Comportamento social, relações de dominância e territorialidade em Alouatta caraya (Humboldt, 1812) na Ilha Mutum, Alto Rio Parana, Brasil
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Data
2009Autor
Miranda, João Marcelo Deliberador
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Os primatas do gênero Alouatta são os mais folívoros dentre os primatas
neotropicais. Essa dieta imprime aos bugios uma estratégia ecológica comportamental
minimizadora de gastos energéticos. O presente estudo foi realizado na Ilha Mutum, de
1050ha, no Alto Rio Paraná, Município de Porto Rico, região noroeste do estado do Paraná
(22°46’20"S e 53°16’01"W). A área de estudo está na Floresta Estacional Semidecidual
Aluvial e é formada por floresta primária alterada, mata ciliar e floresta secundária. A Ilha
Mutum apresenta uma das maiores densidades populacionais conhecidas para bugios.
Assim, objetivou-se neste trabalho analisar os comportamentos sociais de um grupo de
Alouatta caraya (Humboldt, 1812), as relações de dominância entre os indivíduos do
grupo, além de fazer uma análise de seus confrontos inter-grupais e de seus
comportamentos territoriais.
Os comportamentos sociais perfizeram apenas 3,4% dos registros de
comportamento, sendo realizados mais freqüentemente pela manhã e apresentaram uma
correlação positiva com os períodos de inatividade. As alo-catações são os
comportamentos sociais mais freqüentes, desempenham diversos papéis, desde
manutenção da estrutura social e hierarquia e como comportamento pré-copulatório. As
alo-catações foram emitidas em média mais pelas fêmeas adultas que pelas outras classes
sexo-etárias e foram em média mais recebidas pelos machos adultos. Os comportamentos
agonísticos foram em média mais emitidos pelos machos adultos e mais recebidos pelas
fêmeas. Os machos adultos foram os principais iniciadores de deslocamento com objetivo
de inatividade ou pernoite.
A análise de dominância pelo método da Árvore de Dominância Direcionada
mostrou uma estrutura social com uma dominância parcial, com duas linhagens de
dominância principais, uma iniciando no macho-a e outra na fêmea-a , sendo esses
indivíduos co-dominantes no grupo. Essa análise é baseada nas relações de agonismo entre
os indivíduos do grupo. Porém, outros comportamentos sociais como as alo-catações,
iniciar deslocamentos e a participação em comportamentos sexuais foram correlacionadas
aos comportamentos agonísticos, corroborando essa estrutura hierárquica. O
direcionamento dos agonismos mostra um sistema onde existe uma competição distinta
dentro de cada sexo, o que é esperado em uma estrutura social onde não há uma forte
filopatria em nenhum dos sexos.
Foi observada uma alta taxa de confrontos inter-grupais, que foram bem
distribuídas durante o ano. O macho-a foi o principal protagonista nos confrontos,
contando também com a presença do outro macho adulto do grupo e da fêmea-a. A parte
"vencedora" da díade vencedor/perdedor de cada confronto teve a tendência para
apresentar superioridade numérica de indivíduos adultos. Por outro lado a parte
"perdedora" da díade apresentou tendência para uma superioridade numérica em número
de indivíduos imaturos. O número de machos adultos foi o que mais influenciou o
resultado dos embates. O grupo de estudo apresentou uma área de vida de 5 ha com uma
área de uso exclusivo. O Índice de Defendibilidade do grupo de estudo foi igual a 2,23, o
que mostra a possibilidade de visitar suas fronteiras mais de uma vez por dia. O grupo
parece defender sua área expulsando os indivíduos/grupos invasores e evitando sua
entrada. O grupo apresentou alterações na distribuição horária de suas atividades em
períodos de sentinela em locais de embates evitando novas invasões. Além disso, após
vencer outros confrontos, o grupo percorreu todo o limite de sua área de vida, talvez
patrulhando sua área. Howler monkeys (genus Alouatta) are the most folivorous neotropical primates.
This diet causes howlers to have the behavioral strategy of minimization of energetic
expenditures. This study was carried out on Mutum Island (1050 há) in the Upper Paraná
River, near the town of Porto Rico, in northeastern Paraná, in southern Brazil (22°46’20"S
e 53°16’01"W). The study area is semideciduous seasonally flooded forest, with altered
primary, riparian and secondary forests. Howler population density on Mutum Island is
among the greatest known. Here, we analyze social behavior of a group of Alouatta caraya
(Humboldt, 1812), including dominance relationships and confrontations between groups
and territorial behavior.
Social behaviors comprise 3.4% of all behaviors and are carried out more often in
the morning and are positively correlated with periods without activity. Allogrooming is
the most frequent behaivor and has several roles, from maintenance of social structure and
hierarchy to preparation for copulation. Allo-grooming is initiated more by adult females
than other sex-age classes, and were directed mostly towards adult males. Agonstic
behaviors were most often initiated by adult males and directed towards females. Adult
males initiated movement with resting or roosting as the goal.
Directed Dominance Tree analysis found a social structure with partial dominance
of two lineages. One, the a-male and the other, the a-female, were codominants. This
analysis is based on agonistic relationships between individuals. Nonetheless, other social
behaviors, such as allo-grooming, movement initiation and sexual behaviors, were
correlated with agonistic behaviors and supported this hierarchical structure. Agonistic
interactions were directed in such a way that shows distinct, within sex competition, which
is expected when there is no strong philopatry in either sex.
Inter-group confrontations were common throughout the year. The a-male was the
main protagonist in confrontations, along with the participation of the other male and the
a-female. The "winner" in each "winner/loser" dyad usually was the group with the larger
number of adults (especially males) participating in the confrontation. On the other hand,
the "loser" often had a greater number of immatures. The study group occupied a home
range of 5 ha with an area of exclusive use. The Defendibility Index was 2.23, which
indicates that they visit their borders more than once per day. The group appears to defend
its area by forcing other groups or individuals to flee and by avoiding intrusion. The group
divided its hourly activity patterns with periods of guarding at places where confrontations
occurred, perhaps to avoid new intrusions. Additionally, after winning a confrontation, the
group traveled along the entire border of its home range, perhaps patroling against other
intrusions.
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