Tratamento farmacológico do transtorno de déficit de atenção e hiperatividade em crianças no Brasil : efetividade e consequências sobre o perfil emocional na vida adulta
Resumo
Resumo: O Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade, um dos transtornos psiquiátricos mais comuns entre crianças e adolescentes, é um problema de desenvolvimento predominante, e muitas vezes persistente, que se caracteriza por apresentar níveis incapacitantes e inadequados, de desatenção, hiperatividade e impulsividade, geralmente associado a déficits cognitivos e prejuízo de funções executivas e de noção de tempo. Além de estar associado com baixa performance acadêmica e dificuldade de aprendizado, os pacientes de TDAH costumam apresentar transtornos de ansiedade, desordens de comportamento disruptivo, transtornos depressivos e transtorno por uso de substâncias, como álcool, tabaco e drogas ilícitas. Entre as hipóteses para a patofisiologia do transtorno estão a hipofunção dopaminérgica em regiões corticais, límbicas e motoras, além do desbalanço entre os sistemas de inibição e ativação comportamentais. Seu tratamento farmacológico de primeira escolha é o metilfenidato, fármaco estimulante responsável pela inibição da recaptação de dopamina e noradrenalina. Ocorre que ele atua em áreas responsáveis por motivação e busca de recompensa, e não temos informações claras sobre o resultado dessa exposição a longo prazo. Para inferir sobre esses possíveis resultados, pedimos que voluntários, que estavam estudando, ou já haviam concluído, um curso de graduação, entre 18 e 30 anos, respondessem, de forma remota, questionários de triagem socioeconômica, histórico de diagnóstico de TDAH e tratamento farmacológico e histórico de diagnóstico de outros transtornos psiquiátricos e tratamento farmacológico, além dos testes psicométricos ASRS-18 e DASS-21. A partir das respostas separamos os participantes, inicialmente, em 114 do Grupo Controle, sem histórico de diagnóstico de TDAH, e 114 voluntários com diagnóstico de TDAH. Nossos resultados demonstraram que, dentro da população de pesquisa, o diagnóstico de TDAH parece ser fator de risco para redução de desempenho acadêmico, apesar de não afetar o engajamento em atividades econômicas, além de estar associado a outros transtornos psiquiátricos, e necessidade de tratamento farmacológico para esses tratamentos, mas surpreendentemente não se relacionava com a frequência de consumo de álcool. Depois separamos os participantes diagnosticados com TDAH em 3 grupos, os sem histórico de tratamento farmacológico para o transtorno, os que estavam recebendo o tratamento farmacológico ao longo da pesquisa, e os que já não recebiam mais tratamento farmacológico durante a pesquisa. Os resultados não apontaram diferença na intensidade de sintomas de TDAH entre os grupos, o mesmo foi observado com a ocorrência de outros transtornos psiquiátricos e intensidade de sintomas de depressão, ansiedade e estresse. Contudo, a intensidade dos sintomas de TDAH parece ter interferido na intensidade de sintomas de depressão e ansiedade, assim como o tratamento farmacológico para TDAH se relacionou com o tratamento farmacológico para outros transtornos. Concluímos, diante da análise dos nossos resultados e da literatura disponível, que o metilfenidato não representou risco para a saúde mental dos nossos participantes, além de oferecer, com limitações, segurança contra ocorrência de comorbidades psiquiátricas e redução dos sintomas de TDAH. Abstract: Attention Deficit Hyperactivity Disorder, one of the most common psychiatric disorders among children and adolescents, is a prevalent and often persistent developmental problem, which is characterized by presenting disabling and inadequate levels of inattention, hyperactivity and impulsivity, generally associated with cognitive deficits and impairment of executive functions and the notion of time. In addition to being associated with poor academic performance and learning difficulties, ADHD patients often have anxiety disorders, disruptive behaviour disorders, depressive disorders, and substance use disorder such as alcohol, tobacco, and illicit drugs. Among the hypotheses for the pathophysiology of the disorder are the dopaminergic hypofunction in cortical, limbic and motor regions, in addition to the imbalance between the systems of inhibition and behavioural activation. Its first-choice pharmacological treatment is methylphenidate, a stimulant drug responsible for inhibiting the reuptake of dopamine and norepinephrine. It so happens that he works in areas responsible for motivation and the search for reward, and we do not have clear information about the result of this long-term exposure. To infer about these possible results, we asked volunteers, who were studying, or had already completed, an undergraduate course, between 18 and 30 years old, to remotely answer socioeconomic screening questionnaires, history of ADHD diagnosis and pharmacological treatment and a history of diagnosis of other psychiatric disorders and pharmacological treatment, in addition to the ASRS-18 and DASS-21 psychometric tests. Based on the answers, we initially separated the participants into 114 of the Control Group, without a history of ADHD diagnosis, and 114 volunteers with a diagnosis of ADHD. Our results showed that, within the research population, the diagnosis of ADHD seems to be a risk factor for reduced academic performance, despite not affecting the engagement in economic activities, in addition to being associated with other psychiatric disorders, and the need for pharmacological treatment for these treatments, but surprisingly it did not relate to the frequency of alcohol consumption. We then separated participants diagnosed with ADHD into 3 groups, those with no history of pharmacological treatment for the disorder, those who were receiving pharmacological treatment throughout the research, and those who no longer received pharmacological treatment during the research. The results showed no difference in the intensity of ADHD symptoms between the groups, the same was observed with the occurrence of other psychiatric disorders and intensity of symptoms of depression, anxiety and stress. However, the intensity of ADHD symptoms seems to have interfered with the intensity of depression and anxiety symptoms, just as pharmacological treatment for ADHD was related to pharmacological treatment for other disorders. Based on the analysis of our results and the available literature, we concluded that methylphenidate did not represent a risk to the mental health of our participants, in addition to offering, with limitations, security against the occurrence of psychiatric comorbidities and reduction of ADHD symptoms.
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