Misoginia, discurso de ódio e limites nas plataformas digitais : um estudo netnográfico em grupos abertos do Whatsapp
Resumo
Resumo: As mulheres ocupam um espaço de vulnerabilidade nas Plataformas Digitais e representam 68% das vítimas do discurso de ódio nesses ciberespaços. No contexto da Cibercultura, e diante da opacidade de suas regras e mecanismos de denúncia pouco transparentes, o WhatsApp, da empresa Meta, foi escolhido como objeto para responder à pergunta de pesquisa: "como o discurso de ódio contra a mulher se dá em grupos abertos de WhatsApp?". O objetivo geral éc ompreender as dinâmicas comunicacionais do discurso de ódio de gênero em grupos abertos no WhatsApp. E, para isso, foram elencados cinco objetivos específicos, que servem como guias para este trabalho. São eles: 1) compreender conceitos do discurso de ódio e da misoginia, em especial em ambientes digitais; 2) analisar os termos de uso, políticas e mecanismos de denúncia na gestão de conteúdo de discurso de ódio; 3) mapear, de forma sistematizada, grupos abertos no WhatsApp, como eles são criados, divulgados e utilizados pelos integrantes; 4) categorizar mensagens que contenham discurso de ódio de gênero em um grupo aberto de WhatsApp; e 5) entender o papel dos grupos de WhatsApp na disseminação de discurso de ódio contra as mulheres. Para atingir tais objetivos, foi adotada uma perspectiva netnográfica composta por um percurso metodológico que incluiu observação participante artificial em grupos do Facebook e do WhatsApp, Análise de Conteúdo de 127 mensagens extraídas de um grupo específico e entrevistas semiestruturadas com especialistas para validação dos dados. Também fazem parte da metodologia a construção do referencial teórico e a análise documental dos Termos de Serviço do WhatsApp. As mensagens com conteúdo de ódio foram classificadas em seis categorias que revelam comportamentos relacionados a: "Desumanização", "Ridicularização", "Assédio", "Silenciamento", "Ataque e Incitação à Violência" e "A Mulher Mais Próxima". Também foram observados discursos de ódio homofóbicos, transfóbicos e xenofóbicos, que compõe a cultura misógina dessas comunidades. Como contribuição, o trabalho demostra que as brechas nos Termos de Serviço da plataforma, o desconhecimento da existência desses contratos, e a falta de clareza nas sanções contribuem para as dinâmicas do discurso de ódio de gênero em grupos abertos brasileiros do WhatsApp. Ademais, traz um retrato da misoginia e do homem brasileiro e seu comportamento nesses espaços. Mostra o que é importante para ele, o que pode ser estigmatizado, o que é ofensivo e o que é tolerável. E coloca uma luz sobre a misoginia a partir de interações corriqueiras. Conclui-se que, em grupos abertos do WhatsApp, o discurso de ódio de gênero está baseado em relações de poder e subordinação, e quando destinado às mulheres busca determinar o comportamento delas a partir de uma construção colonial que traz prejuízos à democracia, à tolerância e à dignidade humana. Abstract: Women occupy a space of vulnerability on Digital Platforms and represent 68% of victims of hate speech in these cyberspaces. In the context of Cyberculture, and given the opacity of its rules and non-transparent reporting mechanisms, WhatsApp, from the company Meta, was chosen as the object to answer the research question: "how does hate speech against women occur in groups? WhatsApp open? The general objective is to understand the communicational dynamics of gender hate speech in open groups on WhatsApp. And, for that, five specific objectives were listed, which serve as guides for this work. They are: 1) understand concepts of hate speech and misogyny, especially in digital environments; 2) review the terms of use, policies and reporting mechanisms in the management of hate speech content; 3) systematically map open groups on WhatsApp, how they are created, disseminated and used by members; 4) categorize messages that contain gender hate speech in an open WhatsApp group; and 5) understand the role of WhatsApp groups in the spread of hate speech against women. To achieve these objectives, a netnographic perspective was adopted, consisting of a methodological approach that included artificial participant observation in Facebook and WhatsApp groups, Content Analysis of 127 messages extracted from a specific group and semi-structured interviews with experts for data validation. The construction of the theoretical framework and the documental analysis of the WhatsApp Terms of Service are also part of the methodology. Messages with hateful content were classified into six categories that reveal behaviors related to: "Dehumanization", "Ridiculation", "Harassment", "Silencing", "Attack and Incitement to Violence" and "The Closest Woman". Homophobic, transphobic andxenophobic hate speeches were also observed, which make up the misogynist culture of these communities. As a contribution, the work demonstrates that the breaches in the platform's Terms of Service, the ignorance of the existence of these contracts, and the lack of clarity in the sanctions contribute to the dynamics of gender hate speech in Brazilian open WhatsApp groups. In addition, it brings a portrait of misogyny and the Brazilian man and his behavior in these spaces. It shows what is important to him, what can be stigmatized, what is offensive and what is tolerable. And it sheds light on misogyny from everyday interactions. It is concluded that, in open WhatsApp groups, gender hate speech is based on relations of power and subordination, and when aimed at women, it seeks to determine their behavior from a colonial construction that harms democracy, tolerance and human dignity.
Collections
- Dissertações [165]