A gente é meio doutrinado : a experiência com a série Unidade Básica para mudar a educação médica
Resumo
Resumo: Historicamente, a formação médica no Brasil tem falhado em preparar profissionais generalistas que satisfaçam as demandas e necessidades da população. Por esse motivo, foram publicadas as diretrizes curriculares nacionais, que orientam como deve ser o perfil do egresso do curso de medicina. No entanto, ainda se veem problemas na organização dos projetos pedagógicos das instituições de ensino e não se dá a devida atenção ao papel do preceptor nos momentos finais e decisivos da graduação. Um dos autores deste artigo atua na preceptoria e utiliza a série televisiva Unidade Básica em discussões com estudantes de medicina, considerando que esta série rompe com o paradigma atual de representação da saúde na mídia. Assim, o objetivo deste trabalho foi identificar as percepções de estudantes de medicina sobre a série Unidade Básica, em contraste com as séries médicas tradicionais, analisando sua possibilidade de utilização para uma renovação na educação médica. Realizou-se uma pesquisa qualitativa e exploratória por meio de grupos focais, com posterior transcrição e análise segundo a hermenêutica ricoeuriana. Três grupos focais foram conduzidos, com duração média de 69 minutos e contando com a presença total de dezesseis estudantes, dos quais quinze passavam pelo internato em Medicina de Família e Comunidade. Evidenciou-se que Unidade Básica traz um retrato mais próximo de parte do Brasil, com a possibilidade de reconhecer aspectos exibidos em tela nas vivências reais do estágio na Atenção Básica. As falas trouxeram a percepção de que a discussão a partir da série facilita fixação de conteúdos e os torna mais leves e palpáveis, favorecendo os processos de aprendizagem. Notou-se um entendimento de que a graduação em medicina promove certa "doutrinação" ao sustentar o foco único do ensino nas questões biológicas e nas tecnologias duras, em detrimento das faces social e política da profissão médica. Neste cenário, a utilização da série Unidade Básica se apresenta como potencial ferramenta de mudança da educação médica, com repercussões positivas tanto no contexto específico da aprendizagem individual, quanto naquele mais amplo, de propiciar reflexão sobre o papel do docente e a realidade do ensino na saúde. Abstract: Historically, medical formation in Brazil has failed to prepare generalist professionals who fulfill people’s needs and demands. So, the national curricular guidelines were published, orienting how the medical graduate’s profile must be. However, there still are problems with teaching institutions’ syllabi organization, and the role of the preceptor in the final and decisive moments of the course does not get enough attention. One of this article’s authors works in preceptorship and uses the television series Basic Unit in discussions among medical students, given that this series breaks out the current paradigm of the representation of health by the media. Thus, this work’s goal is to identify medical students’ perceptions about the series Basic Unit, in contrast with traditional medical dramas, analyzing its potential usages for renewing medical education. Qualitative, exploratory research was conducted through online focal groups, following transcription and analysis according to Ricoeurian hermeneutics. Three focal groups were completed, with a mean duration of 69 minutes and the presence of sixteen students, fifteen of whom were undergoing the practical internship in Family and Community Medicine. It was shown that Basic Unit has a much closer portrait of part of Brazil, bringing the possibility of recognizing aspects exhibited on the screen within the real experiences of the internship in Primary Health Care. The speeches pointed out that discussion starting from the series eases content assimilation and makes it lighter and more palpable, favoring learning processes. It was noted an understanding that medical graduation promotes particular "indoctrination" by maintaining teaching’s sole focus on the biological side and hard technologies, despite the social and political faces of the medical profession. In this scenario, the use of Basic Unit is a potential tool for changing medical education, with positive effects both in the specific context of individual learning and in a broader one, of igniting reflection about the teacher’s role and the reality of teaching in health.
Collections
- Dissertações [27]