Selva oscura : o potencial modulante da realidade que excede a percepção humana direta

Abstract

Resumo : Este é o memorial de composição da peça Vishnu, cuja forma baseia-se na recombinação de seus elementos constitutivos e é inspirada num aprofundamento das relações entre música e tempo. O foco repousa sobre a natureza cognitiva da habilidade musical como derivada do fenômeno do tempo. Para atender a isso o conceito de permanência do objeto de Jean Piaget, junto das inferências de Santo Agostinho quanto à percepção do tempo e a passagem de Platão sobre a selva oscura são abordados na discussão. Assim, a composição Vishnu, inspirada no mito védico, aparece como uma instância objetiva dessas ideias discutidas. A peça é composta de maneira a evitar a repetição ao ser reinterpretada através de alterações efetivadas em sua organização. Obtiveram-se três resultados: uma proposta ontológica a partir da música, uma forma musical chamada forma combinatória, que a cada interpretação resulta numa variedade limitada de representações possíveis e uma poética pessoal chamada Sagrado Profano, que, pela inevitabilidade da geração de algo no âmbito do ser, resulta em objetos possibilitados pelas condições do meio em que foram produzidos

Abstract : This is a report of the process of composing a musical piece, Vishnu, whose form is based on the recombination of its constitutive elements and is inspired by the relationship between music and time. Its focus is on the cognitive nature of musical ability as it stems from temporal phenomena. In order to do so, Jean Piaget’s concept of object permanence, together with Saint Augustin’s inferences about the perception of time and a passage by Plato about the selva oscura, are taken together in the discussion. This way, the composition Vishnu, inspired by the Vedic myth, is presented as a possible objective instance of the ideas discussed. The piece was composed so as to avoid repetition at each performance by means of changes effected in its organization. Three results were obtained: an ontological proposition developed from music, a musical form called combinatory form, in which each interpretation results in a limited variety of possible representations and a personal poetic that I call Sagrado Profano (Sacred Profane), which, because of the inevitability of generation of something in the realm of being, results in objects made possible by the conditions of the environment in which they were produced