Avaliação da anatomia de raízes e canais radiculares de molares inferiores decíduos por meio de microtomografia computadorizada

Abstract

Resumo: É frequente a demanda de tratamento endodôntico em pacientes pediátricos, em decorrência de extensas lesões de cárie ou traumas. Para alcançar sucesso na terapia, predicados técnicos devem ser embasados cientificamente, considerando a configuração da anatomia interna dos dentes decíduos, que por vezes, especialmente nos molares, podem apresentar uma complexa morfologia. Diferentes métodos têm sido utilizados para o estudo da anatomia dental, sendo a microtomografia computadorizada (Micro CT), uma técnica extremamente acurada para essa finalidade, oferecendo como vantagens ser uma técnica não destrutiva da amostra que possibilita análises tridimensionais de imagens com alta resolução. No entanto, a literatura ainda é escassa quanto as características tridimensionais dos canais radiculares de segundos molares inferiores decíduos, não havendo estudos microtomográficos com um grande número de amostras. O presente estudo teve como objetivo, analisar por meio da microtomografia computadorizada, a anatomia radicular mesial de segundos molares inferiores decíduos. Foram selecionados 100 segundos molares decíduos inferiores que se apresentaram sem tratamento endodôntico prévio, com a junção esmalte-cemento (JEC) presente, dos quais o nível de reabsorção radicular da raiz mesial fosse mínima possível, não excedendo 1/3 do comprimento da raiz. Os espécimes foram escaneados utilizando um microtomógrafo computadorizado de alta resolução Skyscan 1172 aplicando a resolução isotrópica de 16,82 ?m. As imagens obtidas foram reconstruídas com o software NRecon e posteriormente analisadas com os softwares CTAn, CTVol e DataViewer quanto aos seguintes parâmetros: maior e menor diâmetro do canal, grau de circularidade e espessura dentinária em 4 segmentos da raiz (apical, médio, cervical e entrada de canais). O comprimento radicular e dos canais também foram mensurados bem como o padrão de configuração radicular. Os dados obtidos pelas diferentes avaliações foram submetidos aos testes de D'Agostino e Pearson para verificação da distribuição da normalidade, sendo então utilizados os testes de Kruskal- Wallis e Dunn, one way ANOVA e Tukey, para os conjuntos de dados que continham apenas 2 variáveis foi empregado o teste U de Mann- Whitney. Para todos os testes foi considerado o nível de significância de 5% (P < 0.05). Através das mensurações dos diâmetros vestíbulo-lingual e mésio-distal dos canais mésio-vestibular e mésio-lingual, os canais apresentaram um formato mais ovalado na maioria dos segmentos em decorrência da predominância do diâmetro vestíbulo-lingual ser maior em relação ao mésio-distal em todos os segmentos. A espessura da dentina foi semelhante entre as faces vestibular do canal mésio-vestibular e face lingual do canal mésiolingual com um aumento na direção ápico-cervical. O segmento apical mostrou as menores medianas para espessura de dentina (P < 0,05) em comparação com os outros segmentos para todas as medidas (V, L, M e D), tendo a menor espessura na face distal do canal mésio- lingual (face voltada para a região de furca) variando de 0.01 à 0.77 mm. O comprimento radicular avaliado demonstrou que em 54% da amostra, a raiz mesial se bifurcou no terço apical, enquanto que em 46% a raiz manteve-se fusionada desde o terço cervical até o apical, mesmo apresentanto dois canais mesiais distintos. Quando a raiz se dividiu no terço apical, em 83% das vezes a bifurcação vestibular foi maior que a lingual. Já em relação ao comprimento de ambos os canais, o canal mésio-vestibular apresentou mediana maior em relação ao mésio-lingual tendo como medida 9.72 mm e 8.68 mm para o canal mésio-lingual e obtiveram uma diferença estatística significante entre eles (P < 0.05). Em relação a configuração dos canais, foi observado a presença de 32 tipos de configurações, tendo a mais prevalente (20%) com dois canais distintos em todo o sentido ápico-coronal. Pode-se concluir que a anatomia dessa raiz é complexa e variável, apresentando canais de diâmetros amplos dificultando sua completa limpeza e áreas de espessura dentinária fina, tornando-a suscetível à riscos de perfurações ou fraturas, necessitando de instrumentos e técnicas adequadas para seu correto tratamento endodôntico.

Abstract: There is a frequent demand for endodontic treatment in pediatric patients, due to extensive caries lesions or trauma. To achieve success in therapy, technical predicates must be scientifically based, considering the configuration of the internal anatomy of deciduous teeth, which sometimes, especially in molars, can present a complex morphology. Different methods have been used for the study of dental anatomy, so the computerized microtomography (Micro-CT) is an extremely accurate technique for this purpose, offering the advantages of a non-destructive technique of the sample that allows three-dimensional analysis of images with high resolution. However, the literature is still scarce regarding the three-dimensional characteristics of the root canals of deciduous mandibular second molars, with no microtomographic studies with a significant number of samples. The present study aimed to analyze, using the Micro-CT, the mesial root anatomy of deciduous mandibular second molars. A total of 100 deciduous mandibular second molars were selected that presented without previous endodontic treatment, with the enamelcement junction (ECJ) present, of which the level of root resorption of the mesial root was the minimum possible, not exceeding 1/3 of the root length. The specimens were scanned using a Skyscan 1172 high resolution computed tomography scanner applying the isotropic resolution of 16.82 ?m. The images obtained were reconstructed with the NRecon software and then analyzed with the CTAn, CTVol and DataViewer software regarding the following parameters: largest and smallest canal diameter, degree of roundness and dentin thickness in 4 root segments (apical, medium, cervical and channel input). The root and canal lengths were also measured, as well as the root configuration pattern. The data obtained by the different evaluations were submitted to the D'Agostino and Pearson tests to evaluate the distribution of normality, then used the Kruskal- Wallis and Dunn tests, one way ANOVA and Tukey, for data sets that contained only 2 variables the Mann-Whitney test was used. For all tests, the significance level of 5% (P < 0.05) was considered. Through measurements of the buccolingual and mesiodistal diameters of the mesiobuccal and mesiolingual canals, the canals had a more oval shape in most segments due to the predominance of the buccolingual diameter being greater in relation to the mesiodistal diameter. in all segments. Dentin thickness was similar between the buccal aspect of the mesiobuccal canal and the lingual aspect of the mesiolingual canal with an increase in the apicalcervical direction. The apical segment showed the smallest medians for dentin thickness (P < 0.05) compared to the other segments for all measurements (V, L, M and D), having the smallest thickness on the distal surface of the mesiolingual canal (face facing the furcation region) ranging from 0.01 to 0.77. The evaluated root length showed that in 54% of the sample the mesial root bifurcated in some segment, while in 46% the root remained fused from the cervical to the apical third, even with two distinct mesial canals. When the root divided in the apical third, 83% of the time the mesiobuccal root was larger than the mesiolingual root. Regarding the length of both canals, the mesiobuccal canal had a higher median in relation to the mesiolingual canal, measuring 9.72 mm and 8.68 mm for the mesiolingual canal and obtained a statistically significant difference between them (P < 0.05). Regarding the configuration of the canals, the presence of 32 types of configurations was observed, with the most prevalent being two distinct canals in the apicalcoronal direction. It can be concluded that the anatomy of this root is complex and variable, presenting channels with larger diameters, making it difficult to completely clean and areas of thin dentin thickness, making it susceptible to the risk of perforations or fractures, requiring appropriate instruments and techniques for its correct endodontic treatment.