção potencialmente eficaz para o TEPT. No entanto, até o momento deste estudo, não foram encontradas revisões sistemáticas sobre intervenções de ACT em sobreviventes de violência sexual. Este trabalho busca apresentar possíveis relações entre violência sexual e TEPT, e sintetizar a literatura disponível sobre intervenções em ACT com sobreviventes de violência sexual. Para isso, essa dissertação foi dividida em dois estudos. O primeiro, intitulado "História do TEPT e Evolução das Menções à Violência Sexual em Edições do DSM", oferece um panorama da compreensão de trauma psicológico a partir do século XIX até seus desdobramentos em categorias diagnósticas de TEPT e TEPT Complexo; e apresenta as diferentes menções à violência sexual nos textos de TEPT do DSM-III ao DSM-5-TR. Discute-se que a violência sexual foi especialmente obscurecida durante a história do trauma psicológico, além de ter tido um tratamento diferente, se comparado a outros traumas. Há um aumento das menções à violência sexual do DSM-III ao DSM-5-TR, que incorporou exemplos mais específicos de eventos traumáticos sexuais, além de acrescentar formas mais "invisíveis" na nossa sociedade, o que pode facilitar sua identificação em vítimas. O segundo estudo, intitulado "Intervenções em ACT com Sobreviventes de Violência Sexual: Uma Revisão Sistemática" realizou uma revisão sistemática nas bases PTSDpubs, PsycINFO, Embase, Web of Science e PubMed, além do periódico Journal of Contextual Behavioral Science, para estudos publicados até junho de 2023. Foram incluídos sete estudos, sendo um estudo de caso único, duas séries de casos e quatro estudos de caso, totalizando 11 participantes. O TEPT foi a psicopatologia mais frequente da amostra: oito participantes preencheram o diagnóstico para TEPT; uma participante foi descrita com "sintomas de TEPT"; e um participante com histórico de participação em tratamento de TEPT para veteranos. Os oito participantes com diagnóstico de TEPT tinham comorbidades com outras condições. Por conta do pequeno número da amostra e por não serem estudos controlados, não é possível afirmar a eficácia da ACT nesta população. No entanto, os resultados sugerem que ela pode ser uma intervenção útil e segura, o que contribui para a literatura sobre o tema. Por fim, foram discutidos pontos críticos que exigem atenção por parte dos terapeutas, tais como considerar a violência sexual em casos de psicopatologias e de comorbidades, e ajudar clientes na identificação e reconhecimento deste tipo de violência. Abstract: Sexual violence has been associated with increased risk and severity of various psychopathologies, with strong associations for Posttraumatic Stress Disorder (PTSD). PTSD, as a diagnosis, was only included in the third edition of the Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders (DSM-III) in 1980. However, its history is older, and the effects of psychological trauma on individuals have been recognized for centuries. Currently, the psychological interventions indicated for the treatment of PTSD are cognitive and exposurebased approaches, although studies indicate high dropout rates from these treatments, with percentages ranging from 30% to 68%. Preliminary evidence suggests that Acceptance and Commitment Therapy (ACT) is a potentially effective intervention for PTSD. However, at the time of this study, no systematic reviews were found on ACT interventions for survivors of sexual violence. This work seeks to present possible relationships between sexual violence and PTSD, and to synthesize the available literature on ACT interventions with survivors of sexual violence. To this end, this dissertation was divided into two studies. The first, entitled "History of PTSD and Evolution of Mentions of Sexual Violence in DSM Editions", offers an overview of the understanding of psychological trauma from the 19th century to its development into the diagnostic categories of PTSD and Complex PTSD; and presents the different mentions of sexual violence in PTSD texts from DSM-III to DSM-5-TR. It discusses the fact that sexual violence has been particularly obscured during the history of psychological trauma, as well as being treated differently compared to other traumas. There has been an increase in mentions of sexual violence from the DSM-III to the DSM-5-TR, which has incorporated more specific examples of sexual traumatic events, as well as added forms that are more "invisible" in our society, which may make it easier to identify in victims. The second study, entitled "ACT Interventions with Survivors of Sexual Violence: A Systematic Review", carried out a systematic review in the PTSDpubs, PsycINFO, Embase, Web of Science and PubMed databases, as well as the Journal of Contextual Behavioral Science, for studies published until June 2023. Seven studies were included, including a single case study, two case series and four case studies, totaling 11 participants. PTSD was the most frequent psychopathology in the sample: eight participants met the diagnosis for PTSD; one participant was described with "PTSD symptoms"; and one participant had a history of participation in PTSD treatment for veterans. The eight participants diagnosed with PTSD had comorbidities with other conditions. Due to the small sample size and the fact that these were not controlled studies, it is not possible to affirm the efficacy of ACT in this population. However, the results suggest that it can be a useful and safe intervention, which contributes to the literature on the subject. Finally, critical points were discussed that require attention from therapists, such as considering sexual violence in cases of psychopathologies and comorbidities, and helping clients to identify and recognize this type of violence.
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