Em busca da Yvy Marãey : caminhadas Mbyá Guarani à beira do oceano e os sentidos da Oguatá Porã
Resumo
Resumo: Essa pesquisa resulta do Trabalho de Conclusão de Curso em Gestão Ambiental da primeira autora e foi desenvolvida no Laboratório de Interculturalidade de Diversidade do Setor Litoral da Universidade Federal do Paraná. Trata-se de estudo de coletividades Mbya Guarani e sua relação com a Mata Atlântica, focalizando caminhadas em direção à porção litoral do seu território, que se estende pela Argentina, Paraguai, Uruguai e, no Brasil, nos estados do Espírito Santo, São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Busca-se compreender as motivações das caminhadas em direção ao litoral, referidas na literatura como "caminhadas a beira do oceano", "caminhar para o bem", "belo caminhar", Oguata Porã. Alguns autores focalizam trajetos e espaços (LADEIRA, 2007), o modo e a poética do andar (FREITAS, 2016), a mitologia que orienta o caminhar (CADOGAN, 1992). Nos mitos de criação e destruição do mundo, tais caminhadas são motivadas pela crença de que, no andar em direção ao mar, a pessoa Mbyá pode alcançar a terra sem males e transpor o mal que envolve a vida nessa terra. A oguatá porã é guiada por Nhanderu-xi, pai-mãe verdadeiros, revelada nos sonhos ou visões. Na literatura, a terra sem males, lugar de Nhanderu (Nhanderu retã), se encontra depois do mar, sendo o litoral, incluindo as ilhas, local privilegiado para o acesso a yvy marãey, considerado espaço dos escolhidos. O nhandereko (modo correto de ser e viver) é fundamentado pela espiritualidade e praticado no cumprimento de preceitos, interligando mito e mundo, desde tempos imemoriais. Nessa perspectiva, a pesquisa busca avançar na compreensão dos sentidos contemporâneos da oguatá porã, rumo a yvy marãey, no contexto do litoral do Paraná, a partir do diálogo com uma interlocutora Mbyá Guarani, Juliana Kerexu, cacique da aldeia/tekoa Taquaty, em Paranaguá na Ilha da Cotinga, que se compreende nesse percurso em busca da terra sem males.