Arlequina em Aves de rapina : um novo quadro de referência em uma narrativa de super-heróis?
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Data
2022Autor
Barros, Caroline Kuviatkoski de, 1998-
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Resumo: Os filmes de super-heróis são produtos inseridos na lógica mainstream, que podem abarcar a criação, a manutenção e/ou a ruptura de estereótipos femininos. Embora pareçam produtos de entretenimento descomprometidos, tais obras incorporam discursos políticos e sociais e contribuem para a construção das representações de gênero e sexualidade. Compreendendo o cinema enquanto tecnologia de gênero e tendo como recorte empírico a personagem Arlequina, têm-se a seguinte questão de pesquisa: como a personagem Arlequina no filme Aves de Rapina negocia as condições de visibilidade e um possível novo quadro de referência em uma narrativa de super-herói? O objetivo geral é identificar as negociações de sentido que se dão na construção de um possível novo quadro de referência. Os objetivos específicos são: discutir o conceito de cinema de mulheres (LAURETIS, 1984) e problematizá-lo na experiência cinematográfica da representação feminina no filme em questão; identificar as negociações dos estereótipos de gênero na construção da personagem; e tensionar as negociações com a Jornada da Heroína enquanto protocolo metodológico. O aporte teórico engloba, sobretudo, Teresa de Lauretis (LAURETIS, 1984; 1987; 1994) para a discussão de tecnologia de gênero e cinema de mulheres, Claire Johnston sobre o contra-cinema (1973), além de Frédéric Martel (2013) em referência ao mainstream. A metodologia envolveu a identificação de cinco etapas da Jornada da Heroína (MURDOCK, 2013) no filme, bem como a seleção de cenas representativas de tais estágios. A análise das cenas foi feita com foco nos aspectos estético-verbais, por meio da transcrição dos diálogos. Em segundo plano, os figurinos e os cenários foram analisados enquanto aspectos estético-visuais, seguindo a proposição da Análise de Imagens em Movimento (ROSE, 2002). Os resultados apontam que o filme negocia sentidos sobre a representação feminina, ao mesmo tempo que reforça e rompe com estereótipos e com a Jornada da Heroína. Aves de Rapina sinaliza possibilidades da construção de um cinema de mulheres no universo de super-heróis. A obra pauta as subjetividades femininas por meio de uma jornada de autodescoberta, trazendo a protagonista como sujeito da ação e afastando-a de estereótipos ligados à passividade, à fragilidade e à dependência da figura masculina. Além disso, o filme ironiza e critica práticas do olhar masculino (MULVEY, 1983) no mainstream. Contudo, ainda existem elementos de objetificação e espetacularização da mulher, como a estetização da violência. Aves de Rapina também não empreende grandes rupturas no que se refere à representação da interseccionalidade, ao apagar a identidade bissexual de Arlequina e ao evidenciar uma protagonista branca, magra e cisgênero. À medida que a obra desconstrói, ainda que parcialmente, o cinema hegemônico, assistimos a um cinema de mulheres em processo de construção. Abstract: Superhero films are products inserted in the mainstream logic that encompass the creation, maintenance and/or rupture of female stereotypes. Although they may seem like uncompromising entertainment products, such works incorporate political and social discourses and contribute to the construction of the genre through their representations. In the superhero universe, Harley Quinn is one of the most popular villains/anti-heroines. Thus, the following research question arises: understanding cinema as a technology of gender, how does the character Harley Quinn in the movie Birds o f Prey negotiate the conditions of visibility and a possible new frame of reference in a superhero narrative? Therefore, the general objective is to identify the negotiations of meaning that take place in the construction of a possible new frame of reference. The specific objectives are: to discuss the concept of women's cinema (LAURETIS, 1984; 1987; 1994) and to problematize it in the cinematographic experience of female representation in superhero films; to identify the negotiations of gender stereotypes in the character construction; and tensioning negotiations with the Heroine's Journey as a methodological protocol. The theoretical contribution includes, above all, Teresa de Lauretis (1984) for the discussion of technology of gender and women's cinema, Claire Johnston on counter-cinema (1973) and Frédéric Martel (2013) in reference to the mainstream. The methodology involved the identification of five stages of the Heroine's Journey (MURDOCK, 2013) in the film, as well as the selection of representative scenes of such stages. The analysis of the scenes was carried out with a focus on the aesthetic-verbal aspects, through the transcription of the dialogues. In the background, the costumes and scenarios were analyzed as aesthetic-visual aspects, following the proposition of the Analysis of Moving Images (ROSE, 2002). The results show that the film negotiates meanings about female representation, and at the same time reinforces and breaks with stereotypes and with the Heroine's Journey. Birds o f Prey is an example of outlining the possibilities of building a women's cinema in the superhero universe. The work guides female subjectivities through a journey of self-discovery, bringing the protagonist as a subject of action and moving away from stereotypes linked to passivity, fragility and dependence on the male figure. In addition, the film mocks and criticizes practices of the male gaze in the mainstream. However, there are still elements of objectification and spectacularization of women, such as the aestheticization of violence. Birds o f Prey also does not undertake major ruptures regarding the representation of intersectionality, by erasing Harley Quinn's bisexual identity and highlighting a white, thin and cisgender protagonist. As the movie deconstructs, albeit partially, the hegemonic cinema, we watch a women's cinema in the process of construction.
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