Entre ciência e filosofia : uma leitura de 'A estrutura do comportamento' de Merleau-Ponty

Abstract

Resumo: O objetivo desta dissertação é compreender como Maurice Merleau-Ponty estabelece um diálogo entre ciência e filosofia em seu primeiro livro, A estrutura do comportamento (1942). Apresentamos, por esse motivo, uma leitura aprofundada da primeira obra de Merleau-Ponty, visando compreender seu contexto de redação e, também, sua situação na história dos problemas filosóficos abordados nela. Nos momentos oportunos, cotejamos o texto de Merleau-Ponty com suas outras obras, bem como com trabalhos de especialistas no autor. No livro mencionado, Merleau-Ponty retrabalha o tema husserliano da crise das ciências e esboça uma solução distinta da operada por Edmund Husserl. O estado do saber das ciências de sua época permite que Merleau-Ponty retome e reinterprete os problemas filosóficos clássicos das relações entre a Consciência e a Natureza e das relações entre a Alma e o Corpo. A partir da noção de comportamento - neutra em relação à distinção entre psíquico e fisiológico - e por intermédio da noção de forma, Merleau-Ponty busca, de um lado, refutar o realismo e naturalismo científicos, que, de modo geral, compreendem o organismo e a consciência como produtos do meio e como simples acontecimentos na natureza. De outro lado, o filósofo francês também visa preparar o solo de sua crítica ao idealismo e intelectualismo filosóficos presente em seu segundo livro, Fenomenologia da percepção (1945). Veremos que, somada ao abandono do pensamento causal em prol do pensamento dialético, a análise filosófica da noção de forma oferece um meio de distinguir e, ao mesmo tempo, unificar Consciência e Natureza sem reduzir um dos termos ao outro.

Abstract: The aim of this dissertation is to understand how Maurice Merleau-Ponty establishes a dialogue between science and philosophy in his first book, The Structure of Behavior (1942). For this reason, we present an in-depth reading of Merleau-Ponty's first work, aiming at understanding its writing context and its situation in the history of the philosophical problems it examines. At the appropriate moments, we compare Merleau- Ponty's text with his other works, as well as with works by specialists on the author. In the mentioned book, Merleau-Ponty reworks the Husserlian theme of the crisis of the cciences and outlines a solution distinct from the one operated by Edmund Husserl. The state of scientific knowledge of his time allows Merleau-Ponty to take up again and reinterpret the classical philosophical problems of the relations between Consciousness and Nature and the relations between Mind and Body. Starting from the notion of behavior - neutral in regards to the distinction between psychic and physiological - and through the notion of form, Merleau-Ponty seeks, on the one hand, to refute scientific realism and naturalism, which, in general, understand the organism and consciousness as products of the environment and as simple events in nature. On the other hand, the French philosopher also aims to prepare the ground for his critique of philosophical idealism and intellectualism present in his second book, Phenomenology of Perception (1945). We will see that, added to the abandonment of causal thinking in favor of dialectical thinking, the philosophical analysis of the notion of form offers a means of distinguishing and, at the same time, unifying Consciousness and Nature without reducing one of the terms to the other.

Resumé: Le but de ce mémoire est de comprendre comment Maurice Merleau-Ponty établit un dialogue entre science et philosophie dans son premier livre, La structure du comportement (1942). C'est pourquoi nous présentons une lecture approfondie du premier ouvrage de Merleau-Ponty, afin de comprendre son contexte d'écriture et, également, sa situation dans l'histoire des problèmes philosophiques qui y sont abordés. Aux moments opportuns, nous collationnons le texte de Merleau-Ponty avec ses autres ouvrages, ainsi qu'avec les travaux des spécialistes de l'auteur. Dans le livre mentionné, Merleau-Ponty retravaille le thème husserlien de la crise des sciences et il esquisse une solution distincte de celle opérée par Edmund Husserl. L'état du savoir des sciences de son époque permet à Merleau-Ponty de reprendre et de réinterpréter les problèmes philosophiques classiques des rapports entre la Conscience et la Nature et des relations entre l'Âme et le Corps. À partir de la notion de comportement - neutre à l'égard de la distinction du psychique et du physiologique - et à travers la notion de forme, Merleau- Ponty cherche, d'un côté, réfuter le réalisme et le naturalisme scientifiques que, en général, comprennent l'organisme et la conscience comme de produits du milieu et comme de simples événements dans la nature. De l'autre côté, le philosophe français vise aussi préparer le sol de sa critique de l'idéalisme et de l'intellectualisme philosophiques présent dans son deuxième livre, Phénoménologie de la perception (1945). Nous verrons que, ajoutée à l'abandon de la pensée causale au profit de la pensée dialectique, l'analyse philosophique de la notion de forme offre un moyen de distinguer et, à la fois, unifier Conscience et Nature sans réduire l'un des termes à l'autre.