Epidemiologia e carga de doença de pacientes que necessitam de cuidados neurocríticos : um estudo de coorte multicêntrico brasileiro

Abstract

Resumo: As doenças neurológicas são altamente prevalentes e impõem uma carga substancial aos pacientes. Este estudo teve como objetivo descrever uma coorte completa de pacientes neurocríticos e estratificados com base nos diagnósticos neurológicos primários e identificar preditores de mortalidade e desfechos desfavoráveis, juntamente com a carga de doença de cada condição na admissão em Unidade de Terapia Intensiva (UTI). Foi realizado um estudo de coorte prospectivo que incluiu consecutivamente pacientes neurológicos admitidos em 36 UTIs de quatro regiões brasileiras e que acompanhados por 30 dias ou até o desfecho da UTI. Dos 4245 pacientes admitidos nas UTIs participantes, 1194 (28,1%) eram neurocríticos e foram incluídos na coorte. Os pacientes neurocríticos apresentaram uma taxa de mortalidade 1,7 vezes maior do que os não neurocríticos (17,21% versus 10,1%, respectivamente). Os diagnósticos neurológicos primários mais frequentes na admissão na UTI foram cuidados pós-operatórios de neurocirurgia eletiva, traumatismo cranioencefálico, acidente vascular cerebral isquêmico e encefalopatia. Idade avançada, admissão de emergência, maior número de possíveis lesões secundárias e piores escores APACHE II, SAPS III, SOFA e Glasgow na admissão na UTI foram preditores independentes de mortalidade e de desfecho desfavorável. O total estimado de anos de vida ajustados por incapacidade (DALY) foi de 4482,94 na coorte geral de pacientes neurocríticos e o diagnóstico neurológico com o maior DALY foi lesão cerebral traumática (1634,42). Os DALYs relativos às desordens neurocríticas foram significativamente impactados pelo diagnóstico neurológico primário, sexo, faixa etária e número de lesões neurológicas secundárias dos pacientes. Descrevemos com maior precisão a epidemiologia de pacientes neurocríticos e estimamos sua carga geral e relativa de doença. Os achados deste estudo são essenciais para orientar as políticas de educação, prevenção e tratamento dos pacientes com doenças neurocríticas graves.

Abstract: Acute neurological emergencies are highly prevalent in intensive care units (ICUs) and impose a substantial burden on patients. This study aims to describe the epidemiology of patients requiring neurocritical care in Brazil, and their differences based on primary acute neurological diagnoses and to identify predictors of mortality and unfavourable outcomes, along with the disease burden of each condition at intensive care unit admission. This prospective cohort study included patients requiring neurocritical care admitted to 36 ICUs in four Brazilian regions who were followed for 30 days or until ICU discharge (Aug-Sep in 2018, 1 month). Of 4245 patients admitted to the participating ICUs, 1194 (28.1%) were patients with acute neurological disorders requiring neurocritical care and were included. Patients requiring neurocritical care had a mean mortality rate 1.7 times higher than ICU patients not requiring neurocritical care (17.21% versus 10.1%, respectively). Older age, emergency admission, higher number of potential secondary injuries, and worse APACHE II, SAPS III, SOFA, and Glasgow coma scale scores on ICU admission are independent predictors of mortality and poor outcome among patients with acute neurological diagnoses. The estimated total DALYs were 4482.94 in the overall cohort, and the diagnosis with the highest DALYs was traumatic brain injury (1634.42). Clinical, epidemiological, treatment, and ICU outcome characteristics vary according to the primary neurologic diagnosis. Advanced age, a lower GCS score and a higher number of potential secondary injuries are independent predictors of mortality and unfavourable outcomes in patients requiring neurocritical care. The findings of this study are essential to guide education policies, prevention, and treatment of severe acute neurocritical diseases.