Territorialidades do sagrado : os jesuítas na Província do Paraguai e nas reduções do Guairá no início do século XVII

Abstract

Resumo: O Guairá Jesuíta foi um território criado pelos missionários da Companhia de Jesus dentro da Província Jesuíta do Paraguai nas primeiras décadas do século XVII. Os padres atuaram junto das populações indígenas Guaranis, Camperos, Gualachos e Guañanas, com o objetivo de convertê-las ao cristianismo e com isso fundar reduções. Esses espaços surgiam a partir da aliança firmada pelos jesuítas com as lideranças indígenas para que vivessem juntos em uma mesma forma de povoamento, com os missionários coordenando o cotidiano e a vida dos grupos batizados. A redução reordenava o espaço, alterando as formas de organização social, política e econômica dos povos nativos, sob a tutela dos padres. Porém, no Guairá viabilizar a estabilização de um território baseado nas redes de reduções não foi tarefa fácil, pois era um espaço ocupado por múltiplos grupos e por seus interesses. Dessa forma, os padres criaram um conjunto de ferramentas de ação frente a esses objetivos divergentes, fossem de colonos encomenderos, de lideranças xamânicas indígenas que atuaram em oposição aos missionários e até mesmo de outros agentes do contexto colonial como os sertanistas paulistas que atuavam na captura do gentio. Essas foram as territorialidades produzidas pela Companhia e exercidas tanto no campo concreto quanto no campo simbólico como forma de afirmar o seu poder no espaço e viabilizar a rede de reduções em um espaço fronteiriço. Padres como Antonio Ruiz de Montoya e José Cataldino atuaram para combater xamãs guaranis que fizeram frente aos missionários e seu domínio no campo simbólico, questionando o batismo, os costumes cristãos e a rotina dentro das reduções. Foi fundamental para a Companhia evitar que os indígenas convertidos seguissem esses homens, pois isso enfraqueceria as condições necessárias para a estabilidade das reduções. Essas ferramentas de controle do espaço foram registradas nas correspondências dos padres, onde é possível identificar as ambições perante a atuação dentro do contexto colonial.

Abstract: Guairá Jesuíta was a territory created by missionaries of the Society of Jesus within the Jesuit Province of Paraguay in the first decades of the 17th century. The priests worked with the Guarani, Camperos, Gualachos and Guañanas indigenous populations, with the aim of converting them to Christianity and thus founding reductions. These spaces emerged from the alliance signed by the Jesuits with indigenous leaders so that they could live together in the same form of settlement, with the missionaries coordinating the daily life of the baptized groups. The reduction reorganized the space, altering the forms of social, political and economic organization of the native people, under the tutelage of the priests. However, in Guairá, enabling the stabilization of a territory based on reduction networks was not an easy task, as it was a space occupied by multiple groups and their interests. In this way, the priests created a set of action tools in the face of these divergent objectives, whether from colonos encomenderos, indigenous shamanic leaders who acted in opposition to the missionaries and even other agents of the colonial context such as the sertanistas from São Paulo who acted in the capture of the gentile. These were the territorialities produced by the Company and exercised both in the concrete field and in the symbolic field as a way of asserting its power in space and enabling the network of reductions in a border space. Priests such as Antonio Ruiz de Montoya and José Cataldino acted to combat Guarani shamans who stood up to the missionaries and their dominance in the symbolic field, questioning baptism, Christian customs and the routine within the reductions. It was essential for the Company to prevent indigenous converts from following these men, as this would weaken the conditions necessary for the stability of the reductions. These space control tools were recorded in the priests' correspondence, where it is possible to identify the ambitions in the face of acting within the colonial context.