"Novamente você não me trata como sua filha, mas como sua inimiga" : gênero, relações familiares e linguagem emocional em cartas do Egito Romano (séculos III e IV da era comum)
Resumo
Resumo: A presente tese analisa a utilização de linguagem afetiva em narrativas epistolares trocadas por familiares do Egito Romano (séculos III e IV da era comum), refletindo sobre as posições sociais e culturais ocupadas por homens e mulheres neste contexto. Para tal, foram selecionadas 25 cartas em papiros, de âmbito privado, em que os seguintes pontos foram considerados: recorte cronológico, existência de relações familiares e expressões consideradas emotivas. Desta maneira, uma discussão pautada na interdisciplinaridade foi realizada, estabelecendo uma análise tanto da História da Família quanto da materialidade da documentação selecionada. O contexto de descoberta desta documentação e a formação do campo de estudos da Papirologia também foram problematizados. Apresentamos as traduções dos papiros e, das 25 cartas, 19 foram divididas em quatro categorias: questões legais, questões econômicas, afetividades e ressentimentos, e saúde. Analisamos como os recortes elencados podem ser pensados a partir do uso de uma linguagem afetiva, ou seja, de determinadas estruturas textuais que evocam emoção. As outras 6 cartas, pertencentes ao Arquivo de Ploutogenia e Paniskos, foram analisadas em conjunto. Pudemos observar que a utilização da linguagem afetiva estava interligada a uma perspectiva de gênero e de funções sociais generificadas dentro da família, que poderiam ser reforçadas ou rearticuladas. Com a análise de uma seleção de cartas de um mesmo grupo, observamos de que maneira a linguagem emotiva também opera naquilo que é não dito, ou seja, nos silêncios que se estabelecem e são elencados pelos remetentes das cartas. A partir destas análises, pudemos observar que os membros utilizam a linguagem afetiva para resguardar seus interesses e provocar certos tipos de reação em seus destinatários, deslocando determinadas posições dentro da família e demonstrando como as experiências da Antiguidade são plurais. Abstract: The aim of this thesis is to analyze the use of affective language in letters exchanged between family members from Roman Egypt (III and IV century CE). Twenty-five private papyri letters were selected as main evidence, in which I considered: adhesion to the chronology, family relationships, and emotional expressions. Based on interdisciplinary approach I focused the analysis on History of the Family and the materiality of the selected papyri. The context of discovery of this evidence and the formation of the field of studies of Papyrology were also questioned. I also provided the translation of the papyri to turn them accessible for brazialian audience. From 25 letters, 19 were divided into four categories: legal issues, economic issues, affections and resentments, health. The other six letters, belonging to the Ploutogenia and Paniskos Archive, were analyzed together. This methodology provided me a new way to understand the use of affective language: it was linked to gendered social functions within the family, which could have been reinforced or rearticulated. From the Ploutogenia e Paniskos Archive,I observed how emotional language also operates in silences - not writing back, for example. To conclude, I argue that family members use affective language to protect their interests and provoke certain types of reaction in their recipients, displacing certain positions within the family and demonstrating how experiences of Antiquity are plural.
Collections
- Teses [150]